domingo, 7 de julho de 2019

RESPEITO AO PATRIMÔNIO HISTÓRICO >>12 motivos que explicam por que é inaceitável demolir o Hotel Reis Magos

O Hotel Reis Magos é um dos ícones da arquitetura moderna no Nordeste e foi importante para o inicio do turismo no estado, uma das nossas principais atividades econômicas até hoje. Mudou nossa história e estruturou transformações urbanas, sobretudo nos bairros de Tirol e Petrópolis. Já a Praia do Meio passa a ter iluminação pública, calçamento e outros atrativos a partir da sua aparição.
No início do mês, o Ministério Público Federal no Rio Grande do Norte deu parecer positivo para a demolição do hotel. Segundo a promotoria “não há interesse público na manutenção da estrutura”. O imbróglio envolvendo o hotel corre há alguns anos, com a iniciativa de segmentos do mercado imobiliário de demolir e construir um shopping.
Com o objetivo de se opor a isso e de fazer refletir melhores alternativas para um dos patrimônios arquitetônicos da cidade, foi criado o movimento Resiste Reis Magos, que prepara uma série de ações. A primeira vai rolar neste sábado e você pode acompanhar a iniciativa pelo Facebook.
E para entender o porquê é inaceitável sua demolição, o pessoal preparou uma lista com 12 motivos que vão te fazer refletir um pouco sobre o assunto:

1- Ícone do Modernismo arquitetônico no Nordeste, reúne várias características típicas do movimento.

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Saindo do eixo Rio – São Paulo, o movimento passa por Pernambuco, chega a Paraíba e o Rio Grande do Norte, trazendo uma nova estética/funcionalidade para a Arquitetura. Dentre elas, uma maior adaptação ao clima local, com sua sequência de varandas recuadas voltadas para o mar/sol nascente, canalizava a ventilação natural, sombreava o apartamento e permitia uma linda vista. Na face oposta, os cobogós (também criados no modernismo) criavam um belo efeito visual enquanto protegiam do sol da tarde.
Ao contrário da maioria das construções atuais, o hotel não estabelece barreiras claras entre seu exterior e a rua. Utilizar o edifício como parte da paisagem é outro recurso característico do modernismo, que dá ao usuário a sensação de fazer parte do seu entorno. No caso do Hotel, uma bela vista do mar.

2- Pedra fundamental para do turismo no estado e elemento estruturador das transformações na área.

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Em 1965 foi inaugurado o Hotel Reis Magos e famílias inteiras se deslocaram de estados vizinhos para conhecê-lo. Ele foi o primeiro hotel da nossa orla, chamando atenção da cidade para ela, que se voltou para o mar e deu as costas ao rio, marca que temos até hoje na identidade da nossa cidade.

3- Possui valor para uma parcela da população vizinha

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Logo que foi anunciada a demolição do imóvel para a construção de um shopping, associações comunitárias adjacentes se posicionaram contra. Estas – sobretudo os idosos – tiveram suas histórias marcadas pelo hotel. Muitos trabalharam nele, guardam histórias curiosas, enquanto outros viveram esse tempo através de conversas com os mais velhos.

4 – Transformador de hábitos

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O Reis Magos estimulou dois hábitos ainda hoje ainda populares na nossa cidade: Se alimentar fora de casa e comer feijoada! Sim, a feijoada só se tornou conhecida por essas bandas por causa da famosa feijoada aos sábados, que persiste em vários hotéis da via costeira.

5- Demolição não é progresso. Congelamento também não!

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Não defendemos o congelamento do edifício como ele está, mas é necessário intervir com respeito para com a nossa cidade e nossa história. Existem cerca de uma dezena de projetos para o hotel que não envolvem sua demolição. O coletivo apresentará alguns deles no futuro.

6 – Turismo Histórico-Arquitetônico na Europa. Enquanto isso, Hotel Reis Magos sob ameça no ano em que completaria 50 anos:

Dessa não precisa falar mais nada, né?

7 – Especulações: A estrutura do hotel está condenada? Onde está o laudo técnico?

