Presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) no Rio Grande do Norte, o ex-deputado estadual Júnior Souto acredita que a composição de uma frente ampla composta por partidos de esquerda é o caminho para vencer a disputa presidencial de 2022 e derrotar o que classificou como “governo neoliberal e de aspiração fascistas” – em referência ao presidente Jair Bolsonaro.
Apesar da redução no número de prefeituras conquistadas pela esquerda em todo o País em 2020, Souto defende o protagonismo da sigla que integra e acredita que o legado construído nos governos dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff pode aumentar a projeção do partido.
Para tanto, o ex-deputado reconhece que é necessário investir em comunicação assertiva para combater o que, segundo ele, é o maior ataque a um partido de esquerda no mundo ocidental.
Na avaliação de Júnior, o PT apresentou crescimento no Rio Grande do Norte nas eleições de 2020. Foram três prefeitos eleitos, ante dois em 2016, muito embora agora o partido tenha o controle do Governo do Estado, com Fátima Bezerra. O número de vereadores também aumentou, passando de 36 para 47 filiados (+30%).
Nesta entrevista exclusiva ao Agora RN, Júnior Souto afirma que o PT tem passado por um processo de renovação, e que os eleitos no RN comprovam esse comportamento.
Além disso, ele avalia a atuação do senador Jean Paul na corrida pela Prefeitura do Natal, comenta sobre a reeleição de Fátima Bezerra e analisa o comportamento bolsonarista no Brasil.
Confira a entrevista:
AGORA RN – Como o senhor avalia o resultado do PT nas eleições de 2020?
JUNIOR SOUTO – Nossas expectativas eram maiores que os resultados alcançados, especialmente quando consideramos as dimensões que o PT tem. Nós tínhamos a expectativa de realizar um grande debate em torno de um projeto alternativo para crise que o Brasil vive desde a instalação do governo neoliberal e de aspiração fascistas.
Mesmo não elegendo prefeitos em capitais, tivemos crescimento nas 70 maiores cidades em número de eleitores do Brasil. Isso tem valor e nos permite fazer projeções, além de refletir e reorganizar a nossa estrutura para continuarmos nos colocando como uma opção para os trabalhadores.
Essa é o caminho que temos para superar o fascismo e reconquistar o desenvolvimento de políticas públicas, garantia de direitos sociais, valorização do salário, direito ao trabalho e retomada do protagonismo brasileiro no plano internacional.
Tudo isso continua no centro de nossas preocupações. Vamos continuar a fazer o esforço de recolocar o partido no debate funcional, até porque em nenhum outro país do ocidente se teve tanto ataque a um partido de esquerda, como aconteceu com o PT. Precisamos mudar isso.
AGORA RN – Como recuperar, então, a imagem do partido?
JUNIOR SOUTO – Temos várias direções, mas eu vou destacar duas. Primeiro, precisamos voltar a discutir a melhor forma de comunicar e de continuar a lembrar a sociedade de todos os benefícios e avanços sociais que conquistamos no Brasil durante os governos de Lula e Dilma. Temos que discutir cada vez mais, e melhor, como a gente torna isso conhecido. Temos que insistir contra toda onda de articulação que busca apagar todos os ganhos que tivemos, como amplo emprego, protagonismo internacional, crescimento industrial, diminuição das contas públicas e distribuição de renda. Temos que lembrar desse legado popular.
O outro, por sua vez, é a necessidade de reconstruir os laços que o partido sempre teve com os movimentos populares e lideranças sindicais. É preciso discutir de que modo fazer isso, e essa tarefa temos que realizar a curto prazo.
AGORA RN – Como avalia o desempenho do senador Jean Paul na disputa pela Prefeitura do Natal?
JUNIOR SOUTO – Queríamos ter ido para o segundo turno. Entendemos que é um desejo político que não alcançamos. Mas há um reconhecimento do grande trabalho de Jean Paul, principalmente por causas dos desafios que a pandemia impõe, como fazer campanha de máscara e não ter uma interação mais aberta com a população. Isso limitou bastante, mas ao mesmo tempo mostrou a qualificação que ele tem para fazer os debates nacionais e locais, além da propriedade e conhecimento técnico.
AGORA RN – Associa o resultado de Jean à resistência que Natal tem ao PT?
JUNIOR SOUTO – Natal, há muitos anos, tem tido uma resposta muito dura ao PT. Eu fui candidato em 1992, Fátima foi candidata outras vezes. Temos feito esse esforço, nos questionando e nos desafiando a entendermos melhor esse comportamento. Mas isso se deve a formação política e cultural da nossa cidade.
AGORA RN – Como avalia a expressiva votação de Divaneide e a chegada de Brisa para a Câmara Municipal de Natal?
JUNIOR SOUTO – É um resultado extremamente animador para todos nós. É um processo que está em curso. Elas são representativas e apresentam uma nova forma de fazer política. Vamos apostar nesse elemento. Inclusive, as eleições municipais em todo RN reforçam o processo de renovação do PT.
AGORA RN – Analisando o cenário nacional, o resultado do partido em 2020 preocupa para 2022?
JUNIOR SOUTO – As eleições são muito conjunturais. Nós temos um problema seríssimo de desemprego no Brasil, que cresceu nos últimos anos. Além disso, há o desapontamento de parcela da sociedade com a política, que ficou evidente com a derrota das candidaturas com projetos bolsonaristas. O discurso de ódio, fala monocromática de corrupção e uso da religião voraz não foram capazes de mobilizar a população, porque ficaram evidente que esses compromissos são falsos. As razões por trás desse “discurso moral” são defesas do interesse do capital, a exemplo das reformas trabalhistas e previdenciária.
