MOTIVOS DE ESPANHA
1 – Quando eu era repórter do jornal Tribuna do Norte, de Natal, fui entrevistar Câmara Cascudo por motivo da indicação do seu nome para compor o Conselho Federal de Cultura. Da conversa com o escritor, que se estendeu sobre vários assuntos, resultou ampla reportagem de página inteira. A certa altura, Cascudo disse haver terminado de escrever um livro – “Motivos de Espanha” – sobre a presença espanhola na vida cultural do Brasil. Esse livro não foi publicado. Que fim levou?
GRAÇAS, ZILA MAMEDE
2 – Pesquisando coleções de velhos jornais e revistas, o escritor Thiago Gonzaga nos forneceu cópia de uma que encontrou no jornal A Ordem, de Natal, a seguinte nota:
GRAÇAS
Zila Mamede agradece a N.
S. do P. Socorro, uma graça
alcançada, com promessa de publicar.
Natal, 28 de fevereiro de 1945
Eis aí um dado interessante para a biografia da poeta – sua religiosidade. Aspecto este, aliás, que não se acha de modo explícito em sua obra. Zila – vale notar – tinha, então, 17 anos de idade.
No mesmo jornal, edição de 15-03-1956, consta a seguinte notícia:
“Quase Lua” é o título de um novo livro da poetisa Zila Mamede, o qual será lançado pelo Departamento de Cultura do Ministério da Educação.”
Ao que tudo indica, teria sido este o título provisório do livro “Salinas”, editado em 1958.
ZILA E JOÃO CABRAL
3 – Quando escrevia o seu trabalho bibliográfico sobre a obra de João Cabral de Melo Neto, Zila disse que o mesmo iria denominar-se “Um Poeta Só João” (alusão ao poema “Uma Faca só Lâmina”, de João Cabral), depois mudou o título para “Civil Geometria”.
O AMIGO MORTO DE ZILA
4 – Certa vez, perguntei a Zila qual era “o amigo morto” a quem está dedicado o poema “0 Galo (do Convento Santo Antônio)”, no livro “Exercício da Palavra”. Em resposta, ela escreveu do próprio punho à margem de uma página dos originais do meu livro “Guia Poético da Cidade do Natal”:
“Manoel Onofre: este poema é dedicado a Djalma Maranhão, mas quando foi publicado a primeira vez, no jornal, tiraram o nome de Djalma. Não deixei que publicassem. Pelo menos fica isso aqui registrado para a história. E nos livros não incluí mais o nome dele, para não ser retirado novamente. Esta história é meio trágica, não? Assim, você fica sabendo. Não é possível que na próxima edição o nome de Djalma não apareça.
Natal, 20 de Junho de 1983.”
Djalma Maranhão, político de esquerda, Prefeito de Natal, que fora preso pelo sistema repressivo a serviço da ditadura militar, falecera no Uruguai, onde se exilara. Foi Djalma Maranhão quem adotou o galo de bronze da torre de Santo Antônio como símbolo da cidade do Natal, por sugestão de Câmara Cascudo. Dedicando-lhe o poema, Zila Mamede caiu nas malhas da censura política, então vigente. A ditadura afiava suas garras.
PROSA DE ZILA?
5 – Em suas pesquisas, Thiago Gonzaga descobriu, na prestigiosa revista “Careta”, do Rio de Janeiro (1960), a coluna “Contos e Pontos”, do escritor natalense Umberto Peregrino, na qual consta a seguinte nota:
“Quarenta mil livros estão apodrecendo em Natal – denuncia a jornalista Zila Mamede, em reportagem publicada no jornal O Poti, daquela capital”.
Refere-se a nota à biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, cujo Presidente, Nestor Lima, é responsabilizado pelo estado em que a mesma se encontrava.
Na mesma coluna, entre outras pequenas notas, consta que “a poetisa do Arado, Zila Mamede, está escrevendo um romance.”
Esse romance, se realmente existiu, nunca foi publicado. Zila Mamede não deixou obra em prosa, exceto dois trabalhos bibliográficos.
BOTE A SAIDEIRA, ONOFRE!
6 – Quando organizou a antologia “Contistas Norte-rio-grandenses” (1966), Nei Leandro de Castro incluiu nela o conto “A Primeira Feira de José “, de minha autoria, mas recomendou-me que acrescentasse, num dos diálogos, a expressão “Bote a saideira, Seu Tonho”. Aceitei a sugestão do antologista, escritor e poeta renomado.
