quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Mulheres já são 51,8% dos empreendedores iniciais do Nordeste e 45% dos empreendedores individuais do estado. A capacidade de exercer simultaneamente vários papéis sociais ajuda no sucesso dos negócios



Fonte: Novo Jornal

As mulheres estão ganhando o mundo dos negócios. Depois de abocanharem o mercado de trabalho e os mais altos cargos públicos, elas agora estão abrindo as próprias empresas. Já são 51,8% dos empreendedores iniciais do Nordeste, segundo a pesquisa Global Entrepeneurship Monitor Brasil 2012. No Rio Grande do Norte, uma realidade bem parecida: segundo o Sebrae, 45% dos negócios na área do Empreendedor Individual têm mulheres como donas. Um expressivo sinal de que os tempos estão, sim, mudando.

Ser multitarefa é uma qualidade presente em praticamente todas as mulheres dos dias atuais. E é essa característica que explica o fato de elas se darem tão bem nos negócios. “A mulher cuida dos filhos, faz almoço, varre a casa, atende telefone, assiste televisão, tudo ao mesmo tempo, coisa que o homem não faz. Essa característica ela também leva para os negócios”, acredita o gerente da unidade de orientação empresarial do Sebrae, Edwin Aldrin.

As mulheres também são mais criteriosas e cuidadosas, além de detalhistas e curiosas sobre como as coisas funcionam dentro de um negócio. Segundo Aldrin, o homem geralmente pensa menos e age mais. “A mulher pensa mais, tem mais cuidado, é mais detalhista. Minha equipe aqui é toda de mulheres exatamente por isso”, registra. Tê-las a frente dos próprios negócios, emenda ele, é uma tendência natural diante das mudanças culturais dos últimos 30 anos.

Conciliar as atividades de mãe, esposa, dona de casa e empresária é ainda a grande pedra no sapato de cada uma delas. A empresária Alessandra Oliveira nem lembra a última vez que tirou férias. Formalizou seu negócio, a EuQueFiz Brindes & Mimos, somente em maio do ano passado, mas desde 2010 produz brindes e presentes ao lado da mãe, artesã “desde sempre” como ela diz. Hoje ela também divide a sociedade da loja Coletivo Design com outra empreendedora individual e diz que uma das principais dificuldades nesse negócio de ser empresária é conciliar as tarefas.
Mãe de uma menina de 14 anos e grávida do segundo filho, ela administra a empresa, visita clientes, dá expediente na loja, viaja em busca de novidades e ainda cuida da casa e do marido. Gostaria, porém, de produzir mais os próprios itens, já que esta é a etapa do processo que mais gosta. “Às vezes me sinto abocanhada pelo tempo. Percebo que meu negócio ainda não cresceu mais porque sou sozinha para tomar conta de tudo”, desabafa. Alessandra conta com apenas a mãe e uma funcionária, que produzem os mimos.

Mas ser dona do próprio negócio compensa. Uma das vantagens que Alessandra encontrou foi poder ficar mais perto da filha. Como antes ocupava um cargo gerencial numa grande empresa e a representava em três estados, chegava a trabalhar até 14 horas por dia e viajava muito. Hoje trabalha no máximo oito horas e consegue ficar mais perto da filha.

“Lógico que quando recebo encomendas grandes, passo até três dias trabalhando pesado. Mas é sazonal, na maioria das vezes consigo administrar bem o meu tempo”, diz. O negócio começou com apenas R$ 6 mil, dinheiro que Alessandra recebeu da rescisão contratual de trabalho. Com a grana ela comprou computador, impressora, material de escritório e contratou uma funcionária na época. Publicitária, ela diz que sua formação foi essencial para o sucesso do negócio.

Conseguiu oportunidades e contatos durante o tempo que trabalhou na área. Começou, inclusive, atendendo os clientes das agências de publicidade, que sempre demandam lembrancinhas e mimos nas datas comemorativas. Hoje tem pelo menos 30 clientes corporativos fixos e no ano passado produziu 100 mil peças. Para Alessandra, abrir a empresa não teria sido possível sem o Empreendedor Individual e o apoio do Sebrae.

“Eu já estava estafada, vivia sem tempo. Já produzia os mimos em casa com a minha mãe, mas a demanda tinha crescido muito. Resolvi ir ao Sebrae, pedi orientação e entrei no EI. Hoje recebo em torno de 60 pedidos por mês, dos quais pelo menos 10% se concretizam”, conta. A criatividade necessária para o trabalho Alessandra trouxe da publicidade. Diz que até hoje nunca repetiu um brinde. Viaja muito em busca de novidades, vai a feiras nacionais e internacionais. O “pop-art” é o carro-chefe dos produtos.