Os direitos sociais, por outro lado, terão força nas eleições de 2022. A experiência dessas forças autodenominadas como Centrão, que saíram dessas eleições com resultado mais expressivo de eleitos, é resultado das fugas aos debates e omissão das reais pretensões.
Por isso, acreditamos que o próximo pleito terá alguns efeitos do que aconteceu agora, mas não será uma relação direta, pois teremos muitas negociações, retomada da economia, reflexo mundial da pandemia, por exemplo. Isso, somado às situações de penúria que as pessoas estão vivendo, vai favorecer um grande debate nacional. Aí, as velhas forças que se julgaram vitoriosa vão ter que apresentar proposições sem fugir dos debates.
AGORA RN – Mas o número de eleitos em 2020, de modo específico, prejudica a base do partido para próxima eleição?
JUNIOR SOUTO – A conjuntura define muito esses alinhamentos. Traduzindo isso para o RN, Wilma de Faria ganhou uma eleição para o governo estadual em que um iniciou a campanha com o apoio de sete prefeitos. Desde então, os candidatos de partidos que têm maior quantidade de prefeitos sofrem derrota.
As eleições municipais não estão, necessariamente, alinhadas com as federais. A realidade das pessoas do interior, por exemplo, permite um voto mais livre para as campanhas majoritárias. Não podemos fazer projeções mecânicas de que essa eleição vai se repetir daqui a dois anos. O resultado inverso, inclusive, pode acontecer. Quem tiver maior base, pode ter um resultado adverso. No RN tem acontecido assim.
Além disso, temos um conjunto de indicadores que nos apresenta boas condições. Temos presença expressiva em número proporcional nas Câmaras, no Senado e nas pesquisas com eleitores sobre preferência e confiança em partidos políticos no Brasil. Resultados que não desaparecem em razão dos resultados municipais. Em 2020 teve uma atualização do quadro, mas ela não é determinante. Temos muitos elementos a considerar e o PT continua sendo fundamental.
AGORA RN – Dessa forma, é possível garantir que haverá uma frente ampla da esquerda em 2022?
JUNIOR SOUTO – Não tenho dúvidas que precisamos construir uma frente capaz de varrer o fascismo do Brasil. Ao olhar para trás e ver que fizeram o impeachment de Dilma, colocando o país em um aventura que gerou uma crise profunda, somente para emergir um discurso de ódio, que curiosamente apresenta apelo à violência e aos valores religiosos, é lamentável. O Brasil precisa superar essa experiência. E nós queremos trabalhar para superar por meio de programas que garantam direitos sociais, ao contrário do que tem feito o atual governo federal, e como fez Temer, com o apoio fundamental do Centrão. Precisamos debater para que as forças de esquerda e democráticas consigam construir um bloco capaz de derrotar o fascismo e a agenda neoliberal perversa.
AGORA RN – Os resultados deste ano ajudarão Fátima em 2022?
JUNIOR SOUTO – Nós tivemos uma base significativa de prefeitos aliados do governo que venceram este ano. O que resta é a habilidade de manter um grande bloco, e isso a governadora Fátima já mostrou que tem. O RN foi o último estado nordestino a romper com a tradição de perfil oligarca. Fizemos isso em um momento bastante delicado, de crise econômica. O estado se viu diante de uma gravíssima crise orçamentária, herança de governos passados, que praticavam patrimonialismo.
A governadora Fátima faz um grande esforço para retomar a competitividade do estado que foi perdida, especialmente nessa agenda tributária. O governo tem dado mais garantia e segurança jurídica nessa área viabilizando orçamento, valorizando servidores com pagamento e tentado recuperar a capacidade de investimento.
Essa é a governadora que tem trabalhado tanto, incansavelmente, e que atravessou esse período de pandemia, talvez comentando o pecado de não fazer uma boa comunicação sobre o grande legado que está deixando para o RN da estrutura que foi implantada na saúde. Coloco o estado potiguar em destaque em implantação de leitos no país.
AGORA RN – Quais os desafios para campanha de 2022?
JUNIOR SOUTO – Estamos de acordo para enfrentar 2022, mas, por enquanto, a governadora tem que olhar para o momento em que os casos de Covid-19 retomam com frequência, desafiando novamente a capacidade do estado de responder. O desafio é maior quando não se conta com a presença efetiva do governo federal em um momento delicado.
Mas adianto que crescemos proporcionalmente, o que permite ao PT construir um conjunto de alianças que coloca de forma muito expressiva a atual governadora na política estadual.
AGORA RN – Como avalia o governo de Bolsonaro?
JUNIOR SOUTO – O bolsonarismo é reflexo de uma cultura presente no Brasil. Inclusive, vamos ter longos anos de enfrentamento com essa coisa que emergiu, de forma odiosa. O presidente defende valores fundamentalistas, discurso moralista, negação de debate político e apresenta soluções para os conflitos sociais pela via da violência, utilizando expressões como bandido bom é bandido morto. Esse discurso de violência, na verdade, compõe elementos dos discursos do fundamentalismo religioso que estão a serviço do grande capital.
Fonte: https://agorarn.com.br/ultimas/presidente-do-pt-no-rn-defende-frente-ampla-esquerda-para-2022/
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