segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Especial: A China e as minas do Rio Grande do Norte; Descoberta da xelita por acaso no RN; A retomada da produção de ouro no RN

Por Cezar Alves da Redação do Jornal de Fato

FOTO:  CÉZAR ALVES
O que um país do outro lado do mundo pode influenciar no cotidiano do interior do Rio Grande do Norte, mais precisamente na cidade de Currais Novos, região Seridó? A primeira vista é imaginável alguma influência. Mas, observando bem o quadro, não só o motorista potiguar, mas todos os profissionais do mundo têm suas vidas norteadas pelo que acontece no Oriente. A China tem a força. Em se tratando de mineração, foi capaz de extrair metais o suficiente para derrubar o preço no mercado mundial no final da década de 80 e agora está consumindo o suficiente para elevar o preço com a mesma força que derrubou.


Com o fim do governo de Mao Tse Tung, em 1976, a China começou a crescer. Nesse período, as mineradoras ao redor do mundo produziam a todo vapor. No Rio Grande do Norte, havia milhares de mineradores extraindo ouro, xelita, ferro, mica, entre outros metais preciosos, nos municípios de Tenente Ananias, Alexandria, Lajes e principalmente na região Seridó, com destaque para Currais Novos. Na época, o garimpeiro Francisco das Chagas Dantas, de 36 anos, disse que ganhou a vida cavando e quebrando pedras para extrair ouro e xelita. "Os 'homi' vinham pegar o ouro de helicóptero", lembra Das Chagas, que hoje é mototaxista.
Só que a China começou a produzir ouro, ferro, xelita no final da década de 80 em grande quantidade, derrubando o preço no mercado internacional e inviabilizando a produção em dezenas de países, inclusive no Brasil. Das Chagas ficou desempregado. "Paramos de produzir, porque era inviável. Nossas máquinas e nossos profissionais foram contratados pelo Governo do Estado para trabalhar na construção de estradas e na instalação de várias adutoras", diz Rogério Barreto Drummond, diretor financeiro da Mineração Tomaz Salustino S/A, da Mina Brejuí, em Currais Novos.
Mesmo produzindo muito, a China, com sua população de 1,3 bilhão de habitantes, começou a reverter o quadro depois do ano 2000. Passou a consumir metais preciosos mais do que extraía em seu território. O consumo no país disparou e fez faltar ferro, xelita e ouro no mercado mundial. O preço do ouro na Bolsa de Valores de Londres, por exemplo, aumentou 540%. Os demais metais, como ferro e xelita, também ganharam preço, não com a mesma proporção do ouro, que virou refúgio para o investidor fugindo da depreciação principalmente do dólar e do euro.


Uma das grandes mineradoras internacionais, a Crusader, da Austrália, por exemplo, virou seus olhos para o Brasil, focando uma parcela considerável de seus investimentos no Rio Grande do Norte, onde comprou a Mina São Francisco, distante 25km de Currais Novos. "Nos últimos quatro meses, requeremos ao Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM) entre 40 e 50 novas áreas no Rio Grande do Norte, somando 100 mil hectares. Não temos resultados dessas áreas ainda, mas temos boas perspectivas", afirma Robert Smakman, diretor do grupo no Brasil.


No caso da Mina São Francisco, em Currais Novos, o DNPM recebeu relatórios da Crusader apontando reserva de ouro o suficiente para dez anos de exploração. Robert Smakman informou, em reportagem da Tribuna do Norte publicada no início deste mês, que a previsão é extrair uma média de cinco toneladas de ouro por ano em Currais Novos já a partir de 2015. O motorista Francielio Pereira da Silva Alves, de 28 anos, espera ansioso em Currais Novos pela reativação das minas. "Estou só esperando para começar a trabalhar", diz Francielio Pereira, sem saber explicar direito os motivos da retomada das mineradoras no município.


