O pedido foi de deputado da bancada ruralista. Escolha da jovem, sem experiência na área ambiental, provocou críticas de especialistas.
O Ministério do Meio Ambiente nomeou uma produtora rural para chefiar uma das unidades de preservação mais importantes do país: o Parque Nacional da Lagoa do Peixe, no Rio Grande do Sul. A escolha da jovem, sem experiência na área ambiental, foi um pedido de um deputado da bancada ruralista. Ambientalistas criticaram a decisão do governo.
A informação foi publicada no jornal “O Estado de S.Paulo”. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, atendeu a um pedido do deputado federal Alceu Moreira, do MDB do Rio Grande do Sul, presidente da frente parlamentar da agropecuária, e decidiu nomear uma produtora rural para o cargo de chefe do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, no Rio Grande do Sul.
Maira Souza, de 25 anos, é neta de um dos maiores fazendeiros da região e nunca trabalhou na área ambiental. Em seu currículo, segundo o jornal, Maira descreve como única experiência profissional seu trabalho na fazenda da família.
O parque fica no extremo sul do país, entre a Lagoa do Peixe e o mar, e tem 36 mil hectares. É um dos mais importantes refúgios do Brasil para centenas de espécies de aves migratórias. Durante a longa viagem, muitas param ali para descansar e comer nas áreas alagadas, inclusive espécies ameaçadas de extinção.O Parque Nacional Lagoa do Peixe foi criado há mais de 30 anos e é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Os produtores com fazendas lá dizem que até hoje não foram indenizados. De janeiro para cá, aumentou a pressão dos proprietários de terras para reduzir a unidade de conservação.
Em entrevista ao G1, o deputado Alceu Moreira disse que o parque ainda não tem um plano de uso definido.
“Os produtores pediram que, para poder fazer uma mediação correta, precisava ser alguém da região que eles tivessem confiança para poder fazer uma proposta ou de continuar como parque e estabelecer um plano de manejo e a utilização turística para ter retorno, já que a terra deles está sem valor, e eles não conseguem vender em virtude desse problema, ou então, uma decisão que eles querem transformar em área de preservação ambiental porque o plano de manejo permite que eles possam utilizar a terra adequadamente”.
A mudança está sendo vista como um resultado de uma visita do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ao Parque Nacional Lagoa do Peixe. Em abril, Salles foi à unidade de conservação e ouviu os produtores locais. Durante essa visita, Salles chegou a ameaçar abrir um processo administrativo contra os funcionários do ICMBio que não estavam presentes.
O discurso do ministro levou o então presidente do órgão, Adalberto Eberhardt, a pedir demissão. O antigo chefe do parque Fernando Weber também acabou exonerado do cargo.
A Associação Nacional dos Servidores Ambientais (Ascema), em nota, afirmou que a nomeação da jovem produtora rural viola os princípios de impessoalidade, moralidade e transparência na gestão pública.
O pesquisador João de Deus Medeiros, coordenador da rede de ONGs da Mata Atlântica, diz que mudar o parque, reduzir a sua área, seria desastroso para a biodiversidade:
“Deixar de utilizar o pessoal capacitado - o ICMBio criou inclusive uma escola para formação - e colocar uma pessoa sem essa condição compromete essa finalidade. Se é uma pessoa que está vinculada a outros interesses, que não da conservação, obviamente o risco para a manutenção da efetividade desse espaço, como espaço realmente protegido, começa a ficar sob ameaça”.
O JN não conseguiu contato com a produtora rural Maira Souza nem com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
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