domingo, 8 de setembro de 2019

CONHECIMENTO HISTÓRICO >> Os 10 maiores revolucionários de todos os tempos!

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Especialistas elegem os homens que mudaram os rumos da humanidade, oferecendo novos modelos em dez campos do conhecimento

Algumas pessoas vêm ao mundo para tirar tudo do lugar. Gente como Albert Einstein, que deitou por terra as bases mais sólidas da ciência por quase 200 anos – e que, sem querer, mudou a geopolítica mundial. Ou Ernesto Che Guevara, o argentino que falou nas Nações Unidas apontando o dedo aos EUA, um Davi latino-americano enfrentando o Golias que faz sombra ao continente.
Alguns deixam em seu rastro a beleza e precisão: Leonardo da Vinci, um dos maiores gênios da História, que aplicou ciência à pintura para fazer do quadro uma janela cristalina, por vezes mais real que a realidade. Outros são adeptos da destruição: Napoleão Bonaparte, que empurrou com canhões as reformas do liberalismo exaltado da Revolução Francesa, princípios que ele mesmo havia traído.
A AH pediu ajuda a um time de mais de 50 especialistas para escolher os maiores revolucionários de todos os tempos, em suas áreas de atuação. Surgiram surpresas, como Alberto Santos Dumont. O brasileiro tido por muitos como o Pai da Aviação foi eleito na categoria inventor.
Outros nomes gigantescos, antes escolhidos por historiadores, voltam a estas páginas por serem inevitáveis: Jesus Cristo e o próprio Einstein, para ficar em dois exemplos. A seguir, aqueles que mudaram o mundo – ou, ao menos, a parte dele ao qual se dedicaram – decisivamente.

1. Religião | Jesus Cristo


Não faltavam candidatos a revolucionário na Judeia do século 1. A palavra Messias tinha um sentido diferente da conotação mística que os cristãos aprenderam a associar a ela. O messias seria quem, por métodos certamente violentos, expulsaria os romanos e restituiria a independência a Israel. Nesse sentido, Jesus não podia ser contado entre eles. Toda a tragédia de origem do cristianismo depende do fato de Jesus não ser revolucionário, mas um inocente condenado à morte na cruz.
Jesus nasceu num mundo dominado por uma potência escravocrata, guiada por ideias de glória expansionista. Na Judeia, onde se cultuava o Deus único, predominavam sentimentos de profundo rancor e vingança contra os romanos, e um ódio fratricida aos judeus que se aproximavam dos dominadores.
Foi nesse contexto que surgiu um homem dizendo aos judeus que deveriam oferecer a outra face quando agredidos por um centurião. Ou para dar a César o que é de César. Ou que seu reino não era deste mundo. O prometido messias não vinha trazer mudança política. Era uma mensagem de paz radical e subversiva aos valores da época, tanto dos judeus quanto dos romanos. Ele também era um profeta dos pobres, que afirmava ser mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha que um rico entrar no reino dos céus.
Não há registro de Jesus enquanto viveu. Ainda hoje, fontes sobre sua vida são os Evangelhos. Então não se sabe se ele foi morto porque alguém que percebeu o potencial subversivo de suas palavras. O fato é que, após sua morte, a religião foi perseguida e manteve-se nas camadas mais baixas da população, seguida por escravos e soldados de baixa patente, por quase três séculos. Até que, no que é considerado um milagre pela Igreja Católica, o imperador Constantino se converteu, em 312, durante uma batalha. Em uma geração, o cristianismo saltou de minoria perseguida para maioria, logo sendo transformado no perseguidor.
Mesmo com o cristianismo oficializado, o espírito subversivo se manteve latente. A abolição da escravidão, a liberação feminina, a assistência aos necessitados, o voto universal: ideias alienígenas ao pensamento da Antiguidade Clássica. E que, de certa forma, podem ter sua certidão de nascimento atestada na Judeia do século 1, com um humilde profeta que tratava prostitutas e leprosos da mesma forma que seus mais fiéis discípulos.
O escritor Frei Betto nota essa contradição. Afirma que seu voto em Jesus foi “não por ter fundado uma religião, e sim por ter proposto um modelo civilizatório baseado na relação amorosa e na partilha dos bens”.

