O atual governo nunca apresentou muita hostilidade, ao menos no plano discursivo, com os “cientistas de jaleco branco”, ou seja, aqueles vinculados às Ciências da Natureza e Tecnologias. Sua principal sanha sempre foi com as Ciências Humanas, a Filosofia e as Artes. Foi neste sentido, por exemplo, que o tal ministro da Educação alegou que o corte no orçamento das Universidades Federais se justificaria pela realização de balbúrdia nestas instituições, o que, de tão ridículo, logo despertou forte indignação, sobretudo daqueles que trabalham e estudam em Universidades Públicas.
O antiministro da Educação classificou como exemplos de balbúrdia a participação de membros do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) em eventos universitários, manifestações partidárias e “gente pelada dentro do campus” (adoro). Ou seja, embora do ponto de vista concreto as ações do desgoverno Bolsonaro tenham atingido todas as áreas que compõem a academia, seu alvo principal sempre esteve muito bem delineado. Posso imaginá-lo bradando com seu domínio precário da língua portuguesa e irritante tom de voz: “Esquerdistas maconhistas!”.
Aquilo que, imagino, deve ser alvo de nossa atenção, é o fato de que o conjunto de manifestações contrárias aos cortes orçamentários na Educação não coloca em questão algo que é essencial: o sentido da própria Universidade. Ora, as reações contrárias – pelo menos as que tenho acompanhado – às medidas do ministro tendem a reforçar a ideia de que a Universidade deve se constituir como espaço privilegiado das assim ditas Ciências da Natureza.
Diante disso, cabe perguntar: e nós, que somos cientistas políticos, sociólogos, antropólogos, psicólogos, filósofos e artistas? E nós, que ao invés de desenvolvermos mecanismos que permitem aumentar a produtividade de uma empresa ou de uma linha de produção, questionamos a miséria produzida pelo modo de produção capitalista? E nós, que temos como ofício a análise dos processos políticos de onde emergem as políticas públicas, que temos como tarefa analisar “os governos em ação”?
E nós, que questionando o moralismo burguês e reivindicando o direito sobre nossos corpos, fazemos performances nus? Nós que, nas trilhas de Karl Marx e Paulo Freire, sabemos que em uma sociedade cindida em classes não há neutralidade, pois se querer neutro implica necessariamente estar do lado dos donos do poder, não deveríamos ocupar a Universidade?
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