sexta-feira, 14 de junho de 2019

LITERATURA >> Quatro livros sobre política, folclore e história do RN

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MINHA LUTA POLÍTICA, de Sandoval Wanderley. Natal: EDUFRN, 2018

Teatrólogo entusiasta do teatro amador, Sandoval Wanderley (1893-1972) deixou gravado o seu nome na historia cultural do Rio Grande do Norte, e por isto é digno de todas as homenagens.
No entanto, ele também se distinguiu como político e jornalista de combate, companheiro de Café Filho em muitas jornadas, não só no RN, como na Paraíba, com atuação, notadamente, nos acontecimentos que culminaram com a Revolução de 1930 e a derrocada da República Velha. Como tal, Sandoval Wanderley também merece o reconhecimento dos potiguares.

Louvável a iniciativa da Editora da UFRN em reeditar o livro “Minha Luta Política”, de autoria desse D. Quixote moderno.
Lamentavelmente, o livro contém erros de revisão e trechos truncados, que comprometem toda a obra, da primeira à última página. Um desastre. Faz-se necessária uma nova tiragem, para sanar a enorme quantidade de gralha.

XARIAS E CANGULEIROS, de Veríssimo de Melo. Natal: EDUFRN, 2018. Edição fac-similar.

Neste livro, lançado pela Imprensa Universitária – UFRN, em 1968, reúnem-se diversos escritos do operoso autor nas áreas do folclore e da antropologia social aplicada.
O ensaio que dá nome à obra estuda um fenômeno curioso na crônica da cidade do Natal: “a rivalidade tremenda, que existiu até começos do século XX, entre habitantes dos dois bairros principais: Cidade Alta, onde moravam os Xarias; e Ribeira, cidade baixa, onde viviam os Canguleiros”. Rivalidade que, às vezes, se exacerbava em lutas e arruaças memoráveis.

Xaria era o comedor de xaréus e xareletes, Caranx hippos, Caranx chrysos. Canguleiro, comedor de cangulo, Balistes vetala, o peixe-porco, “Da preferência pelas duas espécies de peixes, teriam surgido os nomes dos bandos rivais” (P. 12).
Através da antropologia, da sociologia e da psicologia social explica-se a raiz dessa rivalidade.

Quais os principais artistas populares do Rio Grande do Norte? Veríssimo de Melo sabe, e diz em outro capítulo deste livro, depois de ressaltar a importância de Xico Santeiro, “mestre genuíno da escultura popular”.
São os seguintes artistas (em 1968): Luzia e Ana Dantas, Júlio Cassiano, José Quinino, Irene e José, filha e genro de Xico Santeiro, todos escultores, artistas da madeira; Antônio Soares, D. Marta e as Carneiro, ceramistas; Josefina Fonseca, artesã sui generis que “enche garrafas com areia de várias cores, traçando sugestivos desenhos de bichos ou simples motivos tradicionais”, e Maria do Santíssimo, “única pintora primitiva do Rio Grande do Norte”. Informações sumárias sobre cada um deles.
Outro capítulo interessante – “Devoções e Ex-Votos”- estuda os centros de devoções populares: Nossa Senhora dos Impossíveis, no alto da Serra do Lima, no município de Patu (RN); a capela de Zé Leão, em Florânia (RN) e as natalenses: Santa Cruz da Bica (aliás, decadente), a capela dos Reis Magos e a herma do Padre João Maria, situada na praça do mesmo nome, no centro de Natal.
No “Peixes e Pescadores da Redinha” (praia na foz do rio Potengi), afirma o autor: “Os pescadores conservam rico folclore, impregnado de misticismo e crendices marinheiras, resultado da luta diária e desigual contra os elementos mais bravios da natureza: o mar, tempestades, peixes estranhos e perigosos”. (Pág. 81). Esse patrimônio é pesquisado e revelado com riqueza de pormenores.
O capítulo seguinte – “Areias de Tibau” -, publicado também em plaquete, trata, com despretensão, de uma curiosa manifestação de arte popular: o enchimento de garrafas com areias da praia de Tibau.
Outros capítulos dignos de especial interesse, porque também referentes ao Rio Grande do Norte, são aqueles que versam sobre folc-música e folguedos natalinos. Valem como sínteses da alma do povo natalense. Além, naturalmente, da importância científica.
Veríssimo de Melo sabe dizer as coisas com simplicidade, e isto não é fácil, não. Somente bons escritores conseguem. A sua linguagem é aparentada com a objetividade jornalística moderna. Jargão intrincado, espanta-leitor, não é com ele. Resultado: a obra, acessível ao leigo, ganha amplitude divulgativa, valoriza-se mais.

PIRILAMPEJOS, de Francisco Chagas Lima e Silva. Mossoró: Editora Sarau das Letras, 2019.

Médico, professor e escritor, nascido e criado no interior do Maranhão, Francisco Chagas Lima e Silva mudou-se ainda adolescente para Belo Horizonte, onde constituiu família e realizou-se profissionalmente. É autor de dois livros de contos e crônicas e de um romance, obras em que busca, obstinadamente, a memória sentimental da infância vivida numa pequena cidade maranhense.
Neste seu novo livro, sob o título pouco feliz de “Pirilampejos”, ele volta a explorar o riquíssimo veio memorial, só que desta feita através da poesia. Experiência válida, pois, na verdade, o novel poeta está à altura do prosador.

Nesta simples nota não tenho a pretensão de analisar os seus poemas, mas não poderia deixar de ressaltar algumas qualidades, como o espírito de síntese, a clareza e a simplicidade com que expressa a sua “busca do tempo perdido”, sem cair nunca nas armadilhas de um sentimentalismo piegas.
Em um dos seus melhores poemas, ele rememora os encantos do seu mundo de menino provinciano, para, no final, dizer:
“Terás, porém, de pagar o preço:
serás compungido
a carregar pela vida
a mais profunda e renitente nostalgia.”

VIVI, O HOMEM QUE SABIA VIVER, de Protásio Pinheiro de Melo. Natal: IFRN, 2018.

Professor e escritor, Protásio Melo (1914-2006) reuniu neste livro textos diversos, intercalando o próprio depoimento com artigos, entrevistas e crônicas de vários autores sobre o seu irmão Veríssimo de Melo, escritor, folclorista, professor e jornalista, falecido em 1996.

Juntou também artigos do homenageado. Não se trata, pois, de uma biografia, mas, sim, de uma espécie de polianteia, que, embora pecando pela falta de método, contém valiosos subsídios para um retrato em corpo inteiro de um dos mais importantes escritores norte-rio-grandenses.

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