Segundo o estudo, as mulheres arcam com o fardo mais pesado, 90% das entrevistadas que trabalham no cultivo de uva na África do Sul afirmaram não terem tido o suficiente para comer no mês anterior. Segundo a Oxfam, a diferença entre uma renda mínima para se viver com dignidade e a renda recebida efetivamente é maior onde as mulheres são a maior parte da força de trabalho.
“Seja em pequenas propriedades familiares ou entre trabalhadores, normas de gênero profundamente arraigadas fazem com que o impacto seja mais grave para as mulheres: elas não têm direito de possuir terras, têm menos probabilidade de contar com representação sindical, assumem a maioria dos trabalhos de cuidado não remunerados, são discriminadas com relação a remuneração e progressão para funções superiores, e sofrem ameaças de assédio e violência sexuais”, diz o relatório.
A queda nos preços de exportação de vários produtos no longo prazo, 70% no caso do suco brasileiro, também ajudou a reduzir os preços pagos aos pequenos agricultores e produtores a pouco mais que o custo de produção. Como resultado, eles saem das cadeias internacionais de fornecimento e podem ser forçados a trabalhar nas grandes plantações da indústria alimentícia. No Brasil, o número de fazendas do setor de produção de suco de laranja diminuiu de 28 mil para menos de 10 mil nas duas últimas décadas.
Responsabilidade social corporativa
Por outro lado, para a Oxfam, à medida que vão concentrando o mercado, as cadeias varejistas podem encontrar soluções para acabar com as desigualdades sociais e melhorar as condições de trabalho e a remuneração desses trabalhadores. No caso do Brasil, de acordo com a Oxfam, três grandes redes de supermercados concentram 46% do setor.
Por meio de políticas inclusivas, com seu poder de compra e influência, elas podem exigir dos seus fornecedores, por exemplo, que acabem com os empregos informais e o trabalho escravo no campo, além de garantir que agricultores e produtores recebam uma parcela mais justa do que é pago pelos consumidores no varejo.
De acordo com o levantamento, no caso de muitos produtos, o investimento necessário para levar a renda ou os salários atuais a níveis dignos é ínfimo em comparação com o preço ao consumidor final. Devolver 1% ou 2% do preço do varejo aos fornecedores poderia mudar a vida de muitas pessoas que produzem alimentos. No caso do suco de laranja, cerca de 3,1% do valor pago pelo consumidor no supermercado já garantiria uma renda digna a pequenos agricultores.
O relatório diz que talvez os preços ao consumidor não precisem aumentar para alcançar esse investimento a mais. Em cada um desses 12 produtos, o investimento extra que os atores da cadeia de fornecimento precisariam fazer é muito menor do que o aumento que os supermercados tiveram em sua fatia do preço ao consumidor final nos últimos 10 a 15 anos.
O relatório da Oxfam sobre a cesta de 12 produtos sugere ainda que, em países onde os governos intervieram e estabeleceram preços mínimos para as commodities agrícolas, os pequenos agricultores recebem uma fatia do preço final ao consumidor que é cerca de duas vezes maior do que a dos agricultores que não recebem esse apoio.
O documento é a base de uma nova campanha global da organização para denunciar a exploração econômica e cobrar mudanças na distribuição dos ganhos deste segmento, para melhorar a remuneração dos trabalhadores rurais e pequenos produtores, as condições de trabalho e a desigualdade de gênero na cadeia de fornecedores de alimentos na América Latina, África e Ásia.
Por Agência Brasil.
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