domingo, 5 de fevereiro de 2012

Saúde

Lixo hospitalar não tem destinação correta no interior

Maiara Felipe, especial para O Poti

Pelo menos 50% das 160 unidades de saúde do interior do estado, entre públicas e privadas, apresentam problemas na hora de manejar o lixo hospitalar. Apesar de ter crescido o número de estabelecimentos que fazem a destinação correta dos resíduos, muitos hospitais ainda apresentam dificuldades, por exemplo, na hora de ensacar e abrigar corretamente o lixo. Somado ao problema acentuado de manejo está a destinação correta do lixo. A Stericycle (Serquip), a única empresa do Rio Grande do Norte que faz o serviço de coleta de resíduos hospitalares, diz que dos 167 municípios do estado, apenas 69 são seus clientes.

Em outubro do ano passado, o Brasil se preocupou com os dois contêineres apreendidos no Porto de Suape (Pernambuco), vindos dos Estados Unidos, contendo 46 toneladas de lixo hospitalar. A fiscalização da Vigilância Sanitária encontrou dentro das caixas materiais similares aos reaproveitados no polo têxtil da região, o segundo maior do país. Já na região metropolitana de Natal, o ano de 2011 foi do descarte irregular de medicamentos. Ocorreram casos em Jenipabu, na Cidade da Esperança e no conjunto Cidade Satélite. Em algumas situações as pessoas queriam reaproveitar o remédio. Tanto no caso do lixo como dos remédios, o risco de infecção por parte dos que fazem o manuseio desses resíduos é altíssimo.

Além da falta de consciência das empresas geradoras, a ausência de fiscalização nesses locais pode ser apontada como um dos fatores que colaboram para o descarte inadequado. A fiscal e bióloga da Subcoordenadoria de Vigilância Sanitária (Suvisa), Maria Auxiliadora Barros, explicou que o órgão é responsável por fiscalizar todos os estabelecimentos que geram resíduo no estado, com exceção de Natal e Mossoró, que fazem o trabalho por meio das suas secretarias de Saúde. "São 160 unidades de saúde, 200 laboratórios e os serviços de diagnóstico", declarou.

De acordo com a Resolução do Conama 358/2005, ainda deve entrar na lista da Suvisa: laboratórios analíticos de produtos para saúde; necrotérios, funerárias e serviços onde se realizem atividades de embalsamamento (tanatopraxia e somatoconservação); serviços de medicina legal; drogarias e farmácias, inclusive as de manipulação; estabelecimentos de ensino e pesquisa na área de saúde; centros de controle de zoonoses; distribuidores de produtos farmacêuticos; importadores, distribuidores e produtores de materiais e controles para diagnóstico in vitro; unidades móveis de atendimento à saúde; serviços de acupuntura; serviços de tatuagem, entre outros similares.

Nem de longe acontece a fiscalização em todos esses tipos de estabelecimentos. "É uma demanda muito grande", lembra Auxiliadora. A fiscalização feita pela Suvisa abrange a um percentual dentro da área de abrangência, o que atende a uma recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No caso dos laboratórios, por exemplo, somente 20% deles são fiscalizados, quantidade aceita pelo órgão federal.


No entanto, a Subcoordenadoria de Vigilância afirma que diminuiuo número de denúncias. Quando algum hospital descarta os resíduos em lixão - o que acontece ainda com frequência no interior - Auxiliadora diz que a unidade é autuada. Embora não tenha o número de autuações em 2011, ela garante que 50% dos hospitais fiscalizados apresentam problema na hora de manejar o lixo corretamente e que até o final de 2010 o percentual era de 78%. O órgão iniciou nas unidades um trabalho de capacitação com os servidores para melhorar o manejo de resíduos.

"Alguns não têm abrigo externo para o lixo, em outros as bombonas não comportam o volume, faltam sacos específico", aponta. Na opinião de Auxiliadora, a falta de planejamento seria o vilão dessas unidades, que não relatam os insumos à Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap) com meses de antecedência. O saco para o lixo hospitalar às vezes é usado em toda unidade ou o saco comum é utilizado nas bombonas, exemplificando o problema gerencial.

