sábado, 4 de fevereiro de 2012

Falta de reconhecimento literário

Escritores potiguares sentem desvalorização do mercado

De Sérgio Vilar para o Diário de Natal

Obras escondidas entre prateleiras nas livrarias e eventos que não valorizam o potencial do mercado local. Essas são as principais queixas de quem se dedica ao ofício da escrita no Rio Grande do Norte. Um evento realizado nesta semana na livraria Nobel da Avenida Salgado Filho, Tirol, reuniu diversos escritores potiguares para falar um pouco sobre suas trajetórias profissionais, suas obras e estilos literários. O 1º Café Literário, como ficou conhecido o encontro, teve como principais convidados Leonardo Barros, Marcos Monjardim e Gustavo Diógenes, que abriram espaço para discussão.

"Existe uma desvalorização das obras publicadas aqui no estado, as próprias editoras não acreditam no potencial e você acaba tendo que fazer publicações independentes", afirma Leonardo Barros, 35 anos, que já lançou quatro livros, a maioria como publicações independentes. De acordo com ele, a divulgação do próprio livro se torna uma tarefa difícil por falta de apoio das editoras. "Mas essa falta de apoio não se deve apenas às editoras. O hábito de leitura dos potiguares é bem menor do que em outras cidades e muita gente que vai até a livraria se limita apenas aos best-sellers americanos", acrescenta.

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O jovem escritor Gustavo Diógenes tem apenas 17 anos, mas já sente dificuldades em lidar com a realidade do mercado. O autor de Acáci Mundo 17 diz que existe espaço, mas que o problema está na falta de divulgação. "Eu tenho um blog para divulgação do meu livro, mas a gente sente falta de eventos como este que são essenciais para que o público nos conheça melhor e para que nós mesmos conheçamos os leitores e, a partir daí, colher informações valiosas, como se o tipo de narrativa é apropriado, se estamos realmente conseguindo transmitir a mensagem do livro e até melhorarmos como escritor", diz.

Livrarias podem atuar como centros culturais

Para o franqueado da Nobel e escritor, Aluísio Azevedo Júnior, a falta de um espaço físico para o autor potiguar nas livrarias e dessa interatividade entre escritores e leitores são fatores determinantes para provocar esse sentimento de desvalorização. "A Nobel Salgado Filho tem essa proposta diferenciada, nossos autores são destacados logo na entrada da livraria com uma estante exclusiva e, semanalmente, estamos promovendo essa interação entre os artistas, escritores locais e o público em geral. Acreditamos que uma livraria deve ser trabalhada como um centro cultural e não apenas uma loja para vender livros", relata.


Segundo o escritor Marcos Monjardim, 32 anos, autor de Peregrino, essa interação com o público é primordial. "A gente não conhece muito os próprios colegas escritores por falta de oportunidade e, eventos como este, permitem que a gente conheça um pouco suas trajetórias de vida, trabalhos e principalmente fazer uma troca de ideias, é justamente isso que está faltando", explica.

Vendas em baixaDe acordo com Aluísio Azevedo, o percentual de vendas de autoria potiguar em sua livraria é limitado a uma média de apenas 6% ao mês do total de livros vendidos. "O que falta é colocar a boa literatura produzida no RN em contato direto com o leitor e eu não estou falando em eventos anuais e sem encontros descontraídos onde leitor e autor possam sentir-se à vontade", afirma.

Ele conta que a próxima edição do Café Literário acontece no dia 28 deste mês, às 19h, e trará um extenso grupo de cordelistas da Academia Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel para apresentar suas obras e discutir a temática Animais, Filósofos, Mitos e Personagens Infantis. "É uma oportunidade até mesmo para quem quiser conhecer um pouco da literatura de cordel", acrescenta.

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