O céu como limite  

A pesquisa GEM ainda mostra que, no Nordeste, 99,1% dos empreendedores iniciais não consideram seu negócio novo no mercado. Para 49,4% que responderam a pesquisa, há muitos concorrentes. Em 99,7% dos casos, eles não têm nenhum consumidor no exterior. A resposta de 50,2% foi que não há expectativa de gerar nenhum emprego nos próximos cinco anos, enquanto que 40,9% esperam gerar de um a cinco empregos nesse mesmo período.
É assim com a radialista e publicitária Lídia Peixoto, 29 anos, que há dois anos trabalha sozinha produzindo e vendendo bijuterias em pedras naturais. Hoje ela trabalha em uma agência de publicidade e no tempo que sobra produz as próprias peças. Montou o negócio quando ganhou uma causa na justiça dois anos atrás e decidiu que queria multiplicar o dinheiro. Comprou as primeiras 20 peças, que vendeu em apenas um dia.

Depois passou a pagar uma pessoa para montar as peças e no tempo livre que tinha ia até as lojas comprar os itens para montagem. Logo sentiu a necessidade de ter seu próprio design e, sozinha, apenas assistindo a funcionária trabalhar, aprendeu a montar as bijuterias. “O custo estava muito alto e como eu havia desenvolvido a habilidade, comecei a fazer tudo sozinha”, diz. Hoje Lídia tem em torno de 300 clientes e ainda coloca seus produtos para vender na Coletivo Design de Alessandra.

Em dias puxados, chega a produzir 20 peças por dia, sempre a noite, de madrugada e no intervalo de almoço. Lídia por enquanto não tem interesse de contratar alguém para lhe ajudar e quer, em pouco tempo, estar com renda suficiente para se dedicar exclusivamente à arte. A dificuldade, por enquanto, é conseguir tempo para conciliar todas as tarefas. O casamento e os filhos ainda não chegaram, mas é cada vez mais difícil comprar peças, produzir, vender e visitar clientes.

“Estou em busca de alguém de confiança para me ajudar e se envolver no projeto”, conta. Hoje Lídia já tem uma loja virtual junto com outros artesãos e possui clientes em várias partes do Brasil graças às vendas na Internet. Entre as vantagens de ter a própria empresa, Lídia é enfática. “Você faz o seu próprio salário, você pode crescer. O céu é o limite”, emenda. Ela considera o mercado feminino muito bom porque, na hora de comprar, “mulher não tem crise”, além de bijuterias ser um produto de fácil comercialização.

O fato de ter uma graduação ajudou muito a artesã na hora de pensar em abrir o próprio negócio. “Tenho materiais publicitários, desenvolvi ecobags de brindes, fiz manual que entrego para as clientes. A forma criativa de montar as peças, a mistura de cores, tudo isso a formação acadêmica ajudou. Essa contribuição de sempre buscar ler mais e investigar mais sobre moda também”, conta.
Do baú para as lojas
Quando foi demitida no ano passado, a turismóloga Naya Alves decidiu que era hora de começar a vender as balinhas de leite tão famosas de sua mãe. A receita criada há mais de 50 anos foi aprendida por Naya, que sempre fazia nas festas e eventos familiares de maneira informal. De tanto as pessoas dizerem para ela começar a vender, um dia decidiu que havia chegado a hora. 
Foi até o Sebrae se informar e acabou entrando em um curso sobre como montar um plano de negócio. Assim que a oficina terminou, passou a correr atrás de ideias para embalagem, layout, rótulo e toda a parte visual do produto. Fez um estudo de viabilidade financeira e, quando de fato começou a produzir para vender, a primeira linha teve 50 latas de balinhas, cada uma com 100 gramas. Hoje a produção média é de 1.200.

Padarias, delicatessens, restaurantes e cafés são alguns dos clientes de Naya, que pôs as balinhas de leite em 20 pontos de venda espalhados pela cidade. No início, era ela quem fazia tudo na empresa, hoje cuida basicamente das embalagens e da venda dos produtos. Apenas uma funcionária a ajuda com a produção. A maior dificuldade, diz, é a mesma das mulheres empreendedoras de atualmente: lidar com a jornada quádrupla.

“Ser mãe, esposa, empresária e dona de casa é muito difícil. Tenho que lidar com tudo e ser boa em tudo. Mas apesar da correria, hoje como dona do meu negócio consigo administrar meu tempo melhor. Passo mais tempo com minha filha em casa, deixo ela na escola”, conta. Foi a necessidade de ter a própria renda que motivou Naya a tornar a receita de família um negócio rentável. “Se você realmente está precisando e tem que fazer alguma coisa, você vai fazer. Acreditei no produto e vi que poderia dar certo. A autoconfiança é fundamental”, ensina.

A receita foi uma criação de sua mãe há mais de 50 anos. A matriarca era adolescente quando aprendeu a fazer os doces e os levava para vender na escola. Formada em Turismo com especialização em Hotelaria, Naya diz que a graduação a ajudou na área de gastronomia e com noções de administração.

Números
54,4% dos entrevistados do Nordeste acreditam ter o conhecimento, a habilidade e a experiência necessários para se começar um negócio
51,1% tem como sonho ter seu próprio negócio
51,8% dos negócios iniciais são de mulheres
34,8% dos empreendedores têm entre 25 e 34 anos
36,7% possuem segundo grau completo
47,7% ganham entre três e seis salários mínimos
10,3% empreendem por oportunidade
6,6% empreendem por necessidade

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