2. Invenção: Santos Dumont



Numa lista com Alexander Graham Bell, James Watt e Thomas Edison, pode parecer patriota que o maior revolucionário entre os inventores tenha sido o mineiro Alberto Santos Dumont. Vale lembrar que Dumont personifica a imagem ideal que o Brasil quer para si: um país civilizado, que oferece contribuições cruciais para o mundo com extrema generosidade.
O artista plástico Guto Lacaz menciona Dumont como aquele que “conquistou o voo controlado com os mais leves e com os mais pesados que o ar”. E o engenheiro Luiz Rocha fala dele como o “inventor do melhor meio de transporte do mundo, o avião”. Dumont, no Brasil, simplesmente inventou o avião. Sem fugir da polêmica, a história é um pouco mais complicada que isso. A relevância do brasileiro não está na primazia. Ele não foi o primeiro a apresentar um avião funcional, o que é a razão por que os norte-americanos irmãos Wright são considerados os inventores no resto do mundo.
Em agosto de 1908, os Wright se apresentaram em Le Mans, na França. Os franceses ficaram boquiabertos. O Flyer era o primeiro avião prático do mundo, capaz de voo controlado, dando voltas, subindo e descendo. Não era um protótipo que andava em linha reta: a distância era medida em quilômetros, não metros, e o voo em minutos, até horas, não segundos. O avião já era uma realidade.
A razão do segredo dos norte-americanos é o medo que tinham que alguém roubasse seu invento. Eles haviam passado dois anos sem voar para assegurar suas patentes. Tudo no Flyer era patenteado. A ideia era ter o monopólio da indústria de aviação. Quem quisesse um avião, teria de comprar deles.
É aí que entra a contribuição de Dumont – e a sua generosidade. Ele, que não foi ver as apresentações dos irmãos Wright, continuou a trabalhar no Demoiselle, que se tornaria o segundo avião funcional, mais rápido que o Flyer, e primeiro a ser produzido em série. Diferente do modelo norte-americano, tudo no Demoiselle era aberto – o inventor brasileiro não apenas não patenteava nada, mas incentivava as pessoas a copiarem livremente.
Mais de cem deles foram produzidos, e neles pioneiros da aviação, como o francês Roland Garros, fizeram seus primeiros voos. Certos conceitos do Demoiselle, como o trem de pouso em triciclo e a cauda (controles aerodinâmicos em posição traseira) se tornariam universais.

3. Medicina | Alexander Fleming



A revolução de Alexander Fleming afeta o dia a dia de todos. Fleming é o pai dos antibióticos, remédios capazes de destruir bactérias e que salvaram um número incontável de vidas. Boa parte delas de crianças, particularmente suscetíveis às bactérias. Até os anos 40, mesmo países ricos tinham altas taxas de mortalidade infantil, com uma a cada 20 pessoas não chegando à idade adulta.
E ele tornou-se revolucionário por acidente. “A sorte desempenhou um grande papel na vida de Fleming”, afirma Kevin Brown, historiador e arquivista do Museu do Laboratório Alexander Fleming, em Londres. Em 1928, o biólogo escocês, já beirando os 50 anos, estudava uma cultura de estafilococos, bactérias inofensivas, em seu bagunçado laboratório no Hospital St. Mary, da Universidade de Londres.
Era, de acordo com Brown, um cientista do século 19 em pleno século 20, trabalhando sozinho e livre para estudar como quisesse: “Seu laboratório era extremamente primitivo”. Em vez de arrumar tudo para evitar contaminações, Fleming empilhava as placas numa bancada em um canto do laboratório, e notou que uma delas apareceu mofada. “Engraçado”, comentou. Ao invés de jogar fora o exemplar contaminado, como se faria em um laboratório profissional, ele resolveu estudá-lo mais atentamente. Notou que o mofo estava matando as bactérias.
O mofo era o Penicillium chrysogenum, que aparece em comida estragada. É parente de fungos usados há séculos para fazer salames e queijos azuis – a ação bactericida também serve para preservar comida. Fleming descobriu que o truque funcionava com bactérias perigosas, isolou a substância com a qual o fungo estava liquidando os microrganismos e a chamou de penicilina. Mas não acreditou que ela pudesse ter utilidade prática, porque não pensou em sua criação a nível industrial.
Foi apenas no início dos anos 1940, com o trabalho de outros cientistas – em laboratórios organizados –, que a droga tornou-se viável. Sua estreia foi na Segunda Guerra, quando salvou a vida de soldados e civis atingidos por armas inimigas, que poderiam ter sucumbido a infecções. Desde o surgimento dos antibióticos, vários horrores que assombravam a humanidade ficaram para os livros de História.
Lepra e tuberculose, cujo tratamento era isolar o paciente em sanatórios, passaram a ter cura. Pneumonia deixou de ser o caminho do hospital ao necrotério. Coqueluche, difteria e meningite pararam de matar crianças. E doenças sexualmente transmissíveis, como gonorreia, sífilis e cancro, passaram a ser assunto de piada em mesas de bar.

