quarta-feira, 13 de setembro de 2017

MEIO AMBIENTE X AGRONEGÓCIO >> Manifesto pede fim de compra de soja e carne de áreas desmatadas no Cerrado

Marizilda Cruppe/ Greenpeace. Vista aérea da cidade de Balsas, Maranhão, na região conhecida como Matopiba, que abrange os estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.A mensagem vai para produtores e compradores, além de investidores, na intenção de puxar um movimento similar ao que instituiu, com sucesso, a Moratória da Soja na Amazônia
O Cerrado é hoje a principal fronteira de expansão agrícola do Brasil e, consequentemente, o bioma mais desmatado do País. Isso o faz, também, um dos biomas mais ameaçados do planeta. As taxas de desmatamento no Cerrado superam as da Amazônia há mais de dez anos. Entre 2007 e 2014, 26% da expansão agrícola ocorreu diretamente sobre a vegetação de Cerrado, puxando também a expansão pecuária.
Por isso, ambientalistas lançaram neste Dia do Cerrado, 11 de setembro, manifesto pedindo responsabilidade do mercado pelo fim do desmatamento no bioma. As organizações não-governamentais direcionam o recado aos produtores e compradores, além de investidores, na intenção de puxar um movimento similar ao que instituiu, com sucesso, a Moratória da Soja na Amazônia.
A principal mensagem é que não se compre mais soja e carne oriundas de áreas desmatadas no bioma. Além do sentido prático de um mecanismo de mercado que reduza ou anule o valor da produção nessas condições, a adoção deste compromisso favoreceria os produtores que já atuam com práticas sustentáveis.
“Esse manifesto vem, entre outros motivos, para dizer que todos esses setores têm papel fundamental, pois se não há compra [de soja e carnes provenientes de áreas de desmatamento] não há razão para desmatar”, analisa Frederico Machado, especialista em Conservação Agricultura e Meio Ambiente do WWF-Brasil, uma das organizações que puxaram o movimento. “É importante que esses setores que movimentam o mercado reforcem que a questão não é só a Amazônia, mas que outras vegetações, a exemplo do Cerrado, são fundamentais.”
Ao todo, 40 organizações assinam o manifesto “Nas mãos do mercado, o futuro do Cerrado: é preciso interromper o desmatamento”. Neste momento, apenas organizações da sociedade civil assinam a carta. Mas, de acordo com o WWF, o objetivo é expandir as adesões para financiadores e marcas.
Machado afirma que uma das justificativas do setor para não monitorar a origem do produto, bem como os níveis de desmatamento, é a falta de dados sobre o bioma. O governo se comprometeu a disponibilizar os dados oficiais do desmatamento do Cerrado anualmente. Os primeiros números, referentes ao período até 2015, já foram divulgados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações.
Os dados são impressionantes: de 2013 a 2015, o Brasil destruiu 18.962 km2 de Cerrado. Isso significa que, a cada dois meses, nesse período, o bioma perdeu o equivalente à área da cidade de São Paulo.
Desmatamento prejudica a própria atividade
Além da questão da conservação e monitoramento, o manifesto lançado pelas ONGs levanta o debate sobre mudança do clima e disponibilidade hídrica na região que é chamada de berço das águas do Brasil: diversos estudos mostram que a conversão de mata nativa em área desmatada no bioma alterará o regime de chuvas. Ou seja, o desmatamento prejudica a própria atividade agropecuária.
Na outra mão, a da mitigação das emissões de gases de efeito estufa, o desmatamento do Cerrado impede até o cumprimento dos compromissos internacionais do Brasil em relação à redução de emissões: segundo os estudos que embasam o manifesto da sociedade civil, o Cerrado estoca o equivalente a 13,7 bilhões de toneladas de dióxido de carbono.
E, para os ambientalistas, não basta só cumprir os acordos internacionais de biodiversidade e clima, mas ir além deles para uma proteção efetiva do bioma. “Nosso compromisso perante a Convenção do Clima das Nações Unidas tem uma série de falhas, inclusive uma que consideramos algo próximo do absurdo, que é comprometimento com meta de, em muitos anos, acabar com o desmatamento ilegal, algo que jamais deveria ter entrado em um documento sério de diplomacia”, critica Machado.

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