quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Por que temos que ser uma potência olímpica?


A Olimpíada terminou e a delegação brasileira retorna ao país com a 15a colocação, no quadro total de medalhas, e, pelo critério ouro, a 22a. Isso nos obriga a pensar o desempenho brasileiro sobre dois aspectos. Vamos, primeiramente, ao número total de medalhas.

Observando o quadro de medalhas, temos:
Estados Unidos, 104; China, 87; Rússia, 82; Grã-Bretanha, 65; Alemanha, 44; Japão, 38; Austrália, 35; França, 34; Coréia do Sul e Itália, 28; Holanda e Ucrânia, com 20; Canadá, 18; Hungria, Brasil e Espanha, 17; Cuba, com 14; Nova Zelândia, Cazaquistão e Bielorrússia, com 13; Irã e Jamaica, com 12; Quênia, 11; Azerbaijão, Polônia e Rep. Tcheca, com 10.

Cerca de 60 países tiveram menos de dez medalhas. Entre eles, alguns países com alto padrão de renda, como a Suércia, a Noruega e a Dinamarca.

A Olimpíada contou com 191 países e 13 territórios, num total de 204 bandeiras. Portanto, cerca de 120 países voltaram para casa com as mãos abanando. Só 40% dos países fazem parte do clube dos medalhados. De fora? Delegações do Chile e da Áustria, por exemplo.

Para analisar melhor nossa participação, dividiremos os desempenhos das delegações em cinco grupos:

1) Superpotências olímpicas: EUA, China e Rússia, acima de 80 medalhas. Sobre a terceira, é interessante notar que, somando todas as ex-Repúblicas soviéticas, teríamos a campeã disparada (só Rússia, Ucrânia e Cazaquistão somariam 105).

2) As potências: Grã-Bretanha (que engloba quatro países), Alemanha, Japão, Austrália e França, entre 34 e 65.

3) O pelotão intermediário: superior, entre 20 e 30 medalhas (Coreia, Itália, Holanda e Ucrânia (herdeira soviética); e o pelotão intermediário inferior, entre 10 e 20, onde o Brasil (17) se encontra, ao lado de países como Canadá (18) e Espanha (17).

4) O pelotão inferior: abaixo de 10 medalhas, composto, por exemplo, por Portugal, Argentina.

5) Países de fraco desempenho: ou seja, aqueles que não conseguiram qualquer medalha.

O Brasil se encontra no pelotão intermediário inferior, portanto.

A primeira pergunta que nos cabe é: estar ao lado de países como Espanha e Canadá é um demérito? Aqueles que responderem "não" podem parar de ler o texto neste ponto.

Aqueles que responderem "sim", no entanto, terão que explicar o por quê!

Para todos os outros que desejam, apenas, que o Brasil melhore sua participação, é aconselhável discutir qual o nível poderíamos almejar.

Antes disso, precisamos responder mais duas perguntas: é factível ser uma superpotência? Para quê? E, mesmo, potência? Fora o orgulho e a vaidade, o que isso traria de bom para a sociedade brasileira?

As perguntas acima já denunciam o posicionamento de quem as elabora. Não vemos nenhuma necessidade de sermos potência olímpica.

Na nossa opinião, no entanto, acreditamos que temos potencialidade para nos igualarmos à Itália ou à Holanda, ou mesmo à Coreia do Sul. Metas bem factíveis.

Itália e Coreia ficaram com 28 medalhas, 11 a mais do que nós. Holanda e Ucrânia ficaram com 20. É perfeitamente possível alcançar estas duas últimas na próxima Olimpíada, desde que haja um planejamento sério.

Quanto a alcançar à Itália e a Coreia, talvez seja melhor pensar num plano para duas ou três olimpíadas.

Esporte "sem" ideologia
Não se pode descuidar do fato de que entre as potências e superpotências, temos países com sociedades ricas e aqueles que fizeram vultosos investimentos em esporte, por motivos ideológicos (não perdendo de vista, que os "ricos ocidentais" sempre utilizaram também o esporte como instrumento de reafirmação).
Mas estas correlações não são determinadas. Os já citados países nórdicos são sociedades muito ricas, mas de desempenho frágil. Da mesma forma que diversos países da antiga Cortina de Ferro também fizeram investimentos "ideologicos", mas nem por isso constam (mais) das primeiras posições do ranking.
O problema é que, quando observamos alguns métodos utilizados pela China e pela antiga União Soviética para se tornarem superpotências, encontramos práticas incompatíveis com as democracias (e lembremos que há, pelo menos, três herdeiras do sovietismo à nossa frente no ranking do COI).
No caso da China, há denúncias inclusive de separação arbitrária de crianças do seio das familias. Não acreditamos ser esse o caminho a ser trilhado.
Da mesma forma, que temos, como sociedade em desenvolvimento, outras prioridades que não investimentos vultosos no esporte - coisa que para países ricos é possível.
Portanto, para se chegar a qualquer lugar é preciso saber onde queremos chegar.
Esporte, como política e religião, nem sempre é visto sob um olhar menos apaixonado, e o que se tem visto é uma oscilação ruim entre "pura viralatice" de eternos complexados, e ufanismo barato.
Mas há que se destacar algumas críticas pertinentes, como aquelas que apontam a falta de uma "política sistêmica de integração do esporte às escolas e às universidades" - o que estaria na base de uma política olímpica.
Mas perguntas como "por que precisamos ser potência (?)" devem ser feitas. Sob o risco de estarmos sonhando com objetivos inviáveis, impossíveis e, francamente, desnecessários. 
Contagem por ouros
Dedicaremos um espaço menor à classificação "por ouros conquistados", oficialmente, adotada pelo Comitê Olímpico Internacional.
Este ranqueamento é frágil porque é fortemente afetado por questões, diríamos, "subjuntivas".
"Se" Cielo não nadasse os 100 metros no dia anterior, "se" o time masculino de futebol levasse a sério seu papel,  ou "se" aqueles três pontos que faltaram no terceiro set da decisão do vôlei  masculino tivessem sido convertidos, estaríamos com seis medalhas de ouro, na 15a colocação.
Isso  não mudaria, no entanto, nosso padrão de desempenho.
A "contagem por ouro" diz respeito mais ás questões estratégicas de cada equipe ou atleta, incluindo a capacidade psicológica de resistência a pressões em decisões, do que propriamente às políticas de investimento no esporte.
Fica, portanto, uma sugestão de discussão, que pode ser sintetizada na seguinte pergunta: onde queremos chegar?

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