sábado, 21 de março de 2015

Apoio a Agricultura Familiar >> Dilma abre colheita de arroz sem agrotóxicos: “assentamentos são alto negócio para o país”

Presidenta Dilma Rousseff durante 12ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz Ecológico. (Eldorado do Sul - RS, 20/03/2015) Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

“O Brasil tem que saber que isso é possível. Essa abertura da colheita do arroz ecológico mostra a qualidade e as possibilidades que os assentamentos de Reforma Agrária trazem para o país”. A afirmação da presidenta da República, Dilma Rousseff (PT), resumiu o sentido do ato de inauguração da unidade de armazenamento e secagem de arroz orgânico, da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap) e da 12ª abertura oficial da colheita do arroz ecológico, nesta sexta-feira (20), em Eldorado do Sul. Fundada em 1995, a Cootap é uma cooperativa de trabalhadores assentados da Reforma Agrária no Rio Grande do Sul, que tem como principal característica a organização coletiva de produção de arroz orgânico, livre de agrotóxicos. A cerimônia reuniu mais de 6 mil pessoas no assentamento Lanceiros Negros.
Dilma Rousseff destacou que, com a inauguração da unidade de armazenamento e secagem do arroz orgânico, os assentados estavam consolidando o domínio de toda a cadeia produtiva do produto. “Nós temos aqui os três pilares da política de Reforma Agrária que defendemos: a existência de agricultores assentados que, após a conquista da terra, se organizaram em cooperativas para produzir, a escolha da agroecologia para a produção de alimentos saudáveis e de qualidade, e o investimento na agroindústria para agregar valor à produção e fazer do campo um lugar onde é possível produzir alimentos, gerar renda e viver com dignidade”, assinalou. O trabalho da Cootap envolve 522 famílias em 15 assentamentos situados em 12 municípios do Rio Grande do Sul
Agricultura familiar de qualidade
“Nós estamos vendo aqui hoje que é possível desenvolver uma agricultura familiar de alta qualidade nos assentamentos. Estou falando para todo o Brasil ouvir. Essa é uma experiência que deu certo e que mostra que os assentamentos de Reforma Agrária representam um alto negócio para os assentados e para o país”, acrescentou a presidenta. Os números do trabalho da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados são expressivos. Hoje, a área total de arroz agroecológico ou em transição para esse modelo de produção é de 4.648 hectares. Desse total, 184,3 hectares são destinados à produção de sementes. A produção estimada para a safra de 2013-2014 é de 463.467 sacas. Para 2015, a previsão é de uma produção de mais de 400 mil sacas de arroz livre de agrotóxico.
Em sua fala aos milhares de assentados e convidados, Dilma defendeu as políticas de Reforma Agrária e de fortalecimento da agricultura familiar, implementadas desde o governo Lula. “Criamos linhas de crédito para a agricultura familiar, o seguro agrícola, linhas para a compra de equipamentos, investimos em assistência técnica e aqui aparece o resultado e as imensas possibilidades dessas políticas”. A presidenta destacou ainda o Programa de Aquisição de Alimentos (PPA), classificando-o como o grande alicerce dessas políticas. E ressaltou que hoje, das 150 mil famílias envolvidas no programa, só 3 mil estão organizadas em cooperativas. Dilma defendeu esse modo de organização: “Quem mais se beneficia dessas políticas são as cooperativas de assentados, pois elas acabam concentrando e potencializando a força dos agricultores”.
Dilma: “Nós estamos vendo aqui hoje que é possível desenvolver uma agricultura familiar de alta qualidade nos assentamentos. Estou falando para todo o Brasil ouvir".   Roberto Stuckert Filho/PR
Dilma: “Nós estamos vendo aqui hoje que é possível desenvolver uma agricultura familiar de alta qualidade nos assentamentos. Estou falando para todo o Brasil ouvir”. Roberto Stuckert Filho/PR
Assentados produzem suas próprias sementes
