Fernando Mineiro (PT) está contando as horas para assumir o mandato de deputado federal que 98.070 eleitores lhe confiaram em 2018. O Tribunal Regional Eleitoral pôs fim na sexta-feira (22) a uma novela que já se arrastava há mais dois anos. Com a confirmação do indeferimento da candidatura de Kéricles Alves Ribeiro, o Kerinho, a recontagem dos votos daquela eleição mudará a configuração da bancada federal. Sai Beto Rosado (PP) e assume o petista.
O acórdão está para ser publicado a qualquer momento no Diário Oficial e restará apenas um comunicado ao Congresso Nacional para receber o diploma em Natal e tomar posse em Brasília.
Nesta entrevista especial à agência Saiba Mais, Fernando Mineiro fala sobre o movimento criado por Justiça no Rio Grande do Norte que sensibilizou até eleitores anti-petistas e diz o que pensa sobre a eleição para a presidência da Câmara, as pautas que defenderá no Congresso e as que já fervem no plenário, a exemplo do impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro. Ele também avalia o governo Fátima, defende que o PT antecipe o debate sobre a reeleição da governadora e faz projeções sobre a Frente Ampla que pode derrotar o bolsonarismo em 2022.
Sobre a próxima eleição presidencial, Fernando Mineiro diz que apesar de gostar não acompanha futebol. Mas adianta que, se fosse o dono da bola, anteciparia uma única escalação: “Eu daria a camisa 10 a Luiz Inácio”, diz.
Confira a entrevista:
Agência Saiba Mais: Que avaliação você faz desse processo na Justiça Eleitoral que devolveu seu mandato depois de dois anos ? E a pergunta que está todo mundo se fazendo: quando Fernando Mineiro assume a vaga na Câmara Federal ?
Fernando Mineiro: Eu fico brincando dizendo que foi mais difícil validar os votos do que conquistar os votos. A gente faz uma luta danada para conseguir quase 100 mil votos e depois a gente tem que lutar para reconhecerem esses votos. O que me reanimou nessa luta foi o movimento que se criou nessa questão. Se você reparar bem se criou no nosso Estado um movimento muito forte por Justiça e pelo respeito à urnas. Um movimento que extrapolou o PT, os setores de esquerda… extrapolou inclusive quem vota nos setores de esquerda. Cheguei a receber mensagem de pessoas que diziam que não votavam em mim nem na esquerda, mas que reconheciam o erro, o absurdo que é essa situação. Então houve um verdadeiro movimento no Estado e com o papel, inclusive, muito importante de setores da imprensa. A maioria dos principais órgãos de imprensa, quer seja os mais tradicionais ou os blogs mesmo, tiveram papel fundamental para esclarecer a população sobre isso. Tanto é que a sessão do TRE certamente foi a sessão mais acompanhada da história do Tribunal, com mais de três mil pessoas assistindo. Então foi um verdadeiro movimento. E isso graças a uma iniciativa que envolveu 51 advogados em setembro do ano passado que tiveram atuação fundamental de reposicionar e recolocar na pauta. E nossos advogados, o escritório do dr. André, que acompanha a coligação desde o início, o escritório do dr. Caio e dr. Pedro que assumiram nossa defesa aqui. Isso aumenta nossa responsabilidade. A vitória não é minha, mas desse movimento que extrapolou aqueles que votaram na gente, aquele campo que dialoga com a gente. É um bom sinal. Ganhou essa consciência de Justiça. Porque ficou tão evidente, né ?
Você não acha que também é uma resposta dessas pessoas, independente de preferências políticas ou partidárias, que já não aguentam mais sucessivas interferências do Judiciário nos processos democráticos do país, a exemplo do golpe contra a ex-presidenta Dilma e o conluio do ex-juiz Sérgio Moro com a força-tarefa da Lava Jato para perseguir o Lula ?
É porque tudo muito é demais, né ? Existe um exagero na judicialização da política, como se diz. A gente sabe que nenhum órgão ou instituição é neutro, tem suas opiniões, seus alinhamentos. Mas a sociedade vai percebendo, vai tirando as máscaras, é um longo processo. A história da sociedade vai passando por momentos de construção de referências. E as pessoas vão percebendo que esse tipo de ação ataca o cerne da questão democrática, que é a opinião das pessoas, que as pessoas expressam. Então quando um ministro lá em Brasília dá uma canetada e muda o resultado eleitoral isso interfere e muda a vida política do país. E foi o que aconteceu no meu caso especificamente. O que aconteceu aqui e gosto sempre de ressaltar. A candidatura do Kerinho foi indeferida por unanimidade. Ele recorreu e o ministro do TSE também manteve o indeferimento, isso antes da eleição. Aí depois da eleição o ministro criou a tese de erro do sistema. Se fosse em outro contexto isso teria virado um grande escândalo nacional. Foi a primeira vez que um ministro disse que o sistema eleitoral errou no Brasil. Se fosse em outra situação, distante dessa polarização, as pessoas tinham parado pra refletir sobre o que estava por trás dessa decisão. Acho que o TRE repôs as coisas no seu devido lugar, dois anos depois, perdemos todo esse tempo, digamos assim, mas acho que esse exercício virou uma lição para várias pessoas de ter que parar para olhar um pouco para o que está acontecendo no nosso Estado e no nosso país. Então foi uma decisão histórica nesse sentido, de repor a verdade dos votos.
E agora, quando você assume e vai para Brasília ?
Tem os desdobramentos imediatos como está na decisão aprovada do TRE, que é a retotalização dos votos e a diplomação. Com o diploma em mãos vamos tomar posse em Brasília. Esperamos que essa semana haja esses desdobramentos. Não há razão nenhuma para que isso não seja feito, é imediato. Como aconteceu aqui mesmo nas eleições municipais, quando teve uma decisão sobre uma ação e se aplicou. A decisão é para aplicação imediata. Eu tô aguardando isso, acho que essa semana já teremos diploma e quero me apresentar nas fileira do Planalto Central junto a nossa bancada, não só do PT, mas com a bancada de esquerda, dos partidos aliados que estão nessa luta. Esperando o diploma na mão para chegar lá, mais um soldado.
Dia 1º de fevereiro é a eleição para a presidência da Câmara. Você já participa e vota?
Estamos trabalhando para isso. A decisão é imediata. E imediata é imediata, não tem interpretação. Não tem advogado nenhum no mundo que vai interpretar diferente a palavra imediata. Imediata é imediata. Estamos aguardando. Na segunda-feira (hoje) estaremos lá aguardando e esperando meu diploma para me apresentar nas fileiras democráticas porque pra mim a questão central do Brasil hoje é a questão da defesa da democracia. Então quero ser mais um soldado da democracia.