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Uma parcela considerável dos nossos apoiadores é de profissionais ou estudantes da área de construção civil. Uns mais qualificados, outros menos para um laudo desse tipo. O que todos temos em comum é que não podemos entrar no Hotel para darmos uma opinião técnica. Supostamente houve um laudo, mas (pelo que sabemos) nenhuma das entidades que encabeçavam essa luta antes de nós teve acesso. Onde está o laudo então?
De qualquer forma, vale salientar de que maneira o hotel chegou ao estado que está hoje, através de fragmentos de uma reportagem do G1, de abril de 2014.
“(…)durante 15 anos, o Reis Magos esteve arrendado à rede Tropical Hotéis, empresa que pertenceu a Varig. O hotel fechou as portas em 1995. Após o fim do contrato, o governo privatizou o empreendimento, que foi comprado pela empresa Hotéis Pernambuco S/A, de propriedade de José Pedroza (…)”
“(…)José Pedroza não visitava o empreendimento há 12 anos. Conforme o empresário, o hotel corre risco de desabamento(…)”

8 – A nova construção vai cobrir a vista, assim que possível

O plano diretor é o instrumento (lei) que regula o crescimento da nossa cidade. Ele impede que a infra-estrutura urbana entre em colapso, que toda nossa vegetação seja destruída e, dentre outras coisas, protege nossa visão do mar em vários trechos da cidade.
Não seria tão vantajoso demolir um hotel e construir outro no lugar se o novo não possuísse mais andares (para com isso ter mais espaço interno). Sobre isso, a empresa proprietaria deixa clara sua intenção de verticalizar assim que o plano diretor permitir.
“A ideia é construir inicialmente apenas o subsolo e o térreo que poderão ter diversas funções e se o projeto de ampliação vertical, por meio do plano diretor, for aprovado, expandir”, afirmou Pedroza.” (Representante do grupo Hotéis Pernambuco)
“(…) Já o hotel cinco estrelas só poderá ser erguido sobre o centro comercial depois que o Plano Diretor da cidade, que disciplina o uso do solo e impede a construção de edifícios na área do Reis Magos, for revisado. “Nós já deixaremos as fundações do hotel prontas para erguê-lo quando o Plano Diretor permitir”, explicou o empresário (…)” (Janeiro de 2014)
Ou seja, não é uma questão de “se”, é uma questão de “quando”. Com isso, Natal teria a vista do mar interrompida em um dos trechos (obviamente, não exclusivamente pelo hotel) mais em evidência da cidade. Isso vale tanto para quem mora atrás quanto aqueles que transitam e gostam de ver o mar.

9 – O hotel que era bonito por fora, também era bonito por dentro.

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Olhemos para o trabalho de interiores da arquiteta Janete Costa, à época, de fama internacional.
Mais detalhes aqui. 

10 – É consenso entre profissionais e estudantes da área (Arquitetura e Urbanismo) que é inaceitável a demolição do Hotel.

Se tem dúvidas sobre isso, basta dar uma olhada nos nossos apoios mais adiante.

11 – Quando a sociedade se organiza, pode mais.

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O Movimento Ocupe Estelita a anos barra a derrubada de uma série galpões históricos na área do Cais José Estelita. Saiba mais aqui.
Em Natal, o hotel também não está sozinho. Sua demolição vem a anos sendo atrasada/impedida por várias organizações, o que gerou oportunidade para que nosso coletivo aparecesse agora, nessa nova eminencia demolição.

12 – O coletivo #(R)ESISTE_REIS_MAGOS não está sozinho. Veja no momento as entidades que nos apoiam (esse número cresce dia após dia)

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Hoje são pelo menos 20 entidades e iniciativas que apoiam o movimento Resiste Reis Magos. Dentre elas, o Apartamento702, a Aneel, a Aspoan, Casa Chiapas, Cobogó, Ecopraça, Eletromusic, Kizomba, Ema, IAB, Iaphacc, Fenea, Cacau, Coletivo OIA, CAs de arquitetura da UFRN, UNP, UNINORTE, Facex, DCE-UFRN e CSP-Conlutas.
PS. Texto foi escrito em conjunto pelo pessoal do movimento Resiste Reis Magos. 

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