O Poder Legislativo potiguar amanheceu acéfalo, sem ter quem por ele 
responda. Os mandatos dos membros de sua Mesa Diretora se encerraram no 
dia 31 de janeiro passado e, ontem, deveria ter acontecido a eleição dos
 novos dirigentes da Assembleia. 
 Mas, num gesto inédito e se 
valendo de uma brecha regimental, o ex-presidente Ricardo Motta, 
convocou, para hoje, a sessão para a eleição da nova Mesa.
 Quem 
comigo conversou nos últimos dias sabe de minha opinião sobre esse 
processo. A forma como se deu as discussões sobre as chapas para a Mesa 
Diretora gerou uma crise que poderia ter sido evitada se fosse outro o 
caminho seguido.
 Ainda em dezembro passado, durante um almoço com
 os deputados que apoiaram Robinson nas eleições, opinei que deveríamos 
definir uma posição em bloco sobre a sucessão da Mesa Diretora da 
Assembleia e que deveríamos propor uma AGENDA para o Poder Legislativo. 
Isso não aconteceu e essa foi a única reunião que participei sobre o 
tema.
 Depois de formadas as chapas - cujo processo não participei
 porque não fui convidado - fui procurado por alguns candidatos a cargos
 na Mesa. A cada um, expressei que estava aberto ao diálogo e opinei 
sobre minhas discordâncias sobre o processo. Com quem conversei, defendi
 a ideia da busca de um consenso, a partir de pontos mínimos de uma 
AGENDA. Sempre defendi, entre outros pontos: 1 - criação de mecanismos 
de aproximação da Assembleia e sociedade; 2 - democratização das 
decisões; 3 - relação do Legislativo com Executivo e demais poderes; 4 -
 funcionamento pleno das Comissões Temáticas; 5 - transparência dos atos
 da Casa; 5 - fim da reeleição na mesma legislatura.
 Também 
conversei, na última quinta-feira, com o Governador Robinson Faria sobre
 esse processo. A mim, o Governador disse que não opinaria sobre 
preferência em relação à escolha do presidente da Assembleia, tendo em 
vista ter correligionários e apoiadores nas chapas que estavam em 
formação. Me disse que eu ficasse à vontade, até porque teria assumido o
 compromisso, com os deputados José Dias e Ricardo Motta, de não 
intervir no processo interno da Casa. Me disse, ainda, que estava sendo 
cobrado para assumir uma posição diante da disputa, mas não faria isso.
 Mesmo não tendo sido ouvido sobre todo esse processo, a não ser para 
declarar apoio a um ou outro candidato, expressei minha opinião de que 
achava que isso não acabaria bem. Mas confesso: nunca imaginei que 
chegaria a tanto!
 Somente ontem à tarde defini o meu voto para 
presidente e nem tive tempo de comunicar formalmente ao candidato. 
Votarei em Ezequiel. Antes do início da sessão, informei a minha posição
 ao deputado Raimundo Fernandes, dizendo a ele que ainda estava em tempo
 de se buscar o consenso.
 O resto vocês já sabem.
 Na 
verdade, esse processo é reflexo do esgotamento do modelo de escolha da 
Mesa Diretora da Assembleia Legislativa do RN. Há quase 3 décadas, as 
escolhas se dão por acordos e manobras que favorecem indivíduos e 
grupos, possibilitando eleições sucessivas e infinitas para a 
presidência da Casa, criando empoderamentos e vícios que se perpetuam.
 Além de depor contra o ex-presidente Ricardo Motta, o que aconteceu ontem depõe contra o Poder Legislativo como um todo. Espero que este triste episódio seja superado.
Até para a Assembleia não ficar tão mal na fita perante a sociedade.
 Mas cá pra nós, este tipo de coisa só vai acabar mesmo quando houver 
uma reforma política que possibilite mudar - de fato - a escolha de quem
 vai representar a sociedade no parlamento.
 
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