Encarar as universidades públicas como instituições coesas onde impera a uniformidade de pensamento é uma visão reducionista delas, geralmente de quem não as frequentou, ou pelo mal desempenho nelas se tornou ressentido.
Os campus universitários são espaços plurais e complexos, que atuam em diversas atividades. As áreas de humanidades, alvo do ataque governamental, especificamente Filosofia e Sociologia, abrigam diferentes pesquisas e correntes de pensamento, consumindo a menor parte das verbas de pesquisa das universidades públicas. Pesquisas nas engenharias, medicina, o custeio de laboratórios, serão afetados em maior medida, pois dependem em maior escala de apoio financeiro. Precisam de equipamentos e reagentes para se efetivarem, além das bolsas de pesquisa. Enquanto livros e deslocamentos são menos onerosos.
O corte que foi justificado moralmente para coibir a balbúrdia irá afetar pesquisas que poderiam beneficiar a cadeia produtiva, gerar empregos e renda, o que mostra que a economia produtiva não é o foco do governo, que protege o rentismo. A guerra cultural em curso vê nos professores de humanidades um inimigo a ser combatido, para se livrar do rato queima-se o Ministério inteiro e desestrutura todo o ensino público no país.
Quando o Ministro da Educação afirma que Filosofia e Sociologia “podem” ser estudadas desde que cada um pague do próprio bolso, está reforçando a narrativa que tenta enquadrar a educação como um serviço, não como um direito. Neste ponto, a guerra cultural encontra uma aliada nas empresas de educação privada. A educação como serviço reproduz desigualdades. Nenhum estado-nação superou o flagelo da desigualdade sem passar pela educação pública, principalmente a básica, cuja verba também foi cortada. As universidades públicas são conquistas da sociedade brasileira que a encaram como meio de ascensão social, a conquista de uma educação básica de qualidade, pelos mesmos motivos, são objetivos que também merecem ser conquistados. Esta meta não implica o desmonte da universidade pública, podem ser metas complementares. Testemunhar seus filhos em universidades públicas de excelência ainda continua sendo o anseio de grande parte das famílias. Apesar das condições adversas e desfavoráveis, o acesso a uma universidade de excelência é tido pela população como um direito, muitos possuem em seu imaginário casos de conhecidos e colegas que superaram uma condição social vulnerável pelo ingresso em institutos federais e universidades públicas. Se este acesso fosse um serviço, muitos deles jamais teriam esta oportunidade.
Sob as vestes de uma guerra cultural tenta-se dissimular a retirada de direitos, o direito à educação de qualidade é um deles. O aumento da desigualdade será seu efeito mais nocivo.
Cultural? A guerra é social!
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