sábado, 10 de setembro de 2016

O FLILAJES ROMPENDO BARREIRAS >> O FLILAJES despertando o interesse de escritores

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Apresento aqui um texto que nos foi enviado pelo amigo e escritor Marcius Cortez, que conhece nossa cidade e suas belezas. Tive a oportunidade e o prazer de conhecê-lo em uma breve visita que o mesmo fez a Biblioteca da Escola Estadual Pedro II em 2015. A partir daí estreitamos os laços de amizade e sempre nos mantemos em contato via internet.

Ao ter conhecimento da realização do FLILAJES, através de um de uma de nossas conversas, Marcius Cortez nos enviou uma crônica para que fosse lida durante o evento, como forma de prestigiar e participar  desse importante momento literário, já que o mesmo encontra-se em São Paulo. Segue abaixo o texto:

"Eu me chamo Marcius Cortez. Escrevi uma crônica que penso que vai interessar a todos aqui presentes, pois o assunto é Cabugi, isso mesmo e então vamos lá.
Cabuji. Cabuji já foi escrito com jota. Os índios chamavam o Cabugi de peito da moça, devido a seu formato. Segundo estudiosos, esse vulcão inativo tem apenas vinte milhões de aninhos. Vulcão é um acidente geológico e geográfico que dorme à sombra do mistério. O seu irmão, o Vesúvio, quando destruiu Pompeia e Herculano no ano de 79 a.C. produziu um enigma insólito. Herculano ficou soterrada pela larva a uma profundidade de trezentos e tantos metros e vários manuscritos da biblioteca da cidade, embora carbonizados, foram preservados. Entre eles, há escritos de Epicuro. Milagre? Não, não se trata de milagre, pois qual deus se interessaria em preservar Epicuro? O desmantelado herege, o chegado na bagaceira sem fim. Para esse filósofo grego, cada indivíduo é Deus. Cada um é escolhido pelo Todo-Poderoso para pregar o amor entre as pessoas. Ele defendia a ideia de que não importa qual seja o tipo de prazer, pois prazer não tem cor, religião, ideologia, endereço, antecedentes, currículo, ora, ora, prazer é felicidade e ponto final.
Admiro a veneração que a população do Rio Grande do Norte sente por um vulcão que não explodiu, que tem humildes quinhentos e noventa metros de altitude e que foi classificado pelos estudiosos como neck (pescoço vulcânico). A título de sugestão, estaciones o carro no acostamento e fites o pico sem pressa. Aposto que tua mente ficará ocupada por dias seguidos pela beleza do peito da moça. Ou se quiseres, faça melhor, junte-se aos trilheirosdacaatinga@gmail.com e em companhia deles subas o vulcão. Em menos de três horas, estarás no bico do seio da virgem. Na carapinha do Cabugi avistam-se dunas e mar. É o momento de abrires os braços e de acompanhares a sombra de teu corpo surgir na rocha. No cume, uma estranha força faz brotar água fresca da pedra quente. Água com urânio formando cachoeiras potentes como uma bomba. Logo a região será só uma mancha branca de algodão que, por sua vez, resultará em fole, zabumba e festança de pés no ritmo do forró. Adeus pobreza, bye, bye miséria, a vida vai parar de doer.
No dia seguinte, visitei Angicos, onde encontrei uma mulher setentona que disse que era para eu mirar o Cabugi, pontualmente, ao meio-dia. Ela me garantiu que todo dia a essa hora, o pico ganha a forma de uma grande cisterna. “Como se fosse uma cacimba e a água transbordasse aos borbotões”, arrematou a íntegra senhora. Voltei para o hotel. A noite foi de muita chuva. Ao amanhecer, o temporal havia dado uma trégua. Vem dia bonito aí. Levantei a vista e enxerguei no topo do morro, a senhora que construíra e espalhara as cisternas. Ela acenou para mim. Lembrei-me do que havia me dito: “Essas cisternas operaram o milagre de extinguir a fotografia das revistas. Estou me referindo ao retrato dos retirantes fugindo da seca, vagando em busca de um lugar para morar”. Adeus Fabiano, adeus Sinhá Vitória, bye bye miúdos, bye bye Baleia. Congeladas no tempo, as vidas secas de Graciliano Ramos amarelaram como o papel do livro. Novos ventos sopram na paisagem. O homem do sertão fica no sertão. O Cabugi piscou para nós, uma página, entre outras tantas páginas da história, acabara de ser virada.

A literatura, meus amigos, também ajuda a virar as páginas da história. Literatura é conhecimento e o conhecimento liberta. Então nesses dias em que Lajes vai tratar de literatura, desejo que vocês aproveitem ao máximo, cada conversa, cada palestra, cada oficina literária. Dessa vez não deu, mas quero vir participar dessa festa com vocês. Vivo numa metrópole gigante como é São Paulo e toda vez que passo alguns dias numa cidade pequena e aprazível como é Lajes, volto revigorado para a tão chamada “paulicéia desvairada”. Não percam sua humanidade, mantenham vivo seu jeito de viver. Vocês não jogaram fora uma certa sabedoria de saber passar o tempo e aproveitar as melhores coisas da vida que são as coisas simples.
A escritora Clarice Lispector dizia que criar é correr o grande risco de se chegar na realidade. Eu, pessoalmente não saberia viver se não existissem livros. A literatura, a poesia, a arte, moldam o espírito, lavam a alma e nos abastecem de ideias novas, o oxigênio vital para o sopro transformador. Sim, queridos amigos, poesia melhora as pessoas e por consequência melhora a sociedade. Mais do que nunca, estamos precisando de brasileiros como Paulo Freire e de poetas como João Cabral de Melo que nos servem de exemplo nas horas difíceis. Faz escuro, mas eu canto. Certamente não podemos perder de vista que o legado dos artistas e dos revolucionários é a luz que nos ilumina na noite das turbulências. Vamos unir o Brasil. Vamos para a luta. Fora Temer. Fora Rede Globo. (O Golpe nasce todos os dias no Jornal Nacional). Eleições diretas já. E uma feliz FliLajes para todos nós".

Fica aqui o nosso agradecimento especial e o desejo de que em futuras edições de nosso Festival Literário, possamos contar com a presença desse amigo, que mesmo distante buscou se fazer presente conosco.

Apresento aqui um link que traz algumas obras do escritor Marcius Cortez: https://www.estantevirtual.com.br/autor/marcius-cortez .

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