Coleta especializada atende apenas 69 das 167 prefeituras do RN

Sozinha no mercado potiguar, a Strecycle (Serquip) é responsável pela coleta e incineração de todo lixo hospitalar do Rio Grande do Norte. "Nós fazemos a coleta, o transporte e o tratamento final", explicou o gerente, Clébio Câmara Azevedo. Entre os seus 1.200 clientes, ele garante que estão todos os hospitais estaduais e particulares, porém, apenas 69 prefeituras. Licenciada pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema) desde 2003, a Serquip mostrou à equipe de reportagem do Diário de Natal o passo a passo do serviço que presta.

Assim que a empresa é contratada, bombonas com sacos adequados (que podem variar de tamanho) são deixadas no estabelecimento para descartar o lixo. Quando a bombona chega a capacidade máxima, os funcionários da Serquip vão ao local e recolhem os depósitos, que são levados em caminhões fechados, para não correr o risco do lixo cair na rua. Chegando ao incinerador, que fica na área industrial do município de São Gonçalo, o lixo é retirado das bombonas, pesado ereensacado. O passo seguinte é colocar o resíduo na máquina de incineração a 800 graus Celsius. O pó retirado do incinerador segue para o Aterro Sanitário da Braseco, em Ceará Mirim. Após serem esvaziadas, as bombonas são lavadas e colocadas novamente na rua.

No galpão, embora exista uma enorme quantidade de lixo, não é sentido odor forte ou percebida a presença de insetos, como acontece nos lixões. Os incineradores queimam em média 5,5 toneladas de lixo diariamente das 6h às 22h. "O lixo que chega aqui tem de tudo. [Materiais] perfurocortantes, peças anatômicas, remédios, seringas e até placenta", declarou o gerente do galpão, Cristiano Neves.

Apesar do preço cobrado pela Serquip para uma bombona de 25 quilos (a maior) ser de R$ 65, um valor considerado médio, quando se usa uma ou duas por semana, o caso do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel é bem diferente. Ele consome cerca de 50 bombonas por dia, gerando um custo diário de R$ 3.250.

Empresa funerária nunca foi fiscalizada


Grupo tem licença do Idema e possui única sala de tanatopraxia do estado 

O Grupo Vila, que atua no segmento de serviços funerários e cemitérios no estado, é um bom exemplo de empresa que faz a destinação correta do seu lixo infectante, mesmo nunca tendo passado por uma fiscalização. O gerente de cemitérios, Heber Vila, afirma que a funerária tem uma sala de tanatopraxia, onde os corpos são tratados antes do velório. Os fluídos do corpo são retirados e são injetadas substâncias químicas. Tanto os resíduos materiais que os corpos trazem do hospital como os da funerária vão para o lixo hospitalar. Semanalmente são usadas quatro bombonas de 25 quilos na funerária. A maior parte do lixo é material de uso comum. Em caso de embalsamento, as vísceras também são congeladas e em seguida jogadas na bombona.

O fato de só ter uma empresa fazendo a coleta e destinação do lixo não incomoda Heber. Na visão dele, o preço cobrado pela Serquip é justo e até hoje não houve problema no serviço prestado. Conforme o gerente, a única sala de tanatopraxia do estado é a do grupo Vila e que nunca passou por uma fiscalização, apenas foi licenciada pelo Idema. "Acredito que nunca aconteceu fiscalização por causa da credibilidade da empresa", declarou.

Usina recicla entulhos da construção civil

Um outro problema na geração de lixo são os entulhos da construção civil. Com o crescimento dos empreendimentos imobiliários no estado ficou mais evidente a falta de local para destinar o resíduo desse segmento. Para ajudar no equilíbrio entre o desenvolvimento urbano e o meio ambiente, começou a funcionar na semana passada a primeira usina de reciclagem de entulhos. A Central de Resíduos da Construção Civil do Rio Grande do Norte (RCC-RN) está instalada em São Gonçalo, em uma área de 50 mil metros quadrados, e vai fazer a reciclagem industrial de concreto, tijolo, cerâmica, pedra, gesso e madeira.

A usina tem capacidade para reciclar até quarenta toneladas de entulhos por hora. O caminhão coloca o material originário do canteiro de obra para ser separado, depois vai para a máquina, que transforma tudo em areia e brita. Esse material pode ser vendido 30% mais barato e é indicado para fazer pavimentação, terraplenagem, blocos e tubos de drenagem. De acordo com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos as construtoras são obrigadas a dar a destinação correta aos resíduos.

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