terça-feira, 14 de janeiro de 2020

ABORDAGEM SOCIAL >> Samba-enredo da Mangueira mostra que Jesus não estaria ao lado da intolerância

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Eu sou da Estação Primeira de Nazaré  / Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher / Moleque pelintra no buraco quente / Meu nome é Jesus da gente

É dessa forma, em primeira pessoa, que o samba-enredo da Estação Primeira de Mangueira deste ano levará Jesus Cristo para a avenida. Com o título A Verdade vos Fará Livre, a composição provoca, mas foge do panfletário, ao colocar na letra uma verdade que parece tão óbvia e simples quanto esquecida: Cristo defendeu a igualdade, o fim da opressão, os pobres, desvalidos, julgados e criminalizados.
Após um 2019 de sucesso na Sapucaí, com um enredo que homenageava os esquecidos pela história brasileira, o espírito do barracão é taxativo: ninguém na comunidade duvida da força política do Carnaval. Manu da Cuíca, umas das compositoras por trás da narrativa poética que levou o título no ano passado, coloca novamente seu nome na história da escola.
em conversa com o Brasil de Fato, ela explica porquê usar a figura de Jesus Cristo em primeira pessoa, que tipo de sensibilidade buscou para contar a história de um personagem tão recorrente e evoca a esperança de que desmontes nas políticas culturais, opressão e esquecimento por parte do poder público não têm a capacidade de diminuir a força de uma das manifestações culturais basilares da sociedade brasileira – o carnaval.
“Se fala tanto em Cristo, mas onde ele estaria hoje? Onde ele teria nascido? Ele teria nascido pobre. Ele poderia ter nascido na Mangueira. Se ele tivesse nascido no Morro da Mangueira, como é que seria sua história? O que o estado faz em geral com os jovens moradores de favela?”
Nasci de peito aberto, de punho cerrado  
Meu pai carpinteiro desempregado

Minha mãe é Maria das Dores Brasil
Enxugo o suor de quem desce e sobe ladeira
Me encontro no amor que não encontra fronteira

Procura por mim nas fileiras contra a opressão
Durante a conversa, Manu expôs o comprometimento com que essas questões foram colocadas no samba-enredo, traduzido também em cuidado com a figura histórica e criatividade no enfoque.
“Jesus Cristo é uma figura muito cara para as pessoas, muito importante na história mundial. Não é fácil você falar de quem já foi falado tantas vezes.  A gente reforçou o que é de fato a história de Cristo. Cristo foi uma figura que nasceu pobre, lutou e se rebelou contra o estado e foi torturado e assassinado pelo estado. Foi uma pessoa que lutou pela inclusão e deu um sentido muito grande a palavra irmãos. A ideia de fraternidade e a ideia de partilha, que são ideias centrais na figura histórica de Cristo, a gente reforçou e colocou o samba em primeira pessoa, com uma ideia de pertencimento.”
Fonte: Brasil de Fato

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