A estátua de Iemanjá que fica na Praia do Meio, em Natal, já foi depredada repetidas vezes. Neste final de semana de Carnaval recebeu uma tinta preta na pele. Representantes das religiões de matriz africana denominam o ato de vandalismo e denunciam que a Prefeitura não oferece segurança ou monitoramento.
Membro do Grupo de Articulação de Matriz Africana e Ameríndia do Rio Grande do Norte, José Pedro de Santos Neto, conhecido como Pedrinho de Ogum, comentou que o fato demonstra como as pessoas fazem a ligação direta dos símbolos dessas religiões aos negros, e de forma racista.
“Se a gente quisesse que aquela representação fosse negra, ela seria negra e não preta”, disse, lembrando que diversas entidades foram convidadas a discutir como seria a nova estátua, feita por Emanuel Câmara e inaugurada em fevereiro de 2020 sob encomenda da Prefeitura de Natal.
“Nas religiões, principalmente de Candomblé, Iemanjá é considerada negra, mas quando a Umbanda foi inaugurada no Brasil e quando os primeiros religiosos lutaram por aquela estátua ela era branca de manto azul. Não importa se eles estavam errados ou certos, eles tinham aquela concepção e a história não pode ser retirada de uma hora pra outra”.
Pedrinho de Ogum alertou ainda que na época foi constatada a necessidade de reforço na segurança. “O prefeito [Álvaro Dias, PSDB] disse que estava inaugurando com as câmeras, mas depois descobrimos que não estavam ligadas. Não sei se estão funcionando agora”, reclama, dizendo que se for confirmada a ausência de qualquer vigilância, é preciso responsabilizar Prefeitura e prefeito.
“A intolerância é permanente; o preconceito religioso não vai acabar de um dia para o outro; mas o Município tem que fazer a sua parte. Algumas pessoas só são educadas quando punidas e é preciso que haja punição nesse caso para mostrar o exemplo”, ressaltou.
A representante do Instituto Cultural Mestre Benedito Fumaça, Suely Costa concorda e assegura que há anos a câmera está quebrada. Ela foi ao local e disse que independente da intenção da pessoa ou do grupo, foi um ato de vandalismo que merece penalidade.
“Não dá pra saber se a pessoa ou grupo que fez isso o fez por querer que a escultura fosse de cor negra. A cor negra não nos atinge, é nossa essência. Mas ninguém pode pegar um sagrado e fazer o que quer da forma que quer, sem punição. A câmera que tem está quebrada. Não há proteção para essa Iemanjá. E ela já foi vítima de vários ataques”.
Suely alerta que trata-se ainda de um ponto turístico e também que a ação levou algum tempo para ser efetivada e os autores seriam identificados, caso existisse algum tipo de segurança patrimonial: “Se a câmera estivesse funcionando, teria detectado”.
A Secretaria Municipal de Cultura/ Fundação Cultural Capitania das Artes informou que o artista Emanuel Câmara vai ao local na manhã da terça-feira (29) para avaliação dos danos e posterior restauro.
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