A facilidade de acesso e o baixo custo do crack estão fazendo com que a droga se alastre pelo país assustadoramente. Pesquisa divulgada semana passada pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), o crack está substituindo o álcool nos municípios de pequeno porte e áreas rurais. Nos grandes centros, uma pedra de crack custa menos de R$ 5,00.
Pesquisa foi realizada em mais de quatro mil municípios brasileiros, onde 89,4% das pessoas entrevistadas indicaram que enfrentam problemas com a circulação de drogas em seu território e 93,9% com o consumo.
A pesquisa vai mais além e revela que o uso de crack é comum em 90,7% dos municípios, tendo o entorpecente se alastrado por todas as camadas da sociedade. A princípio o crack era consumido apenas por pessoas de baixa renda e ultimamente atingiu todas as classes sociais, a ponto dos jovens trocarem o uso de bebida alcoólica pelo consumo da droga.
Em Mossoró e cidades da região Oeste, a polícia tem identificado inúmeras ocorrências criminosas, ocasionadas pelo consumo do crack. Em recente entrevista ao O Mossoroense, o psicólogo João Valério explicou que a proliferação do crack vem acontecendo de maneira preocupante devido à facilidade que os jovens e adolescentes têm de adquirir o entorpecente, além do preço acessível da pedra. "O custo-benefício do crack está fazendo com que os jovens e adolescentes substituam a bebida pelo consumo da droga. Além do mais a facilidade com que a droga é vendida aproxima ainda mais o consumidor das chamadas bocas de fumo", frisou o psicólogo.
O delegado Inácio Rodrigues, titular da Delegacia Regional de Polícia Civil da cidade de Pau dos Ferros, região do Alto Oeste potiguar, disse que o consumo do crack tem levado muitos jovens e adolescentes à morte, seja de forma lenta, debilitada pelo vício, quanto pela ligação com traficantes ou dívidas contraídas junto ao tráfico.
"Tenho visto muitos jovens se acabarem devido ao consumo de crack. Quando eles não morrem debilitados pelo consumo desenfreado, muitos são assassinados por terem contraído dívidas com traficantes e isso é muito preocupante", destacou o delegado.
Para Inácio Rodrigues, é preciso que os governantes adotem políticas públicas para tratamento dos viciados. "Temos poucas unidades especializadas em recuperação de dependentes químicos. Se os governantes não tomarem medidas urgentes para tratamento dos viciados, muito em breve vamos ter uma sociedade cada vez mais dependente das drogas", concluiu.
Atualmente cidades como Pau dos Ferros, Umarizal, Apodi, Caraúbas, Areia Branca, Mossoró, dentre outras, sofrem com o aumento exagerado de viciados em crack. O grande número de jovens dependentes do consumo da droga tem feito com que ações criminosas, tipo assalto, furtos e assassinatos se propaguem desenfreadamente.
Estudo aponta que problemas estruturais nos municípios dificultam as ações combate à droga
O custo efetivo das ações de combate ao crack e outras drogas nos municípios brasileiros chega a mais de R$ 2,5 milhões por ano, de acordo com o CNM. Faltam profissionais capacitados e verbas destinadas para a manutenção das equipes e dos centros de atenção que deveriam estar disponíveis aos usuários, segundo relatório da entidade especializada no combate ao crack.
De acordo com o relatório, 63,7% dos municípios enfrentam problemas na área da saúde devido à circulação da droga. A fragilidade da rede de atenção básica aos usuários, a falta de leitos para a internação, o espaço físico inadequado, a carência na disponibilidade de remédios e a ausência de profissionais especializados na área da dependência química são os principais entraves apontados pelos gestores municipais.
Já no tocante à segurança pública, os principais problemas estão relacionados ao aumento de furtos, roubos, violência, assassinatos e vandalismo. Existem ainda apontamentos em relação à falta de policiamento nas áreas que apresentam maior vulnerabilidade.
Outra questão revelada pela pesquisa é a fragilidade da rede de Proteção Social Especial e do Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas) que tem como objetivo trabalhar as demandas dos usuários de drogas. Estes serviços são deficitários em 44,6% dos municípios.
Ainda de acordo com o CNM, um dos grandes problemas é a falta de controle das fronteiras do país. "O efetivo policial é pequeno, mal remunerado e pouco treinado para enfrentar a dinâmica do tráfico de drogas."
Outro fator relevante, segundo o CNM, é o papel que as indústrias produtoras de insumos utilizam para o preparo do crack. "A grande questão é a fiscalização da venda desses produtos, que atualmente é feita de maneira insuficiente."
A primeira pesquisa da CNM, divulgada em dezembro do ano passado, mostrou que 98% dos municípios pesquisados confirmaram a presença do crack em sua região. Em abril, a confederação lançou o portal Observatório do Crack para acompanhar a situação dos municípios, com informações sobre o consumo, os investimentos e os resultados das ações de combate à droga.
Consumo de crack cresce assustadoramente em Mossoró e na região Oeste do Estado
O consumo de crack em Mossoró e região Oeste alcançou índices alarmantes nos últimos anos, o que vem deixando preocupadas autoridades, pais de família e as polícias militar, civil e federal responsáveis pelas prisões de traficantes e apreensões de drogas. Na periferia estão concentrados os locais de distribuição e venda do crack, considerado o mais perigoso dos entorpecentes.
O flanelinha F.L.M, 35 anos, viciado em droga desde os 15 e em crack há dois anos, conta que recentemente foi flagrado com duas pedras de crack, porém não ficou preso. Ele disse que era viciado em maconha e por curiosidade resolveu fazer um teste com o crack para saber até onde ia o seu efeito, porém só precisou usar uma vez para se tornar dependente.
"O vício faz com que cada vez mais a pessoa tenha vontade de fumar. Como não tenho dinheiro para sustentar o vício, sou obrigado pela minha natureza a roubar. É mais forte que eu. Olha..., vou te falar uma coisa: nunca deseje para o seu pior inimigo que ele se vicie em crack... é o fim", disse com lágrimas nos olhos, o "mulambo ambulante" em que o viciado se tornou.
Segundo a Polícia Civil, a cada ano o consumo de crack vem aumentando em Mossoró e região, enquanto que a maconha vem diminuindo.
O delegado Denys Carvalho, titular da Delegacia Especializada em Narcóticos (Denarc), mesmo com toda a dificuldade enfrentada na sua jurisdição, tem conseguido, com o auxílio das outras instituições policiais, desmontar várias bocas de fumo e colocar na cadeia os traficantes.
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