O evento de premiação das Empresas Mais Admiradas no Brasil 2010 foi encerrado por um inspirado discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele homenageou a revista CartaCapital e o jornalista Mino Carta, fez um balanço da sua gestão, já em tom de despedida, e não deixou de reiterar seu compromisso com a defesa da liberdade de imprensa.
O presidente da República dialogou em seu discurso com os empresários presentes, lembrando o crescimento do acesso dos mais pobres aos bens e serviços produzidos por eles. “A Nestlé está vendendo mais leite para os mais pobres, o Itaú está abrindo contas correntes para os mais pobres, o Extra e o Pão de Açúcar estão vendendo mais”, lembrou, olhando para a platéia repleta de líderes empresariais. Disse que o encontro, em 2002, com seu vice-presidente, o empresário José Alencar, tinha representado o momento simbólico da conquista da harmonia entre a classe trabalhadora e o empresariado, que acabou marcando seus oito anos de gestão.
Ao comparar a conjuntura econômica atual do Brasil com a dos países da Europa, sobretudo da Grécia, e dos Estados Unidos, Lula lembrou que não enfrentamos neste período nenhum período de turbulência social. “Qual a greve importante que aconteceu aqui nos últimos anos?”, ele perguntou. E em tom de brincadeira, cobrou do ministro Guido Mantega, ali presente: “Antes nós devíamos ao FMI, agora, nós emprestamos para eles. O Guido precisa ir mais vezes para lá para ver se eles estão usando direito nosso dinheiro”, brincou.
Sem fazer uma referência direta ao tucano José Serra, disse que tinha candidato que fazia um “leilão de benefícios” na campanha eleitoral, sem dizer de onde tiraria recursos para executá-los. “Quando eu falava em 2% de reajuste para os aposentados, muita gente criticava, dizendo que não havia dinheiro para isso”, cobrou, “mas agora, ninguém fala nada”, numa referência velada aos 10% propostos por Serra em seu programa.
Num dos momentos mais divertidos do discurso, Lula contou os dias que faltavam para sua saída do Palácio do Planalto: “acho que são uns 70, 71. Daí, a partir do dia 2 de janeiro, eu serei ex-presidente”. Entre sorrisos, ele afirmou que ex-presidente não tinha importância nenhuma e, alfinetando seu antecessor, deveria saber como “ficar calado”. Para exemplificar, contou então a história do “vaso chinês”, segundo a qual o presidente da República ganha de presente um “enorme e bonito vaso chinês”, que fica decorando um salão do Palácio de Governo. Porém, lembrou, depois de encerrado o mandato, o ex-governante, de volta para casa, não tinha mais onde “botar o vaso”, não sabia o que fazer com ele.
Mais sério, ele afirmou que agora era obrigado, pela liturgia do cargo, a ficar calado sobre muitas coisas, mas que a partir do ano que vem teria muito a dizer. Para deleite dos leitores de nossa revista, afirmou que poderia até “escrever um artiguinho ou outro para CartaCapital”.
Ao final de seu pronunciamento, o presidente voltou ao tema da liberdade de imprensa no Brasil. Afirmou que nunca existiu em seu governo qualquer restrição ao livre funcionamento dos veículos de comunicação, mas criticou duramente aqueles que denunciam sem provas. Destacou as ações coercitivas da liberdade de imprensa realizadas por outros. Em particular, defendeu a Revista do Brasil, apoiada pela CUT, que foi proibida de circular porque continha matéria de capa em apoio à candidatura de Dilma Rousseff. ( Em tom ainda mais duro, cobrou dos políticos uma relação mais verdadeira com a imprensa: “a classe política precisa aprender a perder o medo da imprensa”, disse.
Muito aplaudido ao final, o presidente foi cercado pelos presentes que queriam cumprimentá-lo ou tirar fotos.
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