Por Blog do Miro
Na última sexta-feira, foi a vez de José Serra submeter-se a
sabatina promovida pelo UOL e pela Folha de São Paulo. Os
entrevistadores foram os mesmos que entrevistaram os outros candidatos:
Ricardo Balthazar, Vera Magalhães, Barbara Gancia e Maurício Stycer.
Devido à contundência a que foram submetidos os adversários de
Serra, não havia como amaciar com ele. Até porque, ocorrendo isso,
poderia haver denúncia à Justiça Eleitoral por parte dos outros
candidatos.
Pode-se dizer que o tucano foi perguntado sobre quase tudo de
importante e incômodo para si, ainda que com baixa insistência e com
desprezo aos principais argumentos.
Perguntaram sobre Hussain Aref Saab, ex-diretor afastado do setor de
aprovação de prédios da Prefeitura de São Paulo por acusação de
corrupção do Ministério Público. E que foi nomeado por Serra quando
prefeito.
Perguntaram sobre a privataria tucana, que dominou os debates
políticos no início do ano por conta de livro do jornalista Amaury
Ribeiro Junior que se tornou best-seller em questão de dias e que
durante meses liderou todas as principais listas de livros mais
vendidos.
Detalhe: o livro da privataria fez com que um pedido de CPI fosse
aprovado na Câmara dos Deputados – a investigação espera apenas que o
presidente da Casa determine sua instalação.
Perguntaram, também, sobre a rejeição crescente – e superlativa –do
candidato, que acaba de bater o recorde de 46%, e até sobre assuntos que
não são mais de sua alçada oficialmente, como a interdição de debates
sobre eleições na USP por determinação do seu reitor.
Barbara Gancia caprichou em polêmicas sobre aspectos da
personalidade de Serra em uma tentativa de se mostrar tão agressiva
quanto nas outras entrevistas. Nesse ponto, foi bem-sucedida. Ela foi
quem deu cor a um evento morno.
Seria desonesto, portanto, dizer que os jornalistas omitiram muitas
questões, ainda que não tenham sabido indagar Serra sobre escândalos
como o da privataria tucana, permitindo que se saísse com
desqualificação do todo em vez de responder aos fatos que o livro
revela.
Além disso, faltou a questão mais quente do momento em relação ao
tucano: o envolvimento da prefeitura, em sua gestão e na de Gilberto
Kassab, com o esquema Cachoeira.
Para quem não sabe, a prefeitura e o próprio Kassab foram citados
pela quadrilha de Cachoeira e há até inquérito no Ministério Público por
conta de contratos de lixo celebrados entre a capital paulista e a
empreiteira Delta. O assunto, porém, não apareceu.
Apesar dessa omissão, foi uma entrevista razoavelmente
bem-conduzida. O que a marcou, portanto, foi o show de embromação que o
entrevistado deu para não responder a absolutamente nenhuma questão
incômoda.
Serra, segundo ele mesmo, não sabe de nada sobre ataques que sua
campanha faz aos adversários e sobre corrupção em suas gestões, à qual
atribui somente aos envolvidos enquanto acusa adversários pelo mesmo que
pesa contra si.
Os entrevistadores teriam que ter perguntado de onde veio a
dinheirama que a filha do candidato recebeu do exterior aos vinte e
poucos anos. Ele não poderia se escudar na desqualificação dos
formuladores da denúncia em vez de explicar alguma coisa.
Ninguém que conhece o jornalismo tucano esperava que houvesse
omissão de temas tão candentes. Já se sabia que o que marcaria os
entrevistadores seriam, justamente, baixo empenho e pouca competência em
formular questões incômodas.
José Serra, porém, saiu-se mal. A parcela do público que esperava
seus esclarecimentos sobre tais questões, frustrou-se. Terminou a
entrevista e não obteve nada. O desempenho do tucano, então, ao menos
serviu para explicar a sua crescente rejeição.
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