4. Filosofia | Platão




Platão é um dos primeiros e maiores gigantes da filosofia. Discutiu sobre um pouco de tudo, inclusive amor – que ele preferia homossexual, mas não físico, de onde vem o Amor platônico. Em filosofia, platonismo acabou relacionado a certo tipo de idealismo místico, fundado na noção de que ideias existem de forma pura, independentemente das pessoas que as pensam. Conceito exótico, mas que seduziu inúmeros filósofos. “Ao longo dos séculos, as ideias de Platão e Aristóteles puxaram e arrastaram a civilização ocidental em diferentes direções”, afirma o historiador Arthur L. Herman, em The Cave and The Light, Plato Versus Aristotle.
Platão é possivelmente a maior razão pela qual a filosofia em si sobreviveu. Seu mestre, Sócrates, pode ter sido o fundador. Mas, se dependesse só dele, tudo poderia ter acabado como um boato vago contado em Atenas por uma ou duas gerações, de um velhinho maluco que irritava as pessoas com sua conversa esquisita e acabou forçado a tomar cicuta. Sócrates, afinal, não deixou nada escrito, e era contra a ideia. Ele via a filosofia como um diálogo vivo entre duas pessoas.
Quando Platão resolveu escrever justamente esses diálogos – que nunca vamos saber até que ponto são fiéis ao que ele realmente ouviu, ou mesmo se Sócrates realmente existiu – transformou a arte de um artista solitário em disciplina acadêmica. A palavra, aliás, vem de uma segunda revolução de Platão, e da outra forma como ele manteve viva a filosofia. A Academia, fundada por ele em 387 a.C., foi a primeira instituição de ensino superior do mundo. Até então, ninguém havia imaginado que o ser humano precisasse continuar a aprender depois da infância.
O platonismo é relacionado ao culto às ideias abstratas, mas isso não quer dizer que Platão ficava olhando nuvens. Ao contrário, tinha muito o que dizer sobre a vida. Ele é o autor de República, o primeiro tratado de filosofia política e proposta de sociedade ideal imaginado por um filósofo. Na utopia platônica, não haveria propriedade privada, a educação seria uniformizada pelo Estado, as classes sociais seriam rígidas, o treinamento militar, severo, e poesia e ficção, banidas. Essa sociedade totalitária seria regida por reis-filósofos.
Se a ideia perfeita pode soar alienígena hoje em dia, a inspiração de Platão estava logo ali, ao sul de Atenas. Era Esparta, onde a educação e classes sociais eram rigidamente controladas, a arte era pouca e o dinheiro, malvisto. “A cidade era a antítese da anarquia democrática de Atenas, e a educação organizada dos jovens acabava encantando os filósofos”, afirma o historiador britânico Paul Cartledge, da Universidade de Cambridge.

5. Militar | Napoleão Bonaparte


Ao legendário Arthur Wesley, o Duque de Wellington, foi perguntado quem era o maior general de todos os tempos. Sua resposta: “Nesta era, na era passada, em qualquer era, Napoleão”. Wellington foi o general que derrotou o francês em Waterloo. Napoleão herdou e corrompeu – ou salvou, dependendo para quem se perguntar – uma revolução que não era sua.
Ele acabou com a República Francesa, para exportar seus ideais à força, pelas botas de seus soldados, no que custaria a vida de até 6 milhões de europeus. “Napoleão não foi o pai do caos. Era o herdeiro do caos, tanto em casa quanto no exterior”, afirmou o falecido historiador militar Robert B. Asprey em The Rise of Napoleon Bonaparte (sem tradução).
Logo após a monarquia ser dissolvida, em 1792, a recém-criada República Francesa entrou em guerra com os reinos vizinhos. Durante essa década, o oficial nascido na Ilha da Córsega, de uma família italiana, acabou tomando parte de diversas campanhas, subindo vertiginosamente na carreira.
Era então aliado dos jacobinos, a ala mais radical dos revolucionários. Em meio a uma dessas guerras, em 1799, acabou tornando-se o Cônsul do país, num golpe que acabou com a autoridade da República. Em 1804, receberia do papa Pio VII uma coroa hereditária de Imperador da França, acabando de vez com qualquer máscara de republicanismo.
monarquia não significou paz. Napoleão deixaria a Europa de joelhos, exportando a Revolução Francesa para o continente. Como fez isso é algo que faz parte de seu mito, porque não há resposta óbvia. As táticas napoleônicas estavam ao alcance de qualquer Exército. Ele não inventou nada – e se gabava disso. Disse que, após 60 batalhas, não havia aprendido nada que não soubesse na primeira.
A infantaria era o cerne da força. Cabia à cavalaria atrapalhar os movimentos da infantaria inimiga, deixando-a em posição vulnerável. A artilharia botava todo mundo para correr, se conseguisse chegar à posição de ataque. O truque era fazer isso, e Napoleão, oficial de artilharia, era mestre em usar canhões, de forma móvel e atuando em conjunto com o resto das tropas. Outra de suas habilidades particulares era jogar com as expectativas do inimigo, posicionando-se com falsas ofensivas e manobras de flanco.
Para mover-se sempre em vantagem, contava com uma rede de inteligência e comunicação, que incluiu a criação dos primeiros telégrafos do mundo. Do Exército revolucionário, Napoleão herdou a ideia de recrutamento em massa, um contingente gigantesco de alistados obrigatoriamente e treinados em pouco tempo. Esses recrutas também formaram a primeira força ideológica da História, um Exército lutando em terras estrangeiras não em nome de um monarca, mas de uma ideia, da revolução.

