Confira a programação completa:
2 de abril
14h30 - Auditório Central do Campus de Angicos
- Apresentação cultural: cordelista Hailton Mangabeira.
- Abertura Oficial.
- Assinatura da Ordem de Serviço para
construção do Memorial Paulo Freire: Museu e Centro de Formação pelo
Magnífico Reitor da Ufersa.
- Lançamento do Pacto Paulo Freire
pela Educação de Jovens e Adultos pela Secretária de Educação do Estado
do RN, Prof.ª Betania Leite Ramalho e instituições parceiras.
16h30 - Conferência com Dr. Marcos
José de Castro Guerra (ex-Coordenador de Círculo de Cultura): As 40
horas de Angicos: vítimas da Guerra Fria?
19h - Escola Estadual José Rufino
- Apresentação Cultural: Atração
musical regional e apresentação da peça “Paulo Freire” (Alunos de
escolas públicas estaduais. Direção do Prof. Cláudio Cavalcante).
- Exibição do filme as “40 Horas de
Angicos” e Documentário produzido pelo Núcleo de Referência da História e
Memória da EJA (NUHMEJA) da UFRN com entrevistas a ex-alfabetizandos.
- Círculo de Cultura.
3 de abril
Local: Auditório Central do Campus de Angicos
8h às 8h30 - Lançamento da Revista de
Informação do Semiárido (Risa) – Edição Especial Angicos 50 depois do
trabalho pioneiro de Paulo Freire nas “40 Horas”).
8h30 às 10h20 - Mesa Redonda: As 40
Horas de Angicos, Paulo Freire e sua influência nas práticas de Educação
de Adultos no Brasil e em Portugal.
Composição da Mesa: Prof. Dr. Moacir
Gadotti (Instituto Paulo Freire/Brasil) e Joaquim Alcoforado
(Universidade de Coimbra/Portugal); mediação: Prof.ª Rita Diana de
Freitas Gurgel.
10h20 - Intervalo
10h40 às 13h00 - Círculo de Cultura:
Relatos das experiências dos ex-Coordenadores dos Círculos de Cultura e
ex-Educandos das 40 Horas.
15h - Auditório Central do Campus de Angicos.
Concessão de Título de Cidadão
Angicano aos ex-Coordenadores dos Círculos de Cultura e homenagens
póstumas pela Câmara Municipal de Angicos.
A EXPERIÊNCIA
Angicos não é apenas um símbolo da
luta contra o analfabetismo no Brasil. É um marco da luta pela
universalização da educação em todos os graus, superando a visão
estreita de que os graus superiores são destinados apenas aos segmentos
das elites e das vanguardas. A proposta de Paulo Freire é mais ampla:
uma educação para a democracia, uma educação que potencialize a
construção da a cidadania. A luta contra o analfabetismo no Brasil, com a
experiência de Angicos passou a ter – particularmente naquele contexto
de 50 anos atrás – uma importância incomensurável, pois passou a
destacar a dimensão política como fundamento da função gnosiológica da
educação constituindo um passo importante para a construção da
Democracia Brasileira e da Cidadania Multicultural do Brasileiro.
Assim, conceber Angicos simplesmente
como uma experiência de alfabetização de 300 trabalhadores rurais, ou
como a aplicação de um novo e efetivo método “psicossocial” de
alfabetização, não é entender Angicos.
Angicos foi a fermentação de um
processo de mudança pedagógica mais vasta e mais profunda, além de
anunciar também a possibilidade de mudanças políticas e sociais também
de ampla cobertura e de profundidades abissais no Brasil e na América
Latina. Na turbulência social da época, em que a alfabetização de
adultos aparecia como pré-condição para o desenvolvimento social,
político e econômico, Angicos foi a voz dos nordestinos clamando por
justiça social, por solidariedade, por democracia. Assim, por mais
paradóxico que pareça, Angicos supera Angicos. Angicos foi um projeto de
cultura popular que imaginou e concebeu um projeto nacional de educação
para a uma sociedade democrática com justiça social. Angicos foi,
também, um projeto de cultura popular, isto é, um projeto de respeito
às tradições, à cultura e aos saberes do povo, r do qual Paulo Freire
foi o grande idealizador. A partir de Angicos, criou-se a Comissão
Nacional de Cultura Popular, com Paulo Freire como seu coordenador, como
um pedagogo empenhado na construção da cidadania democrática no Brasil.
E é a partir de Angicos que Paulo Freire se torna, com seu exílio
primeiro latino-americano e, depois, europeu, um cidadão do mundo e um
educador de renome internacional.
Angicos rompeu com a dicotomia
público-privado, em que o público é visto como problemático, decadente,
incapaz de promover a educação de qualidade, no limite falido, e o
privado é exaltado, especialmente o mercado, como eficiente, inovador e
proporcionador da educação de qualidade. Angicos não pode ser
simplesmente celebrado como algo do passado, mas como um farol que
ilumina o futuro. Um farol que orienta a criação de um sistema nacional
de educação. Um farol que aponta para a defesa da educação pública de
excelência, no contexto de um estado democrático. Um farol que postula a
reinvenção da gestão pública no Estado eficiente, honesto,
transparente, e, sobretudo, que contribui para o bem estar comum do
cidadão e que constrói a cidadania democrática.
Angicos explica, também, porque Paulo
Freire é um patrimônio do Brasil, da América Latina e do mundo.
Finalmente, reconhecido no Brasil, foi anistiado em 2009 e declarado
patrono da educação brasileira em 2012. Seu trabalho tem sido cada vez
mais lido, estudado, relido e aplicado em numerosas inovações
educacionais, marcando as transformações mais radicais, interessantes e
inteligentes da educação mundial.
Angicos é também um convite a um novo
pacto social, em que a educação, exercida de comum acordo com os
movimentos sociais e a sociedade civil, torna o Estado um instrumento de
transformação social, um instrumento de gestão do desenvolvimento, um
instrumento de luta contra a opressão, um instrumento de libertação e,
não simplesmente, de regulação e de “governança” da ação social, como
querem os neoliberais.
Cuidado, porém: Angicos não pode ser
simplesmente uma alternativa ao empobrecido e desmobilizador discurso
neoliberal, criando outro discurso alternativo. Angicos é também uma
metáfora de um discurso radical para que a escola pública se torne
popular, um discurso que não se estacione na mera retórica mas um
discurso que convide para a ação, um discurso que transite da teoria à
prática, um discurso que reconstrua as bases da gestão educacional no
Brasil e no mundo todo, sobre as ruínas da tormenta neoliberal. Só assim
Angicos, como metáfora, pode transformar-se em realidade.
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