A maior ameaça à disseminação e preservação das sementes crioulas no semiárido brasileiro é a contaminação de material crioulo por sementes geneticamente modificadas. De acordo com Luciano Marçal Silveira, membro do Comitê Gestor do Projeto Agrobiodiversidade no Semiárido da Articulação Semiárido Brasileiro - ASA, a instituição “fez um monitoramento recente por meio de testes de transgenia junto à rede de casas ou bancos de sementes e, dos 900 testes realizados, quase 300 apontaram contaminação do milho crioulo”. Segundo ele, isso ocorreu porque as sementes transgênicas enviadas pela Companhia Nacional de Abastecimento – Conab para as famílias enfrentarem o problema da seca dos últimos sete anos, foram plantadas, contaminando as sementes crioulas. “O cultivo desse material tem produzido um efeito devastador, contaminando a grande diversidade das variedades de milho crioulo do semiárido. Esse é o quadro mais grave da atualidade”, diz.
Na concedida por telefone à IHU On-Line, Silveira apresenta o Programa Sementes do Semiárido, desenvolvido pela ASA em parceria com a Embrapa, para promover a expansão das sementes crioulas no semiárido. A iniciativa, bem como os demais programas da ASA, visa valorizar o potencial social-cultural e produtivo da região. “O Programa Sementes do Semiárido nasce com a preocupação de valorizar e garantir o acesso às sementes crioulas, que são parte importante do patrimônio genético que vem sendo cultivado, selecionado e conservado há séculos pelas comunidades que vivem no semiárido. Esse é um aspecto fundamental porque, ao longo das últimas décadas, os programas públicos sempre se orientaram partindo do pressuposto de que não existia material genético de qualidade na mão das famílias agricultoras”, afirma.
Silveira menciona ainda que o Programa Sementes do Semiárido, iniciado em 2015, “resultou na estruturação de mais de mil casas ou bancos de sementes comunitários de todo o semiárido brasileiro. É um programa que rompe com a estratégia convencional da política pública distributiva de sementes e passa a ancorar sua ação de forma a permitir que as próprias comunidades se organizem para a conservação e uso das suas sementes”.
Luciano Marçal Silveira é graduado em Agronomia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRJ. Atualmente é assessor técnico e membro do Núcleo da Coordenação da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia. Coordenou o Programa de Desenvolvimento Local da AS-PTA no Território do Polo da Borborema, PB, de 1993 até 2010. Integrou o Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável - CONDRAF entre 2004 e 2016 e integra a Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica - CNAPO, sendo membro da Subcomissão Temática de Sementes.
Sem comentários:
Enviar um comentário