Em 10 anos mais que dobrou o número de universitários no Brasil e de alunos nas escolas técnicas. Houve evolução social de uma camada da sociedade, essas pessoas cada vez querem mais
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Durante evento na Etiópia, o
ex-presidente Lula falou sobre as manifestações e também sobre as ações
do prefeito Haddad e da presidenta Dilma, pesquisas, eleições 2014. Ele
afirmou que as manifestações que acontecem em todo o País são normais
em uma democracia e provam que a sociedade brasileira vive como uma
"metamorfose ambulante". Ao destacar que a presidenta Dilma teve um
comportamento 'extraordinário' e que foi solidária em relação às
manifestações, Lula disse que os protestos são decorrentes dos ganhos
obtidos pela população nos últimos dez anos de governos petista. As
declarações foram feitas ao jornal Valor Econîomico, durante evento na Etiópia, e publicadas nesta segunda-feira (1º)
Segue a entrevista
Como o senhor viu essas manifestações? O que levou as pessoas às ruas?
Luiz Inácio Lula da Silva: Eu acho que no Brasil temos
prefeitos, governadores, presidente da República... Eu sou um curioso
nesse aspecto. A primeira coisa que eu acho é que toda vez que um povo
se manifesta é sempre muito importante. Acho que democracia exige que o
povo esteja sempre em movimento, em manifestação, sempre reivindicando
alguma coisa. As reivindicações que o povo está fazendo, de melhoria de
transporte, de saúde, de educação isso é próprio do processo de
crescimento que o Brasil vem enfrentando. Se você analisar que em dez
anos mais do que dobrou o número de universitários no Brasil e de alunos
nas escolas técnicas, e que houve a evolução social de uma camada da
sociedade, essas pessoas cada vez mais querem mais. É assim. Quando
aconteceu a greve dos metalúrgicos em 1978 as pessoas se perguntavam por
que os trabalhadores fizeram greve. Eu dizia: porque eles tinham
aprendido a comer um bife e estavam tirando o bife deles! Começaram a
brigar para não perder o bife! Na medida em que as pessoas tiveram uma
evolução social, é normal que elas queiram mais coisa. De vez em quando
as pessoas reclamam que os aeroportos estão cheios. É lógico que tem que
estar cheio! Em 2007 você tinha 48 milhoes de passageiros voando de
avião. Hoje você tem 101 milhões de passageiros. Obviamente que vai ter
gente brigando. Você não tem [briga de passageiros] de ônibus, porque a
quantidade de passageiros que andavam de ônibus em 2007 é a mesma de
2012. Na medida em que as pessoas vão evoluindo vão querendo mais. Eu
acho importante. Eu acho que se as pessoas questionam custo da Copa as
pessoas que organizaram, que contrataram tem que mostrar. Não tem nenhum
problema fazer esse debate com a sociedade. E é fazendo o debate que
você separa o joio do trigo. Quem quer realmente debater, está
interessado em fazer coisa séria e aquilo que é justo. Nesse aspecto
Dilma tem tido um comportamento importante. De entender o movimento,
tentar dialogar com o movimento e construir as propostas possíveis. Se a
gente tiver qualquer preocupação com o exercício da democracia é muito
ruim.
O senhor se reuniu com Dilma e Haddad durante a crise. O que o senhor disse a eles? Faltou ouvir as ruas?
Lula: A coisa que o Haddad mais ouviu foi as ruas. Ele
tinha acabado de sair de uma eleição. Primeiro ele ganhou as eleições
por causa da proposta de transporte que fez para São Paulo, que era para
novembro mas talvez ele antecipe, não sei se tem condições de antecipar
(proposta do Bilhete Único Mensal). A propaganda do Haddad era o
seguinte: da porta para dentro muita coisa melhorou nesse país, mas da
porta para fora nada foi feito. E ele dizia que em São Paulo em oito
anos não havia sido feito nenhum corredor de ônibus. Ninguém pode, em sã
consciência, nem o prefeito, nem o vice-prefeito, nem um cidadão
qualquer dizer que o transporte em São Paulo é de qualidade. O metrô era
de qualidade quando andava pouca gente, quando tinha condição de
sentar. Mas agora que você tem passageiro para três vagões andando em um
vagão, vai piorando a qualidade. O que eu acho que pode acontecer no
Brasil é as pessoas se convencerem que de quando em quando gente precisa
refletir sobre o que está acontecendo, conversar com as pessoas e
tentar construir aquilo que precisa ser construído. É por isso que
elogiei o comportamento da Dilma nessas coisas. Ela humildemente foi
conversar com todos os segmentos da sociedade. Não se recusou a
conversar com nenhum.
Não demorou muito para fazer isso?
Lula: Não demorou. Ela conversou no momento certo. Não
poderia ter conversado antes, para discutir qualquer movimentação. O
que a gente tem que entender é o seguinte: a realidade no mundo é outra,
o povo está mais exigente, está tendo cada vez mais acesso a
informação. Hoje o povo não precisa esperar o jornal no dia seguinte, a
televisão à noite. As pessoas estão acompanhando as coisas 24 horas por
dia. As pessoas não estão mais lendo notícia. Estão fazendo notícia. Eu
acho que essa coisa é que é interessante. Nesse momento só tem uma
solução: é pensar, conversar e começar a colocar em prática coisas que
sejam resultado das discussões com a sociedade.
O senhor concorda com essa proposta de plebiscito sobre reforma
politica? O senhor ficou irritado com o fato de a presidente ter
consultado o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso?
Lula:Eu não posso fazer julgamento de acordo feito
entre partidos políticos. Cada partido esteve representado com seu
presidente e eles decidiram fazer o que tinham que fazer e vão colocar
em prática. Não sei como é que vão colocar em prática, mas vão colocar.
Nós temos o direito de conversar com quem bem entenda. Eu até agora não
ouvir dizer que Dilma conversou com Fernando Henrique Cardoso. Ouvi
setores da imprensa dizendo que ela conversou, o que ela não confirmou
em nenhum momento. Mas conversar com FHC, com Sarney, com Collor, com
Lula, é a coisa mais natural que um presidente tem que fazer. É
conversar com as pessoas. É o seguinte: o Brasil vive um momento
extraordinário de afirmação de sua democracia. Somos um país muito novo
no exercício da democracia. Se você quiser pegar a eleição do Sarney
como paradigma ou a aprovação da Constituição em 1988 temos 25 anos de
democracia contínua. É o periodo mais longo. É normal que a sociedade
esteja como uma metamorfose ambulante, se modificando a cada momento. É
muito bom para o Brasil.
Mas não preocupa o abalo na popularidade da presidente, que caiu 30 pontos percentuais desde o inicio do mês?
Lula: Veja, querida, não me preocupa. Se tem um
cidadão que já subiu e desceu em pesquisa fui eu. Em 1989 teve um dia no
mês de junho que eu queria desistir de ser candidato porque eu tinha
caído tanto que ia sair devendo para o Ibope (risos). Então eu cheguei a
pensar em desistir porque não tem como eu pagar voto. Só tenho o meu. E
depois com tantos figurões disputando a eleição fui eu que fui para o
segundo turno. A Dilma é a mais importante candidata que nós temos, a
melhor. Não tem ninguém igual a ela para ser candidata à Presidência da
República. Portanto ela será a minha candidata.
O senhor volta em 2014?
Lula:Não
Do Valor Econômico
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