Chanceler “em exercício”, o filho do presidente Jair Bolsonaro e deputado federal, Eduardo Bolsonaro, comentava em entrevista a iniciativa de conceder visto automático a turistas americanos em visita ao Brasil, quando cometeu uma indiscrição: “O brasileiro que vem para cá [Estados Unidos] de maneira regular é bem-vindo. Brasileiro ilegalmente fora do país é problema do Brasil, é vergonha nossa”.
O comentário mexeu com os brios da comunidade brasileira nos Estados Unidos, majoritariamente apoiadora do pai de Eduardo (no segundo turno das eleições, Bolsonaro teve 81,7% dos votos válidos entre eleitores vivendo no país). “Está todo mundo em choque, se sentindo traído”, disse a ÉPOCA a professora e diretora executiva do Brazilian Worker Center, Natalícia Tracy. “A comunidade é enorme, diversa. Para uma população imigrante cada vez mais marginalizada, foi muito triste ouvir esse tipo de declaração”, completou.
O Brazilian Women's Group, de Massachusetts, divulgou nota: “Vergonha é um político brasileiro, em viagem oficial paga pelo tributo do povo brasileiro, criticar seus concidadãos no exterior, durante encontro com personalidades estrangeiras”, escreveram as integrantes do grupo, que atua desde 1995. Elas continuaram: “Estamos acostumadas a defender nossa comunidade da perseguição, da discriminação e da xenofobia do governo americano. Nunca pensamos que precisaríamos defender os brasileiros do governo brasileiro".
Integrante do Conselho de Cidadãos de Boston, a goiana Margareth Shepard foi mais sutil na mensagem aos amigos: “Deixo para vocês meus amigos (as) indocumentados responderem à altura. De minha parte respondo com meus atos 'welcoming immigrants'". Eliana Pfeffer defendeu que o presidente “se desvincule dos filhos”. Terezinha de Oliveira defendeu o voto no pai, mas disse não responder pelo herdeiro. “Me responde se você tiver um filho mal caráter e você for culpado por isso”. Até o pastor Silas Malafaia, apoiador de Bolsonaro de primeira ordem, gritou: “Quando esse cara fala isso, mostra que não conhece a realidade do imigrante brasileiro”.
De 3 milhões de brasileiros vivendo no exterior, segundo o Itamaraty, 1,4 milhão estão nos EUA. Eduardo Bolsonaro é descendente de italianos que migraram para o Brasil no século passado para fugir da fome e trabalhar no interior de São Paulo. A repercussão da declaração indigesta levou o filho do presidente a tentar minimizar o caso, no próprio domingo. “A declaração foi para dizer que o Brasil tem responsabilidade com seus nacionais e não vai ficar permitindo que brasileiros entrem ou facilitando, melhor dizendo, a entrada de brasileiro em qualquer lugar que não seja da maneira legal”, justificou.
Os panos quentes não resolveram. No dia seguinte, Eduardo mudou o que disse, em entrevista à Record News. Afirmou que na verdade se referia a brasileiros que cometem crimes, como tráfico internacional de drogas, e tentam fugir para outro país. “Se você não é procurado pela Interpol e não cometeu crime em seu país, vai ser bem-vindo. Não só nos EUA, como no Brasil”, declarou. Na tentativa de passar a borracha de vez no assunto, jogou a batata quente no colo de jornalistas, em mensagem a Malafaia: “Se o senhor parasse de se informar pela extrema imprensa, também ajudaria”.
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