6. Comportamento | Mahatma Gandhi


Às vezes a causa não é tão importante quanto o método. A maior causa de Mahatma Gandhi foi a independência da Índia, dominada pelo Império Britânico desde 1858. Isso ele conseguiu em 15 de agosto de 1947, ainda que com uma amarga frustração. O país acabou partido em dois, Índia e Paquistão, por causa de diferenças religiosas. E unir hindus e islâmicos foi uma de suas grandes causas de vida. Outra, a abolição do sistema de castas na Índia, está na Constituição do país – mas ainda hoje sites de relacionamento mencionam a casta dos candidatos, e pessoas de castas inferiores continuam a ocupar a escala mais baixa da sociedade.
“A luta pela paz e seu exemplo de resistência passiva mudaram a História de seu país e nos servem para repensar todas as formas de violência ainda perpetradas por nações bélicas e neoimperialistas pelo mundo contemporâneo”, diz Andrea Casa Nova Maia, da Universidade Federal Fluminense. Vivendo entre três continentes e três religiões, ele acabou conciliando as ideias de cada uma para criar um novo tipo de humanismo.
O mais central é a ahimsa, o princípio da não violência. Inspirado no anarquista cristão russo Liev Tolstói, com quem se correspondeu na juventude, Gandhi decidiu que, o que quer que fizesse, seria por meios pacíficos. Um de seus bordões: “Há muitas causas pelas quais estou disposto a morrer, mas nenhuma pela qual estou preparado a matar”.
Nascido na Índia sob domínio britânico, estudou direito em Londres e tentou se estabelecer como advogado na Índia, sem sucesso. Conseguiu emprego na África do Sul, outra colônia do Império, em 1893. Conheceu uma sociedade segregada, onde brancos, negros, indianos e mestiços tinham espaços e leis próprios. Assim começou sua carreira de ativista político.
Em 1915, voltou para a Índia, onde se filiou ao Congresso Nacional Indiano, do qual se tornaria líder. Em um de seus momentos mais famosos, em 1930, convenceu o país inteiro a fabricar sal ilegalmente, quebrando o monopólio britânico. Logo, toda a Índia estava se recusando a pagar impostos e desafiando outras leis abertamente, um gigantesco ato de desobediência civil. Quando confrontados pela polícia, os manifestantes simplesmente aceitavam apanhar ou ser alvejados.
Gandhi foi preso, e nenhuma concessão foi feita. Mas as imagens e notícias do protesto, e a nobreza de seus manifestantes, correram o mundo. Moralmente, o Império havia sido derrotado, e seria questão de tempo até o domínio ruir de vez.

