Mais de 1,2 milhão de mulheres cis e trans, de diversas orientações políticas, se reúnem no grupo fechado do Facebook “Mulheres unidas contra Bolsonaro” em repúdio às ideias machistas do candidato à Presidência pelo PSL. O espaço virtual tem chamado atenção da mídia pelo rápido crescimento.
Entre 9 e 11 de setembro, um intervalo de dois dias, foram registradas cerca de 600 mil adesões. A inclusão de novos membros é feita de duas formas: quem já está dentro pode convidar novas pessoas ou quem está de fora pode pedir para fazer parte. O ingresso é avaliada por uma das 10 administradoras e 82 moderadoras.
Além da entrada negada aos homens e às eleitoras de Bolsonaro, as regras do grupo determinam que o tema das postagens devem ser a candidatura daquele a quem chamam “inominável” ou por algum apelido ou anagrama do seu nome (Bozo e Salnorabo são os preferidos). Isso acontece para evitar que o nome dele cresça na internet, é uma tentativa de burlar os algoritmos das redes sociais.
“Que esse marco seja também uma homenagem a nossas antepassadas, que com muita luta conseguiram colocar a mulher como ser político dentro da sociedade. Nosso discurso não bate, argumenta, não pune … ensina!”, diz post fixado pela moderação.
A poeta e colunista da Agência Saiba Mais Eveline Sin aderiu à mobilização e perguntou na noite da terça-feira (11), em seu perfil pessoal, quem entre suas amigas gostaria de fazer parte.
“Eu fui colocada no grupo há poucos dias. Ontem algumas pessoas colocaram um texto pra gente mobilizar mais mulheres, convidando mais gente pra ficar cada vez melhor. Fui dormir tarde colocando mais pessoas”, disse, lembrando que a ideia central é reunir sugestões e buscar soluções para enfrentar o machismo, a homofobia e o racismo difundidos por essa candidatura.
Na descrição do grupo consta que a união impedirá a retirada de direitos das mulheres. Leia:
Grupo destinado à união das mulheres de todo o Brasil (e as que moram fora do Brasil) contra o avanço e fortalecimento do machismo, misoginia e outros tipos de preconceitos representados pelo candidato Jair Bolsonaro e seus eleitores. Acreditamos que este cenário que em princípio nos atormenta pelas ameaças as nossas conquistas e direitos é uma grande oportunidade para nos reconhecer como mulheres. Esta é uma grande oportunidade de união! De reconhecimento da nossa força!
O reconhecimento da força da união de nós mulheres pode direcionar o futuro deste país! Bem-vindas aquelas que se identificam com o crescimento deste movimento.
Alguns encontros presenciais devem ser articulados. As primeiras reuniões estão previstas para ocorrer em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo.
Como votam
A maioria das participantes da página parece preferir os candidatos Haddad (PT) e Ciro (PDT), mas há eleitoras de diversas legendas, incluindo Marina (Rede), Alckmin (PSDB), Boulos (PSOL) e Amoedo (Novo).
Todos os candidatos possuem posts fixados pela moderação, para que as integrantes possam comentar sobre outros candidatos. A moderação disse que fez isso justamente porque o objetivo é “Todas contra ele”. Entretanto, enquetes sobre intenção de voto são proibidas. “É proibido pela Lei Eleitoral e dá multa, portanto não correremos o risco!”, avisam as administradoras.
Os candidatos à vice-Presidência também têm assumido papel importante na escolha das eleitoras. “Ciro é bom, com ressalvas. Votaria nele não fosse a vice [Kátia Abreu (PDT)]. Então vou de Haddad porque amo a Manu [PCdoB], na verdade amo mais a Manu do que o Haddad”, comentou uma participante.
O combinado mesmo é que todas se unam em caso de segundo turno. “No segundo turno, mesmo não gostando, eu voto até em candidato de direita contra o Inominável”, escreveu outra integrante. E mais uma abriu um post com a seguinte frase: “Somos mais da metade da população e mães da outra metade. Podemos tudo que quisermos”.
Rejeição feminina
As mulheres têm colocado o candidato neste lugar de inimigo pelas várias declarações machistas e misóginas que ele deu durante toda a sua vida pública. De acordo com a pesquisa Datafolha divulgada na segunda-feira (10), a rejeição das mulheres a Bolsonaro cresceu de 43% para 49%. O levantamento anterior foi divulgado em 22 de agosto.
Para citar alguns dos absurdos proferidos por ele, ressalta-se o embate com a deputada Maria do Rosário, do PT. Em agosto de 2017 ele foi condenado a pagar indenização à colega parlamentar por ter dito que não a estupraria porque ela não merecia por ser “muito feia”.
Mas essa não foi a primeira vez que ele ofendeu mulheres. Em 2011, a cantora Preta Gil participou de um quadro do programa do CQC em que enviou uma pergunta ao deputado: “o que você faria se seu filho se apaixonasse por uma negra?”.
“Preta, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu”, foi a resposta.
Durante palestra na faculdade Hebraica, no Rio de Janeiro, ele inferiorizou as mulheres usando a própria filha. “Eu tenho 5 filhos. Foram 4 homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher”, disse em abril de 2017. Durante o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, exaltou comandante Brilhante Ustra que a torturou na ditadura militar e tem uma coletânea enorme de maus-tratos a mulheres.
Ele também afirmou que “Mulher deve ganhar salário menor porque engravida”. E atacou os homossexuais ao dizer que se visse dois homens se beijando na rua, bateria neles e ainda chegou ao extremo de dizer que preferia um filho morto a um filho gay.
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