Fonte: Blog de Luis Nassif, em 13/08/2012
A Olimpíada terminou e a delegação brasileira retorna ao país com a 15a colocação, no quadro total de medalhas, e, pelo critério ouro, a 22a. Isso nos obriga a pensar o desempenho brasileiro sobre dois aspectos. Vamos, primeiramente, ao número total de medalhas.
Observando o quadro de medalhas, temos:
Estados Unidos, 104; China, 87; Rússia, 82;
Grã-Bretanha, 65; Alemanha, 44; Japão, 38; Austrália, 35; França, 34;
Coréia do Sul e Itália, 28; Holanda e Ucrânia, com 20; Canadá, 18;
Hungria, Brasil e Espanha, 17; Cuba, com 14; Nova Zelândia, Cazaquistão e
Bielorrússia, com 13; Irã e Jamaica, com 12; Quênia, 11; Azerbaijão,
Polônia e Rep. Tcheca, com 10.
Cerca de 60 países tiveram menos de dez medalhas.
Entre eles, alguns países com alto padrão de renda, como a Suércia, a
Noruega e a Dinamarca.
A Olimpíada contou com 191 países e 13 territórios,
num total de 204 bandeiras. Portanto, cerca de 120 países voltaram para
casa com as mãos abanando. Só 40% dos países fazem parte do clube dos
medalhados. De fora? Delegações do Chile e da Áustria, por exemplo.
Para analisar melhor nossa participação, dividiremos os desempenhos das delegações em cinco grupos:
2) As potências: Grã-Bretanha (que engloba quatro países), Alemanha, Japão, Austrália e França, entre 34 e 65.
3) O pelotão intermediário: superior, entre 20 e 30 medalhas (Coreia, Itália, Holanda e Ucrânia (herdeira soviética); e o pelotão intermediário inferior, entre 10 e 20, onde o Brasil (17) se encontra, ao lado de países como Canadá (18) e Espanha (17).
4) O pelotão inferior: abaixo de 10 medalhas, composto, por exemplo, por Portugal, Argentina.
5) Países de fraco desempenho: ou seja, aqueles que não conseguiram qualquer medalha.
O Brasil se encontra no pelotão intermediário inferior, portanto.
A primeira pergunta que nos cabe é: estar ao lado
de países como Espanha e Canadá é um demérito? Aqueles que responderem
"não" podem parar de ler o texto neste ponto.
Aqueles que responderem "sim", no entanto, terão que explicar o por quê!
Para todos os outros que desejam, apenas, que o
Brasil melhore sua participação, é aconselhável discutir qual o nível
poderíamos almejar.
Antes disso, precisamos responder mais duas
perguntas: é factível ser uma superpotência? Para quê? E, mesmo,
potência? Fora o orgulho e a vaidade, o que isso traria de bom para a
sociedade brasileira?
As perguntas acima já denunciam o posicionamento de quem as elabora. Não vemos nenhuma necessidade de sermos potência olímpica.
Na nossa opinião, no entanto, acreditamos que temos
potencialidade para nos igualarmos à Itália ou à Holanda, ou mesmo à
Coreia do Sul. Metas bem factíveis.
Itália e Coreia ficaram com 28 medalhas, 11 a mais
do que nós. Holanda e Ucrânia ficaram com 20. É perfeitamente possível
alcançar estas duas últimas na próxima Olimpíada, desde que haja um
planejamento sério.
Quanto a alcançar à Itália e a Coreia, talvez seja melhor pensar num plano para duas ou três olimpíadas.
Esporte "sem" ideologia
Não se pode descuidar do fato de que entre as
potências e superpotências, temos países com sociedades ricas e aqueles
que fizeram vultosos investimentos em esporte, por motivos ideológicos
(não perdendo de vista, que os "ricos ocidentais" sempre utilizaram
também o esporte como instrumento de reafirmação).
Mas estas correlações não são determinadas. Os já
citados países nórdicos são sociedades muito ricas, mas de desempenho
frágil. Da mesma forma que diversos países da antiga Cortina de Ferro
também fizeram investimentos "ideologicos", mas nem por isso constam
(mais) das primeiras posições do ranking.
O problema é que, quando observamos alguns métodos
utilizados pela China e pela antiga União Soviética para se tornarem
superpotências, encontramos práticas incompatíveis com as democracias (e
lembremos que há, pelo menos, três herdeiras do sovietismo à nossa
frente no ranking do COI).
No caso da China, há denúncias inclusive de
separação arbitrária de crianças do seio das familias. Não acreditamos
ser esse o caminho a ser trilhado.
Da mesma forma, que temos, como sociedade em
desenvolvimento, outras prioridades que não investimentos vultosos no
esporte - coisa que para países ricos é possível.
Portanto, para se chegar a qualquer lugar é preciso saber onde queremos chegar.
Esporte, como política e religião, nem sempre é
visto sob um olhar menos apaixonado, e o que se tem visto é uma
oscilação ruim entre "pura viralatice" de eternos complexados, e
ufanismo barato.
Mas há que se destacar algumas críticas
pertinentes, como aquelas que apontam a falta de uma "política sistêmica
de integração do esporte às escolas e às universidades" - o que estaria
na base de uma política olímpica.
Mas perguntas como "por que precisamos ser potência
(?)" devem ser feitas. Sob o risco de estarmos sonhando com objetivos
inviáveis, impossíveis e, francamente, desnecessários.
Contagem por ouros
Dedicaremos um espaço menor à classificação "por ouros conquistados", oficialmente, adotada pelo Comitê Olímpico Internacional.
Este ranqueamento é frágil porque é fortemente afetado por questões, diríamos, "subjuntivas".
"Se" Cielo não nadasse os 100 metros no dia
anterior, "se" o time masculino de futebol levasse a sério seu papel,
ou "se" aqueles três pontos que faltaram no terceiro set da decisão do
vôlei masculino tivessem sido convertidos, estaríamos com seis medalhas
de ouro, na 15a colocação.
Isso não mudaria, no entanto, nosso padrão de desempenho.
A "contagem por ouro" diz respeito mais ás questões
estratégicas de cada equipe ou atleta, incluindo a capacidade
psicológica de resistência a pressões em decisões, do que propriamente
às políticas de investimento no esporte.
Fica, portanto, uma sugestão de discussão, que pode ser sintetizada na seguinte pergunta: onde queremos chegar?
Sem comentários:
Enviar um comentário