EXTRAÇÃO DE FERROA extração está parada na mina do Bonito, em Jucurutu. A empresa responsável pela exploração é a Mhag. Falta estrutura logística para produzir, processar e embarcar o minério extraído em Jucurutu. Já, em Cruzeta, a mineradora Susa está a todo vapor. Já fez os primeiros embarques de ferro para a China e prepara os próximos. Assim como os outros metais mais preciosos, o ferro também ganhou preço no mercado mundial e o principal consumidor é a China.
Descoberta da xelita por acaso no RNA descoberta de metais preciosos no Rio Grande do Norte aconteceu por acaso, em 1943, época de II Guerra Mundial. O vaqueiro José Dias encontrou um pedra escura mais pesada do que o normal dentro de um riacho na localidade de Brejuí, distante oito quilômetros de Currais Novos, na região Seridó. O vaqueiro mostrou a pedra ao então desembargador Tomaz Salustino, casado com Tereza Bezerra, que havia herdado a propriedade dos pais, Antônia e José Bezerra.

Quem conta a história ao JORNAL DE FATO é o economista Rogério Barreto Drummond, bisneto de Tomaz/Tereza Salustino, que recebeu a equipe de reportagem do DE FATO na quarta-feira, 23, na sede da empresa, ao lado da Mina Brejuí, em Currais Novos. A mina é explorada desde 1943 pela Mineração Tomaz Salustino S/A. A mina chegou a empregar no auge de suas atividades, na década de setenta, cerca de 1.500 garimpeiros. No início dos anos oitenta, foram feitos investimentos em máquinas pesadas.



Só que no final dos anos oitenta, início dos anos 90, a China derrubou o preço da xelita no mercado mundial e a mineradora, a exemplo de todas as outras do Rio Grande do Norte e do Brasil, entraram em crise financeira. "Mas nós não paramos nossas atividades. Continuamos atuando aqui na mina e alugando o maquinário para fazer estradas e construir adutoras. Quando o mercado se tornou viável em meados de 2003, retomamos a produção", conta Rogério Barreto.


Rogério Barreto diz que o vaqueiro José Dias, caminhando nas margens de um riacho perto da fazenda, encontrou uma pedra de médio porte, porém pesando mais do que uma pedra grande. Achou estranho e a mostrou a Tomaz Salustino, que, por ser formado, teve a curiosidade despertada. Desconfiou que poderia ser algum metal precioso e mandou fazer análises. Em poucos meses, veio o resultado positivo. Imediatamente, começou a produção.
A xelita (tungstênio) é matéria prima para se fabricar armas de guerra e, como era época da II Guerra Mundial, havia uma carência muito grande, especialmente nos Estados Unidos. Em pouco tempo, centenas de trabalhadores foram contratados e capacitados para reconhecer a xelita entre outros tipos de rochas e iniciada a produção em escala industrial. Porém, como não havia máquinas e equipamentos para processar o minério, o trabalho era feito de forma artesanal.


A descoberta da mina de xelita em Currais Novos despertou a atenção de outras propriedades próximas, de outras cidades e de outras regiões. Alguns anos depois, já havia várias minas artesanais, inclusive as unidades existentes na região de Tenente Ananias e Alexandria, no Alto Oeste do Rio Grande do Norte, produzindo xelita.


"A quantidade não era problema, pois havia mais procura do que demanda. Costumavam dizer que o quilo de xelita naquela época dava para comprar 5 quilos de carne, quando o preço caiu no início dos anos noventa, com o dinheiro de um quilo de carne dava para comprar 5 quilos de xelita", explica Rogério Barreto, mostrando fotos de seus antecessores da família Salustino na Mina Brejuí, que originou todas as outras minas do Estado e hoje é a maior da América Latina, com aproximadamente 65 quilômetros de túneis, divididos em 12 pavimentos.


Atualmente, a Mina Brejuí está produzindo 20 toneladas de xelita por mês e é tudo exportado para a China. O negócio é fechado na Bolsa de Valores de Londres. Rogério Barreto disse que as máquinas compradas na década de oitenta estão sendo substituídas por outras mais modernas e adequadas à exploração do subsolo. "Enquanto isso não acontece, sete equipes de mineiros experientes junto com outros mais novos estão em atividade nos túneis", revela.


