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Os estudantes Rodrigo Gonçalves do Nascimento, de Capela do Alto (SP) e Geovana Rodrigues da Pascoa Souza, de Sobral (CE), fazem parte desse grupo. Segundo dados obtidos pelo G1 junto ao MDS, Minas Gerais, São Paulo e Ceará respondem por 576 das 1.288 medalhas, ou 45% do total.
Rodrigo, hoje com 19 anos, participou seis vezes da Obmep, entre o 7º ano do ensino fundamental e o 3º do ensino médio. Ganhou medalhas em todos os anos – duas de ouro e quatro de prata. Geovana possui duas medalhas e uma menção honrosa da Obmep.
"Matemática é uma matéria que eu gosto muito, desde pequeno tenho muita facilidade. Eu participei da Obmep a primeira vez porque a escola inscreveu todo mundo, mesmo quem não tinha interesse. Mas eu participei porque eu gosto, além do mais queria ir para o PIC [Programa de Iniciação Científica]", afirma Rodrigo.
O PIC é um curso oferecido aos medalhistas da Obmep com duração de um ano. Eles são desafiados a responder exercícios de raciocínio lógico virtualmente e participam de encontros presenciais mensais em polos que reúnem estudantes de uma mesma região.
Geovana, que hoje tem 15 anos, conheceu a Obmep em 2015, quando estava no 6º ano, por conta do professor de matemática da Escola José Inacio Gomes Parente, da rede pública de Sobral. O professor formou um pequeno grupo de estudo entre os interessados em fazer a prova e em sua primeira participação na competição, Geovana garantiu uma menção honrosa. Em 2016, depois de se preparar durante todo o ano, ganhou a medalha de ouro.
Ambos são beneficiários do Bolsa Família. O pai de Geovana divide a sociedade de uma pequena granja com o irmão, e a mãe trabalha como doméstica. Ela tem dois irmãos mais velhos que não trabalham.
Já o pai de Rodrigo é caseiro, e a mãe trabalha como faxineira. Ele possui seis irmãos, mas nenhum se interessou pelos estudos. "Minha irmã mais velha vende marmitex e meu irmão mais velho é serralheiro."
1.288 medalhas acumuladas
Rodrigo, Geovana e os outros 997 beneficiários do Bolsa Família acumulam, no total, 1.288 medalhas: 93 de ouro, 234 de prata e 961 de bronze. Os estudantes também receberam 465 menções honrosas no período.
Contato positivo com a matemática
Em entrevista ao G1, Artur Ávila, o brasileiro que recebeu, em 2014, a Medalha Fields, considerada o "Nobel da matemática", afirmou que as olimpíadas do conhecimento não são a solução ideal para o problema educacional brasileiro, mas diz que elas são "um programa extremamente barato e com o qual você consegue passar ao lado dessas dificuldades que tem no ensino em geral".
Segundo ele, um dos benefícios é acessar "alunos muitas vezes de comunidades carentes de lugares que você não esperaria, devido às dificuldades econômicas no Brasil", e oferecer a eles um "primeiro contato positivo com o estudo e com a matemática".
No caso de Geovana, junto com os prêmios da Obemp veio o convite para estudar com bolsa integral em uma escola particular de Sobral. Atualmente ela cursa o 9º ano na escola Farias Brito Sobralense e segue firme na preparação para as olimpíadas. Almeja, inclusive, chegar às competições internacionais.
"Vou participar nesse ano e pretendo participar nos próximos três anos [até o ensino médio] porque eu vi que a olímpiada pode trazer muitos benefícios e mudanças positivas na minha vida. Por causa da Obmep, várias pessoas conseguem entrar na faculdade e melhorar a formação acadêmica, e é isso que eu quero para mim também", diz.
Geovana quer seguir estudando e cursar alguma faculdade relacionada à matemática.
"A Obmep mudou bastante minha vida, ganhei bolsa de estudo completa, fiz novas amizades com pessoas que gostam tanto de matemática como eu. Sou muito grata."
Futuro na programação
Rodrigo concluiu o ensino médio há dois anos, e agora estuda sozinho para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para tentar uma vaga na universidade. Seu sonho é cursar informática e se tornar um grande programador.
"Eu trabalhava em um comércio, fazia tudo lá, mas juntei um dinheiro para conseguir me manter e saí. Agora não estou trabalhando para me dedicar aos estudos nesse pouco tempo que falta para o Enem."
Para o adolescente, os cursos realizados durante a Obmep o ajudaram a gostar ainda mais de matemática. "Era muito legal porque conheci bastante gente e nos cursos só tinha gente interessada naquilo que eu gostava. Acho que a Obmep foi muito importante na minha vida."
Como os jovens foram encontrados
Ao G1, o MDS afirmou que chegou a esses 999 estudantes por meio de uma série de cruzamentos de informações. As bases de dados cruzadas foram a do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, conhecida como CadÚnico com a de medalhistas e menção honrosa da Obmep. De acordo com o Impa, na primeira fase da olimpíada, da qual costumam participar mais de 18 milhões de estudantes, a inscrição é feita por escola e a participação é optativa, por isso não existe um banco de dados pessoais dos inscritos.
"A metodologia utilizada para cruzar os dados levou em consideração o nome, a data de nascimento, o nome da mãe e o CPF do estudante", explicou o ministério.
Apesar de a maioria das medalhas ser de bronze, o levantamento mostra que 101 desses 999 estudantes conseguiram ganhar pelo menos três medalhas em edições diferentes da Obmep.
A distribuição dos jovens atinge todos os estados. A pedido do G1, o MDS listou o número de medalhas obtidas em cada estado. Minas Gerais, São Paulo e Ceará são os únicos estados onde foram conquistadas mais de 100 medalhas, e outros quatro estados receberam menos de dez medalhas: Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rio Grande do Sul.
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