sábado, 8 de outubro de 2016

POLÍTICA >> Desconstrução de Lula é faca de dois gumes, diz especialista em opinião pública

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As análises que projetam o fim do PT estão equivocadas. A história é dinâmica. O PT tem dois anos para fazer acontecer e, se for o caso, surgir com nomes novos. 
A ofensiva continua, principalmente contra Lula, mas pode arrefecer se o PT tiver a humildade de compôr mais com a esquerda e abrir mão do comando."
Jornal GGN - Em entrevista ao GGN, a pesquisadora eleitoral e professora de Opinião Pública da pós-graduação da FESPSP, Jacqueline Quaresemin, avaliou que embora o PT tenha reduzido seu poder de fogo com o resultado da última disputa eleitoral - perdeu 60% das prefeituras que conquistou em 2012 - o ex-presidente Lula segue como "o candidato mais forte a nível nacional que o PT tem" e acumula condições de reverter a campanha jurídico-midiática que visa desconstruir sua imagem de liderança.
Segundo Quaresemin, a articulação contra o ex-presidente, que começou nos ataques sincronizados do PSDB e da Lava Jato ao PT e à reeleição de Dilma Rousseff, é uma "faca de dois gumes, porque Lula está descolado do partido faz muito tempo. Ele já é maior do que o PT. Embora desgastado, ele pode reconstruir tudo, ao contrário do discurso de aliados do atual governo, de que o PT e o campo progressista já não têm legitimidade, dado o resultado das urnas."
Para a especilista, "nada está dado". "As análises que projetam o fim do PT estão equivocadas. A história é dinâmica. O PT tem dois anos para fazer acontecer e, se for o caso, surgir com nomes novos. A ofensiva continua, principamente contra Lula, mas pode arrefecer se o PT tiver a humildade de compôr mais com a esquerda e abrir mão do comando."
Na quarta-feira (5), após fazer uma análise sobre os erros cometidos durante a disputa eleitoral que culminaram na perda de várias prefeituras de peso, incluindo São Paulo com Fernando Haddad, o PT emitiu um comunicado à militância admitindo que não conseguiu "reconquistar o apoio, a confiança e a identidade da classe trabalhadora, dos pobres e dos setores médios, inconformados com o ajuste fiscal implementado pelo nosso governo."
Apesar disso, anunciou uma diretriz que pode ser vista como o embrião de uma frente ampla de esquerda, ao descentralizar o apoio a partidos no segundo turno das eleições, em 30 de outubro. "A Direção Nacional do PT orienta nossa militância a apoiar incondicionalmente as candidaturas do PSOL, do PCdoB, da Rede e do PDT nas capitais, bem como daqueles com quem já estivemos no primeiro turno. Além disso, sugere aos diretórios municipais que avaliem localmente a quem devemos negar apoio e voto."
Segundo a especialista em opinião pública, o PT deve "ressignificar a experiência de 2016". "Não acredito na sua refundação, mas ele já deveria ter pensado nessa frente mais ampla desde que chegou ao poder. Juntar esse campo progressista e democrático-popular é importante para o que se vai enfrentar em 2018."
A professora de pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais, Mara Telles, acredita que os partidos de esquerda precisam, ainda, "descongelar" suas estruturas e apostar em novas lideranças.
"A crise não é do PT, é das esquerdas, é mundial, e aqui no Brasil foi agravada pela Lava Jato e pela falta de estratégia das lideranças partidárias. A direita sempre existiu. Ela só se aproveitou da janela de oportunidades para crescer um pouco. Acho que os outros partidos de esquerda fizeram isso, se renovaram. Todos já passaram por crises vinculadas à questão da corrupção. Na Espanha, Felipe González (PSOE) foi derrotado após dois governos exitosos. O PT deveria olhar essa experiência." (Leia mais aqui)
Haddad como liderança
Ainda segundo Jacqueline Quaresemin, a derrota de Haddad em São Paulo é significativa se considerados os inúmeros obstáculos a sua reeleição. "A campanha tinha dificuldades internas, ele era mal avaliado nas pesquisas e ainda disputou com um candidato forte e com recursos financeiros. Tem duas formas de olhar isso: o PT sai, sim, derrotado na média nacional, mas em São Paulo, Haddad ter chegado em segundo em meio à campanha antipetista é uma vitória. Isso evidencia que ainda é possível construir com as forças progressistas. Penso que ele sai fortalecido para deputado ou governador em 2018."

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