A presidenta reafirmou o compromisso do governo de investir na agroindústria como forma de aumentar a renda dos assentados. “A agroindústria vai dar condições aos agricultores familiares do nosso país. Dar condições a eles de agregar valor à sua produção e de produzir industrializando aquilo que eles plantam e colhem, ou aquilo que eles criam, e os produtos daí derivados”, avaliou. E assumiu o compromisso de criar uma linha de crédito, via Banco do Brasil, para financiar a agroecologia. “Eu colhi sementes hoje. Com essa produção de sementes, a cooperativa passa a ser autossustentável, controlando seu principal insumo. É esse o modelo de Reforma Agrária que queremos. Nós queremos assentamentos com essa qualidade que estamos vendo aqui hoje”.
O presidente da Cootap, Emerson Giacomeli, agradeceu a presença de Dilma Rousseff no assentamento para a abertura da colheita do arroz orgânico. “Para nós é uma grande alegria recebê-la aqui no assentamento que é uma conquista dos trabalhadores”. E fez um chamado ao diálogo para o governador José Ivo Sartori (PMDB). Giacomeli assinalou que a unidade de armazenamento e secagem foi construída graças a um convênio firmado entre o Estado, durante o governo Tarso Genro (PT) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e que os assentados estão dispostos a conversar e dar prosseguimento a parcerias como esta. “O diálogo deve continuar”, disse Giacomeli que interrompeu um princípio de vaias para Sartori, lembrando que todos que estavam ali eram convidados do MST e deviam ser bem recebidos.
Sartori defende continuidade constitucional
O governador José Ivo Sartori destacou a abertura da colheita e a inauguração dos silos como um “símbolo do que o Brasil precisa”. “Precisamos trabalhar em parceria e assegurar a continuidade constitucional e institucional. Os governos mudam, mas o Estado permanece”, afirmou, criticando os setores que estão defendendo o impeachment de Dilma Rousseff. Sartori defendeu a continuidade das parcerias entre movimentos sociais e governos estadual e federal e lembrou a aprovação da Lei dos Agrotóxicos em 1983, na Assembleia Legislativa gaúcha, como um marco na luta pela produção de alimentos saudáveis. Prefeito de Eldorado do Sul, Sérgio Munhoz também agradeceu a presença de Dilma e destacou algumas obras do governo federal que estão sendo realizadas ou previstas para a região: duplicação da BR 116 e da BR 290, construção da segunda ponte do Guaíba e duplicação da Estrada do Conde que liga Eldorado a Guaíba.
Integrante da coordenação nacional do MST, João Pedro Stédile, também saudou a presença de Dilma no assentamento e criticou o modelo de produção do agronegócio brasileiro que fez do país o maior consumidor de agrotóxicos no mundo. “A terra não é para dar lucro, mas sim para gerar vida, produzir alimentos saudáveis. Hoje temos 500 mil novos casos de câncer por ano no Brasil e muitos deles estão relacionados à contaminação por agrotóxicos”. Stédile pediu mais investimentos e políticas públicas para incentivar a agroecologia no Brasil e defendeu mudanças na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). “A Conab tem que ser transformada em uma empresa pública de alimentos, e não seguir como uma empresa a serviço do agronegócio. E o Incra precisa ser dirigido por alguém que tenha compromisso efetivo com os sem terra e com a Reforma Agrária”, afirmou.

Stédile também fez duras críticas à Rede Globo, em especial à cobertura que os veículos do grupo realizaram durante os protestos de 15 de março. “Assistimos estarrecidos ao que a Globo fez no dia 15. Quem faz campanha aberta por golpe de Estado está cometendo um crime constitucional. Eles querem dar um golpe nos programas sociais voltados aos mais pobres. Tem uma classe média reacionária aí que não aceita ter que assinar a carteira da empregada e que não suporta ver negro andando de avião. O golpe é contra os pobres, é contra a possibilidade do Estado ter políticas pública. É disso que se trata”, acrescentou o líder do MST que anunciou que as centrais sindicais e os movimentos sociais decidiram voltar às ruas no dia 7 de abril, com uma grande mobilização nacional. E dirigiu um recado final para a presidenta. “Dilma, não se assuste. Deixa o Rossetto cuidando do Palácio e vamos para as ruas”.

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