sexta-feira, 3 de abril de 2015

TORTURA NUNCA MAIS >> Livro descreve o que foi o período da ditadura militar no Brasil

Em 1985, ano da redemocratização, o País foi apresentado pela primeira vez, de forma livre e transparente, ao horror levado a cabo nos porões da ditadura militar inaugurada, 21 anos antes, pelo golpe de 1964.

Naquele ano, a Editora Vozes, vinculada à igreja católica, aceitou publicar uma obra definitiva sobre o caráter do regime dos generais: o livro “Brasil: Nunca Mais”, organizado pelos jornalistas Ricardo Kotscho e Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, sob a coordenação de Paulo de Tarso Vannuchi.

O livro é parte de um projeto ambicioso, resultado de uma minuciosa pesquisa sigilosa que produziu cópias 707 processos políticos que transitaram pela Justiça Militar brasileira, entre abril de 1964 a março de 1979, a partir de ações levadas ao Superior Tribunal Militar (STM). 

Ao todo, foram mais de um milhão de páginas analisadas a partir da iniciativa corajosa de dois dos mais importantes líderes religiosos da história do Brasil, Dom Paulo Evaristo Arns, ex-cardeal arcebispo de São Paulo, e o reverendo Jaime Wright, então pastor da Igreja Presbiteriana Unida. 

Foi a partir do Projeto Brasil Nunca Mais que a nação pôde descobrir, horrorizada, que o País havia sido conduzido, por mais de duas décadas, por psicopatas que mantinham centros de tortura nos quais mais de duas mil pessoas, entre homens, mulheres e crianças, foram submetidas a todo tipo de sevícia.

O Projeto Brasil Nunca Mais identificou 444 torturadores – sádicos, estupradores e assassinos – da ditadura, mas estes nunca foram julgados ou punidos, beneficiados pela Lei de Anistia, de 1979, chancelada pelos militares que dela se beneficiaram. 

Entre as práticas usuais das bestas feras pagas pelo Estado para trucidar brasileiros e brasileiras, constavam as seguintes formas de tortura, segundo o Brasil Nunca Mais:

Coações morais e psicológicas
- Ameaça de violação sexual, ameaça de afogamento, ameaça de cortar orelha ou de cortar seios, cuspes no rosto, danças com urnas mortuárias;

Coações físicas
- Pontapé, pancada nos lábios com mangueira, palmatória, choques elétricos, murros, sevícias, tortura na frente de familiares, ácido no corpo; 

Violência sexual
- Estupros coletivos, introdução de objetos no ânus (velas, baratas e bastões de choque), órgãos genitais furados com agulha, esmagamento de pênis e testículos; 

Castigos com instrumentos
- Alicate para apertar e arrancar as unhas, cortes com giletes, marteladas nas juntas do corpo, queimadura de cigarro e com maçarico, canivete por baixo das unhas; 

Tortura com aparelhos mecânicos
- Corda amarrada no pescoço e nos testículos, pau de arara, suspensão pelos pés com os braços suspensos, suspensão pelos punhos com argolas, braços amarrados para cima nas grades;

Tortura com aparelhos elétricos
- Cadeira do dragão (cadeira de madeira com assento metálico para aplicação de choques elétricos), choques elétricos no ânus, seio e vagina;

Tortura contra sinais vitais
- Afogamento, asfixia, esponja de água na boca, sal grosso na boca; 

Torturas complementares 
- Água e sal para piorar o choque, ambiente gelado depois de uma sessão de espancamento, injeção de éter, sabão nos olhos; 

Torturas atípicas
- Uso de baratas, ratos e cobras para amedrontar a vítima, ingestão de fezes, urina e água da privada.

Para acessar os arquivos do Brasil Nunca Mais: http://bnmdigital.mpf.mp.br/

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