CURIOSIDADEA bisavó de Rogério Barreto, no caso Tereza Bezerra, era filha de José Bezerra e Antônia Bertina, proprietário de muitas terras na região Seridó. O casal deixou as melhores áreas de herança para os filhos homens, que iriam trabalhar na agricultura e pecuária. As áreas de região serrana, consideradas improdutivas na época, foram destinadas para Tereza Bezerra, que casou com o então desembargador Tomaz Salustino. Por ironia do destino, nas terras de Tereza Bezerra foi onde se descobriu que havia xelita em abundância.
A retomada da produção de ouro no RN
As minas Bomfim (em Lajes) e São Francisco (em Currais Novos) estão autorizadas pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) para começar a extração de ouro. O último registro de produção de ouro no Rio Grande do Norte, em 2009, foi de 47,65 gramas. A meta da Mina do Bomfim, já a partir de 2013, conforme o DNPM, é produzir três toneladas/ano. Em 2015, a previsão é de 5 toneladas, considerando o início das atividades da mina São Francisco.

A direção da Mina Bomfim, de Minas Gerais, prevê que o empreendimento entrará em operação nos próximos quatro meses, produzindo xelita e ouro. Já investiu mais de 20 milhões de dólares. De acordo com o engenheiro de minas Pedro Paulo Batista, diretor da mina, não é possível precisar a quantidade de ouro produzida, uma vez que o foco da empresa é a produção de xelita.



Em 2009, de quando datam os estudos mais recentes sobre o setor, o Brasil atingiu 56,4 toneladas de ouro. Mas o Rio Grande do Norte caminha para fazer parte do rol de grandes produtores do ouro no país. Além do grupo de Minas Gerais, o grupo australiano Crusader, que comprou a Mina São Francisco, deverá investir R$ 100 milhões em Currais Novos.
Em nove meses, o grupo já investiu R$ 4 milhões na realização de estudos e certificação. Atualmente, a empresa trabalha no plano de engenharia da mina, que dirá como explorar o ouro e por onde começar. O objetivo é produzir 3 toneladas de ouro por ano. Os investidores identificaram uma reserva de 24 toneladas na área, com base nos estudos realizados até o momento.


A jazida será explorada durante dez anos. Novas pesquisas identificaram uma possível nova jazida, indicando que pode existir ouro numa área ainda não pesquisada pelo grupo. O ouro será vendido para os bancos. Atualmente, o grama do ouro custa no mercado internacional aproximadamente R$ 80,00. Além de Currais Novos, o grupo Crusader se prepara para extrair ouro em outras áreas no Rio Grande do Norte, é o que garante o diretor do grupo no Brasil Robert Smakman.


A extração de ouro no RN começou há décadas, mas de forma rudimentar. Segundo Carlos Magno Cortez, superintendente do Departamento Nacional de Pesquisa Mineral no Rio Grande do Norte, empresas brasileiras não têm o hábito de investir em atividades arriscadas, como a mineração. Com a chegada dos grandes grupos estrangeiros, como a Crusader, esse processo tende a se modernizar e ampliar a produção. A Mina São Francisco já passou por outras tentativas de reativação, mas fracassaram exatamente por falta de equipamentos adequados.


OCORRÊNCIASO geólogo Otacílio Oziel de Carvalho, professor do IFRN, diz que existem pelo menos 10 municípios com indícios de existência de ouro no subsolo. O DNPM recebeu, até junho deste ano, 2.605 pedidos de autorização para estudos. Desse total, 302 são para pesquisa de minério de ouro e de ouro. Depois do ouro, vêm o ferro e o calcário. Este último, muito explorado em Mossoró e Baraúna, na fabricação de cimento. (Com informações da Tribuna do Norte)

Sem comentários:

Enviar um comentário