Por Luana Paôla, professora de Geografia
Há
 algum tempo tenho percebido uma “onda” estética , no mínimo, muito 
original. Muitas mulheres (homens também) assumindo de vez seus cabelos 
(crespos, cacheados, ondulados, encaracolados, black powers). Essas 
pessoas desistiram de remar contra a maré, digo, resolveram desistir de 
lutar contra sua natureza e com muita coragem e ousadia assumem suas 
verdadeiras raízes e encorajam àqueles que estão na dúvida.
Recentemente
 li uma matéria que o título me chamou atenção, dizia mais ou menos 
assim: “5 motivos para ter cabelos cacheados”, resolvi então ler. Parei 
na primeira frase do primeiro parágrafo, pois a matéria começava falando
 que “assumir o cacheado está na moda!”. Não, meus caros, não acho que 
deva ser assim o caminho dessa discussão! Se assumir como é não é moda! 
As mulheres negras não estão na moda, os black powers não estão na moda.
 O que vejo, com muito bons olhos, é que essas pessoas, muito além de 
questão estética, estão adotando um posicionamento, sim, um 
posicionamento político. Essas pessoas estão dizendo não ao preconceito,
 não ao racismo, estão enfrentando uma sociedade em que se enquadra a um
 certo padrão de beleza que há bem pouco tempo não cabia às mulheres e 
homens negros.
A
 beleza inquisidora em que, se você não está dentro, te julga como 
“feia” (ser magra, cabelos impecavelmente lisos, cútis branca, alta 
estatura). Mas, a indústria dos cosméticos muito rapidamente soube 
reverter esse quadro aos que não estavam inseridos neles (mas não foi 
pela via mais fácil, em aceitar a diversidade e abrangência do que é 
belo, ao contrário), milhares de tratamentos capilares, alisamentos, 
escovas-sem-fim, com um único intuito: padronizar cada vez mais a 
“beleza” e tornar o cabelo mais cacheado, crespo, ondulado, em um cabelo
 liso!
Confesso
 que eu mesma, por muito tempo, me rendi a essas técnicas, usando 
produtos nada confiáveis a fim do resultado estabelecido (ora bolas, eu 
também queria ser bela!). E como eu, muitas e muitas mulheres, inclusive
 crianças, se submeteram aos mesmos tratamentos estéticos (já ouvi dizer
 que em tempos de falta de grana até o ferro de engomar roupas servem 
para dar um jeitinho no “cabelo rebelde”). Agora, como se sente a mulher
 que não se submete a essa padronização? Simplesmente ela é feia? E o 
que dizer do que tantas e tantas vezes ouvimos, e muitas vezes 
professamos, do que é o cabelo ruim? E chegando nessa ponto, eis o 
questionamento master: quem decide como irei usar meu cabelo? Alisar e 
ficar tranquila, pois agora sim, estou inserida na moda e nos padrões 
estéticos ou assumir de vez o meu cabelo, com seus cachos, volumes, 
ondas, totalmente fora dos padrões midiáticos que nos é massivamente 
imposto?
Não
 podemos simplesmente ignorar como é doloroso para alguém ouvir que seu 
cabelo é ruim, que “esse cabelo é à prova d’água”, ou, cantarolar por aí
 “nêga do cabelo duro, qual é o pente que te penteia”! Os tempos são 
outros, hoje em dia, avançamos muito nas discussões racistas, 
combatemos, ombro a ombro, todas as formas de opressão, e eis que surge 
esse movimento, de autoconfiança, de assumir suas raízes, e dizer: 
Querida, meu cabelo não é ruim, ruim é seu preconceito!
Com
 muito orgulho, venho me aprofundando nesse debate e chamo a todos que 
façam essa reflexão. Vivemos em uma sociedade extremamente consumista e 
cheia de preconceitos, inclusive, estéticos. E a estética, quando bem 
usada, é uma arma de rebeldia fantástica, capaz de chocar as pessoas e 
fazê-las refletirem. Em tempos de intelectuais das redes sociais, em que
 vemos um número maior de pessoas defendendo as minorias, refletir sobre
 os padrões estéticos como posicionamento rebelde e contrário aos 
padrões vigentes, realmente, é um ato rebelde e muito ousado!