Republicando esse conto, em um volume (1973), sob o mesmo titulo, resolvi suprimir o acréscimo sugerido por Nei Leandro. Algum tempo depois, qual não foi a minha surpresa, quando, ao folhear o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, deparei-me com o verbete “saideira”, nos seguintes termos:” (8-i) (De sair – deira). S. f. Bras. Gir. 0 Último (13) “conversavam demais, cuspiam no chão e terminavam por solicitar: -Bote a saideira, Seu Tonho” ( M. Onofre Júnior, em Nei Leandro de Castro, Contistas Norte-rio-grandenses, p. 65).”
É claro que fiquei muito ancho, feliz da vida, por abonar para o famoso dicionário brasileiro (graças a Nei Leandro) aquela palavra.
Na terceira edição do meu livro “Chão do Simples” (2014), em que incluí o conto “A Primeira Feira de José”, restabeleci o diálogo, com a palavra “saideira”.
A titulo de curiosidade, registre-se que diversos outros escritores norte-rio-grandenses abonaram palavras, com a citação de trechos de suas obras no Aurélio: portanto, constam na bibliografia do livro. São eles: Câmara Cascudo, Jaime Adour da Câmara, Homero Homem, Hélio Galvão, Polycarpo Feitosa, Oswaldo Lamartine de Faria, Tobias Monteiro, Newton Navarro, Umberto Peregrino, Renard Perez, Peregrino Júnior, Manoel Rodrigues de Melo e o próprio Nei Leandro de Castro.
Dentre os escritores célebres, clássicos lusófonos, os mais citados são Machado de Assis e Camilo Castelo Branco, seguidos de Carlos Drummond de Andrade, Aquilino Ribeiro, Eça de Queiroz, Antonio Feliciano de Castilho, José Lins do Rego, etc.
MINHA CIDADE NATAL
7- “Crônica da Minha Cidade Natal”, livro de memórias de Umberto Peregrino teve o seu título mudado para “Crônica de Uma Cidade Chamada Natal”, por sugestão do editor Carlos Lima, que o lançou em 1989. A obra de alta qualidade, deveria estar na estante de todo bom natalense.
FUNDADORES DA ANRL
8- Em 1936, o Jornal do Commércio, do Rio de Janeiro, publicou reportagens sob o titulo “Instalou-se ontem a Academia Norte-rio-grandense de Letras“, na qual relaciona 20 acadêmicos fundadores da instituição, entre estes Câmara Cascudo, cujo patrono figura como sendo Augusto Severo (Cascudo, depois, o substituiu por Luís Fernandes).
Acrescenta a matéria:
“Para as cinco restantes cadeiras os acadêmicos serão eleitos dentre os srs. Adauto Câmara, Eloy de Souza, Januário Cicco, José Augusto, Nestor Lima, Rodolfo Garcia, Matias Maciel Filho, Tobias Monteiro, Valdemar de Almeida e Tavares de Lyra”.
Sabe-se no entanto, que cinco desses nomes, aliás, dos mais ilustres, não foram eleitos: Eloy de Souza, José Augusto, Rodolfo Garcia, Tobias Monteiro e Tavares de Lyra. Por quê? Não se sabe. José Augusto veio a ser eleito, anos depois, quando se aumentou para trinta o número de cadeiras, em 1943. E Eloy de Souza elegeu-se em 1949, sucedendo a Antônio Pinto de Medeiros.
E POLYCARPO FEITOSA?
9- Com referência aos acadêmicos fundadores da ANRL, causa estranheza a ausência, entre eles, de Polycarpo Feitosa (pseudônimo de Antonio de Souza), que, à época da fundação da entidade já se tornara escritor consagrado.
IMORTAL. PRA QUÊ?
10- Quatro membros da ANRL renunciaram à imortalidade em diferentes ocasiões – Antônio Pinto de Medeiros, Othoniel Menezes, Esmeraldo Siqueira e Umberto Peregrino – mas somente o primeiro teve o seu pedido de desligamento aceito pela instituição.
HAICAI DE JARBAS MARTINS
11- Quando toma posse na Academia, o novel acadêmico profere, da tribuna da casa, o elogio de praxe aos acadêmicos que o antecederam na cadeira. Alguns discursos estendem-se, prolixos, outros são lacônicos. Todos se publicam na Revista da Academia. Bateram recordes: o de Ernani Rosado, por ser mais longo (44 páginas), e o de Jarbas Martins, o mais curto (2 páginas).
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