quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Cultura: Poetisas potiguares se unem e lançam livro nesta quarta-feira

 Por Sérgio Vilar para a redação do Diário de Natal

 (Carlos Santos /DN/D.A Press)A poesia é desnuda, atrevida. Se veste apenas de palavras e tenta suavizar a vida. Mas é tímida também, quando se esconde entre a multidão de vozes da internet. Foi preciso a poetisa Marize Castro - já lapidada após tantos impressos e impressões - resgatar cinco pedras sensíveis já aparadas pelo talho do talento amolado, experimentado em posts despretenciosos na blogosfera, em concursos literários e outras publicações. Cinco poetisas reunidas na palavra de timbre feminino e separadas em poesias cheias de estilo.

Adélia Danielli, Iara Carvalho, Isabella Maia, Letícia Torres, e Marina Rabelo se dividem em dez poesias, cada. Por Cada Uma (Editora Una, 71 pág.) foi o ancoradouro idealizado por Marize Castro. O livro será lançado hoje no Sobradinho Creperia (Rua Mipibu, Petrópolis). "Escrevia sem intenção, apenas para postar em blog. Mas Marize Castro nos acolheu. E como ela mesma disse, nós aceitamos correr esse risco", comenta Isabella. E o risco é o rabisco; é o abismoe o paraíso da poesia; é a palavra sem calcinha e sutiã.

"É o risco próprio da poesia: de se expor", comenta Isabella. "Escrever é enfiar o dedo na garganta, como disse Caio Fernando de Abreu", ressaltou Letícia. "E cada um interpreta esse risco à sua maneira", complementa Marina. Iara Carvalho, a única fora do encontro, responde com poesia: "escrevo/ com a/ musculatura/ alegre/ e oriental/ de quem/ descansa/ sobre/ o verbo/ e entre/ as flores". Adélia, a mais tímida, concordava com tudo. Talvez por isso seja a de sentimentos mais escancarados nas páginas do livro.

Adélia, 31, empresta linguagem enxuta à poesia; mistura ansiedade e angústia em poesias mais das vezes cortantes feito navalha: "Não queria ser assim/ ter esse legado de/ labirintos profundos/ queria ser amplo/ deserto promissor/ esperando apenas/ a água e a flor". Essa curraisnovense deixou o Seridó atrás da pele para transpirar existencialismos e amores ausentes: "(#) Entre perdidas cá nos achamos/ almas cansadas de tanto./ Somos duas embora muitas/ Somos luas inúmeras fases (#)".

A feminilidade está presente em cada página do livro. Na poesia de Iara Carvalho, 30, ela é mulher decidida, segura de si; é mais heterogênea e brinca de multiplicar sensações até no título: VIDRO-ME: "vocação/ para aquários/ é o que me salva/ do abismo". Do barro seridoense se fez Iara. E tal qual Adélia, também escruta os caminhos do interior da alma em UM BANHO: "há de ferver/ até convulsa/ minha água interior// depois escorrer lírica/ sobre papéis/ e silêncios".

Isabella, 25, é a caçula; parece manter o grito contido das adolescentes em cada poesia; vontade de viver, de explodir em palavras. "Quando queimei as pontes,/ O sagrado se espalhou como pólen.// Penetrou flores intocáveis (tulipa entre entulhos) E pequenas rachaduras/ Nos cacos de vidro dos muros.// Altiva, eu nada quis reter. (#)" É poesia solta, livre, libertária; poesia de menina-mulher. "(#) Por não me bastar,/ Lanço âncoras em fundo de pedra.// Sou toda aspereza/ Quando a retina se desloca procurando os faróis".
Mania de cartas
Em tempos virtuais onde pensamentos caminham vagos por fibras ópticas, Letícia, 34, tem mania de cartas. E nela, a poesia ganha endereço e sorrisos certos do leitor após os versos impressos no papel. Talvez por isso um texto mais corrido; um diário poético; de classe. "(#) Alguns, como nós, que dos dentes caninos fez mágoas/ Não enxergam a poeira e vivem dessa lama sem nome/ Também são bonitos e cheios de fome (#)".

Marina, 29, é a explosão da sensualidade de uma poesia direta, sem disfarces. É um streptease rápido de palavras e um gozo múltiplo após um roçado íntimo entre frases e sensações: "chupe minha língua/ até me deixar sem palavras/ e aprendermos a linguagem/ [dos sinais". A intensidade na poesia de Marina está presente mesmo quando há tranquilidade: "quando há calma/ folheio livros// a poesia me aflige". Ou quando ainda havia esperança: "quando criança/ caí entre cactos/ ainda me sinto/ cercada de espinhos (#)".

Embora "por cada uma", a poesia dessas cinco poetas está entrelaçada; se complementam quando frases enxutas pedem gritos, ou dores de amor suplicam audácia, ou ainda quando a juventude cheia de vida troca experiências com a vida mais regrada. São cinco gritos silenciosos de vozes descobertas. Ou como disse Marize Castro, "como as meninas de Levertov, estas mulheres poetas também descobriram a vida numa linha súbita de poesia. Após essa descoberta, não mais se conformaram. Somente o Paraíso agora lhes interessa".

Serviço
Lançamento literário
Livro: Por Cada Uma
Autoras: Adélia Danielli, Iara Carvalho, Isabella Maia, Letícia Torres, e Marina Rabelo
Onde: Sobradinho Creperia (Rua Mipibu, 684, Petrópolis - 3201-2680)
Data e hora: hoje, às 19h 

Sem comentários:

Enviar um comentário