As candidaturas possibilitam que ambos tragam propostas que poderão se unir no segundo turno
A união progressista irá acontecer e poderá ser muito útil para, enfim, gerar mudanças estruturais em benefício de todo o povo brasileiro
Este autor publicou em 1o de junho de 2016 um texto intitulado “Os desafios da candidatura de Ciro Gomes”, que gerou boa repercussão nacional, levando, inclusive, o próprio Ciro a citar expressamente aquela análise e o seu propositor numa entrevista concedida a Mariana Godoy dois dias depois, em 3 de junho de 2016.
Posso estar equivocado, mas, antes daquele texto, não se tinha ouvido falar no Brasil numa possível união entre Haddad e Ciro. Parece ter sido a partir dali que este procurou aquele para iniciarem conversas com o fim de formarem uma chapa de candidatura presidencial conjunta.
No texto, este autor propunha que os dois eram candidatos inteligentes e estudiosos, com múltiplos cursos nas áreas de direito, política e economia, inclusive em universidades renomadas do exterior. Ambos eram, inclusive, professores, Haddad muito mais do que Ciro.
Ciro era sugerido como o presidente e Haddad como o vice, dada a maior experiência e um conhecimento mais profundo do país. No entanto, foram realizadas ressalvas importantes acerca do estado emocional do PDTista, da sua diplomacia e do seu carisma, pontos nos quais Haddad soma uma qualidade muito maior.
Passados mais de 2 anos desde a publicação do texto, Haddad e Ciro quase compuseram, de fato, a chapa, mas a força política de Lula terminou tornando isso inviável para estas eleições. Haddad, demonstrando a sua dignidade, tentou que Ciro compusesse a chapa com Lula, o que foi recusado pelo ex-Ministro da Fazenda.
A sabatina de Haddad nesta segunda-feira, 19 de setembro de 2018, realizada numa parceria Uol/Folha/SBT, é muito sintomática de todos esses acontecimentos, confirma muito do que foi dito naquele texto publicado em 2016 e merece ser assistida com atenção pelos eleitores que querem tomar uma boa decisão nas eleições deste ano.
Haddad é muito inteligente, preparado, claro, sério, equilibrado, diplomático, cortês e, apesar dos ataques que têm recebido do seu amigo Ciro, mostrou-se humilde e cavalheiro ao evitar devolvê-los e ao explicar que ele mesmo tentou a composição da chapa entre Lula e Ciro.
O embate eleitoral apenas está comprovando que Ciro ainda tem muito o que aprender com Haddad em termos de, dentre outras coisas, diplomacia e serenidade, características extremamente importantes para um Presidente da República.
Se Ciro tivesse aprendido, teria, inteligente que é, aceitado ser o vice na chapa com Lula e, automaticamente, se tornaria o candidato a presidente numa coligação entre PT, PDT e os demais partidos aliados. Interesses partidários, pessoais e outros impossibilitaram isso.
Se assim tivesse acontecido, hoje veríamos uma fortíssima união do campo progressista já no primeiro turno. Por outro lado, por não ter sido assim, as candidaturas autônomas de Haddad e Ciro têm possibilitado que ambos demonstrem suas qualidades e tragam propostas para o país que poderão se unir no segundo turno.
Parece cada vez mais certo o que este autor já escrevia e manifestava em entrevistas desde o ano passado: uma vez Lula tornando-se inelegível, o que era muito provável, Haddad seria o seu candidato e, com a força nacional do PT, além das qualidades individuais do professor da USP, a sua vitória era quase inevitável.
As recentes pesquisas eleitorais já mostram um salto quântico das intenções de voto em Haddad. Isso se dá poucos dias após ser confirmado como candidato e antes mesmo de ele aparecer em debates televisivos de grande porte com os demais candidatos, nos quais há poucas dúvidas de que terá grande destaque dada a sua didática de professor, sua sabedoria, sua inteligência e outros atributos. Isso é reforçado pelo baile que ele deu na “inquisição” realizada no Jornal Nacional na última sexta-feira, 14 de setembro de 2018.
O lamentável episódio do atentado ao candidato Jair Bolsonaro terminou reforçando essa conclusão. Com o aumento de aparição do militar na mídia e a comoção gerada pelo acontecimento, ele cresceu ainda mais nas eleições, deixando para trás qualquer possibilidade de que outro candidato fosse o adversário de Haddad no segundo turno.
Como o próprio Ciro vem dizendo, dado o pouco preparo e a rejeição já angariada por Bolsonaro, ele é o “adversário perfeito” para o segundo turno. Seria absurdo ver o PSDB e a REDE apoiando o preconceituoso e agressivo Bolsonaro no segundo turno, sobretudo após os PSDBistas reconhecerem que não deveriam ter embarcado no governo Temer, no qual Bolsonaro também embarcou com força, junto com o seu partido PP à época, um dos mais envolvidos em casos de corrupção.
Não se pode esquecer de todos os erros políticos, econômicos e morais do PT, e é bom que Haddad se lembre de que ele, muitas vezes um crítico das próprias decisões do governo de Dilma, pode ser a grande mudança, não somente do seu partido, como do país. Caso chegue lá e esqueça-se disso, será uma pena e teremos que cobrar muito dele para que se lembre.
Como professor sábio e alguém que não vive da política, se ele aplicar as suas ideias progressistas, e não ceder às pressões da velha classe política, poderá entrar para a história do país como aquele que fez a grande reviravolta em direção a mais liberdade, igualdade e fraternidade para toda a população, ideais da Revolução Francesa que estão longe de estar aprofundados no Brasil até hoje.
A experiência e a inteligência de Ciro poderão contribuir muito no segundo turno, assim como num futuro governo, no qual ele deveria ganhar um papel de destaque.
Lembre-se de que inteligência não é sabedoria. A inteligência é intelectual, racionalização, enquanto a sabedoria é a inteligência passada pelo coração, com equilíbrio emocional, diplomacia e resultados práticos considerando o bem de todos. Haddad mostrou isso mais do que Ciro e é por conta disso que será o novo Presidente. Ciro ainda poderá ter uma nova oportunidade em 2022.
Apesar de muitos verem caos no momento atual, pressinto tempos auspiciosos para o país. Ainda temos muito o que evoluir, mas a fase de conflitos trouxe a nação ao debate político, elevou a quantidade e a qualidade da informação.
É hora de acalmar os ânimos, unir a parte do país que quer ver o seu crescimento com igualdade e respeito aos demais direitos da maioria, e fazer um Brasil no qual todos tenham, de fato, oportunidades de aprender (adquirir sabedoria), produzir e ser feliz.
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