Artigo de Paulo Afonso Linhares
Na rica linguagem do futebol, uma demonstração de grande domínio da bola, de habilidade excepcional, “de verdadeiro virtuosismo no lidar com ela”, segundo complementa o Aurélio, é chamada de “firula”. Na verdade, as firulas marcam as trajetórias dos grandes craques: a “folha seca” de Didi, os dribles desconcertantes de Garrincha ou o famoso drible da vaca, a “roulette” do Zidane, o “chapéu”, o “elástico” ou a “pedalada” (do Robinho). Firulas legítimas. Coisa de craque, distante anos-luz dos pernas de pau que vivem a teimar com a bola.
Goste
dele ou não, é mais ou menos assim que, na política, tem sido a
trajetória de craque desse cabeça-chata nordestino que chegou à
Presidência da República por dois mandatos consecutivos e fez sua
sucessora: Luiz Inácio “Lula” da Silva que, a despeito da imagem de
despreparado, analfabeto e beberrão que seus opositores tentaram lhe
impingir, o tempo mostrou que era ele sim o grande maestro da orquestra e
não mero títere nas mãos dos melhores quadros partidários, do porte de
Zé Dirceu, Antônio Palocci, Zé Genuíno etc., tanto que estes e outros
auxiliares e amigos mais próximos de Lula foram “detonados” pela
poderosa mídia conservadora (Veja, Estadão, Folha de São Paulo, Rede
Globo etc.), também conhecida como PIG, que significa “Partido da
Imprensa Golpista”, para usar a expressão popularizada pelo jornalista
Paulo Henrique Amorim e tão martelada em discurso parlamentar do
deputado petista Fernando Ferro. Segundo Amorim, o termo PIG pode ser
definido da seguinte forma: “Em nenhuma democracia séria do mundo
jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até
sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que
têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político — o PIG,
Partido da Imprensa Golpista” (Blog “Conversa Afiada”, em 28 de abril de
2009).
Se
alguém tinha dúvida sobre o mérito político de Lula – goste ou não dele
– basta a enorme firula que fez em São Paulo, para colocar um candidato a prefeito da capital paulista na disputa do segundo turno da
eleição deste ano de 2012, Fernando Haddad, que era o sétimo colocado
nas intenções de votos dos grandes institutos de pesquisa. Fato é que
ninguém acreditava que Lula – saído de um rigoroso tratamento contra um
câncer de laringe – pudesse viabilizar o seu afilhado Haddad na disputa
pela maior prefeitura do país. Lula chamou para si toda a
responsabilidade, pela derrota ou vitória. E caiu em campo para
viabilizar apoios para Haddad, nem que para isto tivesse que rifar
candidaturas petistas em outros Estados. O destroço do frágil PT
mossoroense, obrigado a abandonar a tese da candidatura própria para
apoiar a candidata do PSB que, afinal, foi derrotada, fez parte do
esforço (que é um rima, mas, não uma solução...) para atrair o
governador Eduardo Campos e seus seguidores paulistas no apoio a
Fernando Haddad.
A
última pesquisa do Datafolha mostra um quadro muito favorável a
Fernando Haddad, que tem 49% de intenções de voto contra 32% de José
Serra, que apresenta uma maioria para o primeiro de 17%. Em situação
normal, dificilmente esse cenário poderá ter grandes mudanças nos
próximos sete dias, ou seja, até o dia 28 de outubro, data da eleição do
segundo turno. Confirmada que seja a eleição de Haddad para prefeito de
São Paulo, será a consagração do ex-presidente Lula como um dos grandes
expoentes da política brasileira de todos os tempos. Mal comparado, o
ex-presidente Lula terá dado, na política, um salto triplo carpado de
costas, firula que somente fica para o bico de grandes e talentosos
pelés.
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