segunda-feira, 11 de novembro de 2013

FIM DE ANO: Chove emprego, mas qualificação é nó

Fonte: Jornal Tribuna do Norte

Os setores de comércio, serviços e turismo abriram juntos cerca de seis mil vagas temporárias de fim de ano no Rio Grande do Norte, segundo pesquisa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo no RN (Fecomércio).

No país, são mais de 230 mil oportunidades para quem deseja entrar no mercado de trabalho e tem interesse em se tornar um vendedor, operador de caixa, estoquista. Boa parte delas será preenchida ainda este mês, de acordo com levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito e da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL).

A oferta é de encher os olhos de quem está desempregado ou quer mudar de profissão. Há, porém, uma ‘pedra’ no caminho de candidatos e empregadores: a falta de  qualificação. Dina Cavalcante, secretária geral da Associação dos Lojistas do Midway, sabe muito bem disso. Ela é responsável por triar os currículos que a associação recebe todos os dias e costuma descartar diariamente até 80% do que chega.

Pilha de currículos no Midway Mall: Dina Cavalcante, da Associação dos Lojistas, descarta mais da metade dos que chegam
Pilha de currículos no Midway Mall: a Associação dos Lojistas, descarta mais da metade dos que chegam

Lojas têm dificuldade para contratar
“Não esperava que fosse ficar na empresa. Nunca tinha trabalhado em shopping. Não conhecia nada. Não sabia nem o que era uma peça. Mas eu queria ficar, e fui aprendendo até pegar experiência”. O relato de Gracileide Bezerra Cavalcanti, 33, é um entre tantos outros relatos de empregados temporários que foram efetivados. A estoquista, que já foi babá, balconista, auxiliar de professora, agora quer crescer na empresa. “Quero ocupar outros cargos”, aspira.
‘Abocanhar’ uma vaga temporária, no entanto, não é tão fácil quanto se imagina. “Falta qualificação técnica e competência comportamental por parte dos candidatos”, observa Lígia Silva, gerente de diretrizes educacionais do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial no Rio Grande do Norte (Senac/RN).

O resultado disso é o descarte de milhares de currículos todos os anos. Só o Midway Mall descarta metade dos currículos que recebe diariamente. Às vezes, até mais. Somente nos últimos 15 dias, chegaram 500. Embora tenha aberto mais de 800 vagas, o shopping já sabe que metade deles irá parar na lata do lixo.

“Mais de 50% dos currículos que recebemos não são aproveitados, porque os candidatos não apresentam o perfil adequado”, afirma Denerval Júnior, empresário e presidente da Associação de Lojistas do Midway Mall.

Os empresários nem sempre fazem muitas exigências. “A questão muitas vezes recai na qualificação básica, como saber ler, fazer cálculos básicos, falar corretamente”, explica Denerval. O banco de currículos do shopping é extenso. Há pelo menos dois mil aguardando uma oportunidade. Alguns deles estão nas prateleiras há bastante tempo.

O Natal Shopping e o Natal Norte Shopping enfrentam o mesmo problema.  Os três shoppings respondem juntos por 1/3 de todas as vagas temporárias de fim de ano criadas no estado em 2013. “No final do ano é feito um estudo comparativo com os curriculuns antigos e muitos são descartados pela falta de qualificação”, diz o Natal Norte Shopping,  que mantém os currículos por em média um ano e meio.

Gláucia Costa é gerente da Lupo, em um dos shoppings, e conhece bem esse quadro. “É muito difícil encontrar uma pessoa já preparada. Na maioria das vezes, temos que qualificar completamente esse funcionário. Isso nos exige esforço e mais investimento. Contratar pessoas qualificadas melhoraria o resultado da empresa e o resultado financeiro dos próprios temporários ”, afirma.

Origem

Para Flávio Borges, especialista em Finanças do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), as raízes desse problema são mais
profundas. “Existe uma carência na educação básica. Então atribuir esse problema aos candidatos e simplesmente dizer que são eles que não buscam qualificação seria injusto. Por mais que recomendemos que as pessoas busquem se capacitar, isso não depende só da iniciativa da pessoa. Depende da estrutura que o Estado disponibiliza”, afirma.

Conquistar uma vaga não é tudo. Quem se torna temporário, tem outra batalha pela frente: ter a carteira assinada e seus direitos reconhecidos. Segundo levantamento realizado pelo SPC Brasil e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, 43% dos empresários não pretendem assinar a carteira dos funcionários temporários que contratarão nesse final de ano.

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