quarta-feira, 2 de março de 2016

MESMO COM TODO BOMBORDEIO, LULA CONTINUA NA FRENTE >> A força que protege Lula

Ricardo Stuckert / Instituto Lula:

O último DataFolha explica por que, a depender do juiz Sergio Moro, força-tarefa do Ministério Público e da mídia grande, a Operação Lava Jato não irá terminar tão cedo.
Embora já tenha produzido um massacre jurídico-midiático como nunca houve na política brasileira, realizando prisões cinematográficas em ritmo semanal por dois anos consecutivos, seguidas de vazamentos espetaculares destinadas a manter o país com a respiração em suspenso, do ponto de vista do seu alvo político a Lava Jato é um fracasso relativo.
Deixando de lado eufemismos morais e proclamações de tom messiânico, a operação ainda não deu conta de sua missão principal: eliminar o Partido dos Trabalhadores da cena política e, para isso, destruir a personalidade pública de Luiz Inácio Lula da Silva.
Programada para “deslegitimar a classe política”, como Sergio Moro deixa claro no artigo de 2004 sobre As Mãos Limpas Italiana, a Lava Jato se encontra na metade do caminho, ainda que tenha realizado um desastre político enorme, em grande medida injusto, sem fundamentos jurídicos coerentes com o Estado Democrático de Direito.
Desse ponto de vista, e imaginando que o país poderá cumprir o calendário eleitoral sem atropelos golpistas, nem Lula nem o PT deveriam ter direito de chegar a 2018 como uma força política-eleitoral expressiva. Os 37% mostram outra coisa. Mesmo que não seja capaz de vencer a eleição presidencial, o condomínio construído em volta de Lula também pode ser capaz de polarizar a resistência a um novo governo, que fatalmente irá dedicar-se desde o primeiro dia a revogar as conquistas da última década e meia.
Problema: para 37% dos brasileiros, informa Data Folha, Lula continua sendo o melhor presidente que o país já teve, um patamar sem comparação que se encontra a anos-luz de outros antecessores.
É um número ainda mais notável quando se recorda que Lula obteve essa aprovação dias depois da prisão do publicitário João Santana, da retomada de investigações sobre o tríplex, o sítio em Atibaia e outras notícias negativas. É bom sublinhar também que, do ponto de vista técnico, este desempenho – altamente competitivo por qualquer critério político – foi obtido numa pesquisa onde a memória sobre Lula foi rebaixada artificialmente por um questionário no qual as perguntas se limitavam a apontar pontos negativos.
Como sabe qualquer calouro de sociologia, se o objetivo era apurar como Lula é visto pela maioria dos brasileiros, teria sido indispensável incluir, para uma avaliação mais isenta e adequada, os pontos positivos cumpridos em seus dois mandatos.
Os 37% mostram que a luta não terminou. Neste patamar, nenhum eventual candidato presidencial pode ser desprezado. (No tempo em que Moro estudava a política italiana, o Partido Comunista havia chegado ao mais alto patamar de sua história, 34% de apoio eleitoral).
Fica difícil assegurar que Lula tornou-se porta-voz de um projeto político extinto, que o eleitor não reconhece, não valoriza nem pode reavaliar positivamente em futuro próximo, quando tiver condições de olhar para fatos e argumentos com alguma frieza e liberdade de raciocínio.
É por essa razão, que é possível prever novos ataques, até porque a oposição mostra-se tão frágil, tão carente de raízes reais junto ao eleitorado, que todo cuidado é pouco. Seus principais concorrentes conseguem perder intenções de voto mesmo quando são tratados a pão de ló – como se vê no Data Folha.
Não me parece absurdo constatar uma diferença importante. Lula tem caído com ajuda da mídia, da Lava Jato – e também da crise econômica – mas os líderes da oposição são derrubados por méritos próprios.    
Pode-se prever não só novas cargas diretas contra Lula e seu círculo mais próximo, mas também contra  empresários que, de uma forma ou de outra, integraram o tripé socioeconômico que deu sustentação as mudanças ocorridas a partir de 2003, alimentado pela “perspectiva de ganhos mútuos com a ampliação de um mercado de massas – vantajosa para as empresas, para a sustentação eleitoral dos governos Lula-Dilma e para os assalariados em geral, em especial para a parcela superexplorada dos brasileiros,” como argumento na página 19 do livro A Outra História da Lava Jato.
A súbita curiosidade da Operação Zelotes sobre a Gerdau coloca-se nesse contexto. O líder do grupo é uma velha liderança de linhagem conservadora, mas tem dado demonstrações frequentes de que se dispõe a colaborar com o governo Dilma quando considera positivo para o país. Coincidëncia, não?
Essa situação contém uma advertência para o governo e seus aliados, também. Os 37% de Lula se explicam por uma identidade política construída a partir de 2003, que a população reconhece e aprova, ainda que, em 2016, esteja enfrentando uma das mais graves recessões de nossa história econômica. Mais do que nunca, cabe ao governo preservar e fortalecer essa identidade, mostrando lealdade em relação às conquistas e direitos obtidos no período.

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