Aids: o que mudou em trinta anos
Fonte: Jornal Tribuna do Norte
Dos primeiros casos registrados no início da década de 1980 à atualidade, o perfil dos infectados pela aids se modificou e alguns mitos foram quebrados. O câncer gay, como ficou conhecida a enfermidade que dizimava jovens (que tinham em comum a homossexualidade) nos primeiros anos da epidemia, deixou de ser uma doença restrita àquelas pessoas e passou a atingir cada vez mais jovens, mulheres e idosos. A maioria deles heterossexuais. De acordo com levantamento da UNAIDS (Programa da Organização das Nações Unidas para HIV/Aids), divulgado semana passada, 34 milhões de pessoas viviam com HIV/Aids até o final do ano passado. O que representa um aumento de 17% quando comparado com os índices disponibilizados em 2001.
A cada dia de 2010, mais de sete mil pessoas foram infectadas pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Deste total, cerca de 97% das infecções ocorreram em países de renda baixa e média. Seguindo a mesma lógica, aproximadamente mil crianças com menos de 15 anos se contaminaram e algo em torno de seis mil novos contágios ocorreram em adultos a partir dos 15 anos, diariamente em 2010. As mulheres respondem por 48% das novas infecções e os jovens com idades variando entre 15 e 24 anos, por 42%. No Rio Grande do Norte, os índices aumentaram entre mulheres e idosos heterossexuais. Somente entre 2000 e 2010, o percentual de pessoas com mais de 60 anos infectadas, subiu 150%.
A dona de casa Rita de Cássia (nome fictício), é uma das mulheres que entrou para esta estatística em nível estadual. Ela descobriu a doença há nove anos, após uma doação de sangue. "Eu sempre fui uma mulher fiel a meu marido. Jamais o traí ao longo de um casamento de quase 30 anos. Descobrir a infecção na terceira idade foi um choque muito grande. O que as pessoas iriam pensar de mim ao saberem disso?", indaga.
Aos 67 anos, falar sobre HIV/Aids com Rita de Cássia é quebrar tabus. Com medo de ser acusada de traição por familiares e amigos, ela prefere silenciar e esconder a doença. Mostrar o rosto é uma impossibilidade à maioria dos portadores do vírus. "O que eu posso fazer? Meu marido morreu aos 51 anos após um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Ninguém jamais soube que ele tinha aids. Nem eu sabia até que fiz a doação de sangue e recebi a ligação do Hemonorte dias depois. Eu escondo a doença com medo do preconceito", relata a aposentada.
A infectologista Tereza Dantas, que atua no Hospital Giselda Trigueiro, analisa que o aumento do número de infectados no Rio Grande do Norte segue a tendência mundial. Segundo ela, a principal causa é a não utilização dos preservativos e a não realização periódica de exames de sangue para detecção do HIV. "A epidemia se pauperizou. Ou seja, está atingindo pessoas de nível sócio-cultural e financeiro mais baixo. Está atingindo muitas mulheres e se interiorizou", atesta a especialista. A proporção entre infectados, que era de 40 homens para 1 mulher até meados da década de 1990, hoje se equipara em 1,6 homem para cada mulher infectada em quase todo o país.
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