Reprovação à ‘Rosa’ é resultado de conjuntura e seus erros
Fonte: Blog do Carlos Santos
Versão de picuinha entre Natal e Mossoró é pobre e esconde realidade mais tenebrosa sobre governo
O que explicaria – ou justificaria – o patamar de 62% de reprovação do Governo Rosalba Ciarlini (DEM), em Natal, num curto espaço de apenas 14 meses? As linhas de raciocínio mais ouvidas situam-se nos extremos da passionalidade, em que escasseia o bom senso e sobram destemperos e argumentos frágeis.
Algo irrefutável, querendo ou não os mais extremados, é que Rosalba atinge um índice incomum em termos de impopularidade, no maior e mais representativo colégio eleitoral do estado. E nada é por acaso. Ela supera até mesmo a prefeita Micarla de Sousa (PV) em avaliação, num comparativo com igual período de gestão dela.
Este Blog mostrou números em postagem (clique AQUI) na sexta-feira (2), assinalando que Micarla em fevereiro de 2010 (14 meses de administração), ostentava 57% de reprovação e 31% de aprovação. Já Rosalba, disparou com 62% de reprovação e tão somente 22,4% de aprovação. Rosalba tem 5% maior desgaste do que Micarla.
Os mais simplistas e míopes, optam por não questionar os números e, sim, justificá-los pelo ângulo de uma caricata xenofobia coletiva e maciça do natalense, que hostilizaria o mossoroense - personificado em Rosalba, que nasceu em Mossoró. Tudo seria reflexo de intolerância.
É um argumento extremamente frágil, que tenta embaciar os fatos e distorcer a realidade. Cria-se um escudo protetor à Rosalba, na ânsia de mantê-la imune às suas próprias fraquezas como administradora. A culpa é sempre de alguém ou de algo. A ex-prefeita é tratada pateticamente como uma divindade infalível.
À luz da sociologia política, história e psicologia social esse desgaste renderia um volumoso documento analítico, que daria um ótimo tema à abordagem acadêmica. Mas não é preciso que façamos esse mergulho multidisciplinar, encadeado e denso, com lampejo de eruditismo, para encontramos o óbvio.
Rosalba não é vítima. Se existe vítima, a vítima é a sociedade, que até agora se pergunta quando vai começar a sua gestão e quais seus projetos de governo. Seu governo é medíocre. Ruim, não. Medíocre mesmo.
O natalense não pode carregar esse fardo, porque a culpa não lhe cabe. Afirmar-se que o povo de Natal tem ojeriza à Rosalba, numa transferência atávica de menosprezo por Mossoró, chega a ser infantil. Não se deve elevar à grau de importância, pinimba que fica mais no campo do folclore.
Vale lembrar que Rosalba foi eleita ao Senado em 2006 e ao Governo do Estado em 2010, atropelando seus adversários até mesmo em Natal. A capital potiguar ajudou sobremodo nas duas vitórias consagradoras da mossoroense. Cadê a hostilidade? Inexiste.
Existem informações de que o descontentamento não é localizado. Ele espraia-se como metástase por todo o Rio Grande do Norte. Em alguns municípios em que ela teve vitória com folga, o cenário de conceito popular ao seu governo é inversamente proporcional.
O que ocorre em Natal tem eco maior, devido a própria dimensão do município como núcleo político-administrativo e social do estado. Natal não é uma ilha. É o que há de mais visível e palpável de rejeição ao modelo e métodos adotados pela gestão Rosalba Ciarlini.
O governo recebe uma parte do que oferta. A reação, apontada nas pesquisas, é mais do que natural e pode estar mais amplificada, por outros fatores até alheios às ações e omissões de Rosalba e seu grupo, que estão aboletados no poder.
Sem dúvidas, que a conjuntura não lhe é favorável. Rosalba pega uma lufada de desapontamento com Micarla de Sousa, a prefeita que está se transformando num símbolo de incapacidade gerencial, a ponto de empalmar 91,6% de reprovação no mês passado, conforme pesquisa do Instituto Consult.
Em diversos municípios do interior tem-se observado um menor impacto (guardadas as suas proporções) dessa antipatia ao governo, principalmente quando a prefeitura aliada à Rosalba é melhor avaliada pelos munícipes. “Não significa dizer que a ‘Rosa’ vai bem, mas ocorre isso, conforme pesquisas para consumo interno, que nós temos” – diz um destacado assessor governista, em conversa ‘em off’ com o Blog.
Respingos
Natal é realmente diferente. O fenômeno negativo Micarla empurra a paciência do cidadão a níveis baixíssimos e isso termina se refletindo no Governo Rosalba, que mesmo equidistante da prefeita, sofre respingos. Por quê? Porque a atmosfera é carregada, melindrosa, asfixiante.
Entretanto, é também importante sublinhar que a própria governadora ajuda de modo considerável a atrair maus fluidos. Seu perfil de gestão, discurso e imagem governamental parece clonar Micarla. Difícil não ocorrer uma associação entre ambas, até de forma subliminar. O inconsciente coletivo ganha peso de revolta contra as duas e por transfusão de uma para outra.
Uma série de medidas impopulares, a ausência de projetos e ações de governo, além de uma pregação que traz à tona um “complexo de transferência de culpa”, deixam Rosalba à semelhança da prefeita. Se Micarla encontrou no antecessor Carlos Eduardo Alves (PDT) a razão de todos os seus fracassos, Rosalba faz o mesmo com Wilma de Faria (PSB)-Iberê Ferreira (PSB).
Compreensível, pois, que essa sociedade à beira de um ataque de nervos, tenha pavio curtíssimo. Está ‘por aqui’ com Micarla de Sousa e começa a estrilar contra a governadora. A mesma cidade que consagrou uma e outra, natalense e mossoroense, as enterra vivas. Resultado – ainda – do seu olhar mais crítico e maior suscetibilidade do que o restante do eleitorado potiguar.
Existem muitas explicações para essa reprovação de Rosalba. Há-as em grande número, mas em síntese é simples entender o que está acontecendo. A cúpula do governo sabe exatamente qual sua parcela de culpa. Resta saber se mudará métodos e meios, no tempo – ainda considerável – que lhe resta.
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