7. Ciência | Albert Einstein


É preciso um certo tipo de pessoa para responder quatro grandes desafios da física no mesmo ano. Alguém que, com isso, torna inválidas as bases mais fundamentais do conhecimento, estabelecidas 200 anos antes. E faz isso aos 26 anos de idade... nas horas vagas de um emprego maçante, sem acesso a uma biblioteca ou a colegas de profissão. Bem, há de se convir, não existe esse tipo de pessoa. Albert Einstein era um só. “Um dos maiores nomes da ciência do século 20, ousou desafiar conceitos profundamente enraizados, como espaço e tempo, com a Teoria da Relatividade”, afirma o historiador da ciência José Goldfarb, da PUC-SP.
Einstein refundou a física em 1905, com quatro artigos publicados no periódico Annalen der Physik, de Berlim. Provou que a física quântica e a teoria atômica eram reais e lançou as bases da Teoria da Relatividade, que mudou para sempre a percepção de espaço e tempo. E também registrou a famosa equação E=mc², pela qual a energia obtida pela fissão nuclear é a massa multiplicada pelo quadrado da velocidade da luz, que é aproximadamente 300 mil km/s. O que dá uma ideia do poder das bombas atômicas que ela previu.
Essa revolução em particular, ainda que de profundas consequências, não estava na mente do pacato cientista que, por toda sua vida, foi um pacifista, uma figura pública notória. Einstein pensava de forma prática. Aceitou a ideia de que, se os aliados não fizessem a bomba,os nazistas a fariam primeiro, e mandou uma carta ao presidente Franklin Roosevelt aconselhando-o a iniciar o programa nuclear, em 1939. Com o resultado em Hiroshima e Nagasaki, ele se arrependeu amargamente.
Há uma parte menos falada, e totalmente involuntária, da contribuição de Einstein. Nos 200 anos que o precederam, a física parecia escrita em pedra, uma ciência inabalável. Einstein provou que o mundo era mais complicado do que se imaginava e que toda a ciência podia cair por terra diante de uma nova descoberta.
E esse impacto devastador foi sentido bem longe dos laboratórios. A ciência perdeu sua aura de infalibilidade. Durante o século 20, intelectuais começaram a duvidar da própria possibilidade do conhecimento científico, ou das intenções dos cientistas, muitas vezes reforçando preconceitos ou estruturas de poder da sociedade.
O resultado indireto disso foi a onda de ideais e pregadores anticientíficos e místicos, que vem desde os anos 60. Outra revolução acidental, que, tal como a bomba atômica, Albert Einstein provavelmente não aprovaria.

8. Política | Che Guevara


Se a revolução tem uma face, é a de Ernesto Che Guevara. Che se tornou a voz da revolução socialista mundial ao fazer seu impactante discurso nas Nações Unidas em 11 de dezembro de 1964, no qual provocou os Estados Unidos, acusando o país de “matar suas próprias crianças” (os negros) e convocou os trabalhadores da América Latina a “mover novamente a roda da História”. Durante o discurso, dois dissidentes cubanos tentaram assassiná-lo. Ele respondeu com humor, dizendo que isso tudo “deu à coisa mais sabor”.
No púlpito da ONU, estava o homem que havia posto o mundo à beira da Terceira Guerra. Como arquiteto da aproximação entre o novo Estado cubano e a União Soviética, Che foi a figura por trás da Crise dos Mísseis de 1962, quando ogivas nucleares foram instaladas na ilha. A grande obra de Che, única na qual realmente teve sucesso, foi a Revolução Cubana.
Em 1956, ele embarcou do México para Cuba com os exilados Fidel e Raúl Castro, Camilo Cienfuegos e outros 78 revolucionários. Por dois anos, lutou nas florestas da Sierra Maestra contra a ditadura de Fulgencio Batista. Conseguiu algumas façanhas militares brilhantes.
Depois, deixou as armas de lado e participou da construção do Estado socialista. “Che tornou-se radical onde tinha que ser radical. Ele uniu uma força que era, de outra forma, um balaio de gatos, de adolescentes fugidos, aventureiros, democratas-cristãos e meia dúzia de comunistas”, afirma o historiador Jon Lee Anderson, autor de Che, uma Biografia. Tornou-se ministro da Fazenda e tomou parte das campanhas de reforma agrária e da erradicação do analfabetismo.
Mas a conquista cubana ficou pequena. Desde sua viagem de motocicleta pela América do Sul, em 1948, ele havia aprendido a enxergar o continente como uma só entidade. Sua vida de revolucionário internacional começaria com uma experiência distante. Em 1965, rumou para o Congo, em crise após obter a independência da Bélgica. A campanha foi um desastre. Che sofreu com doenças tropicais e sua coluna armada se despedaçou moralmente. O direitista Mobutu Sese Seko tomou o poder, massacrou a rebelião e ficou na presidência até 1997.
Che decidiu focar seus esforços na América Latina. Chegou à Bolívia no final de 1966. Numa ação da CIA, em outubro de 1967, 1800 soldados cercaram os menos de 50 guerrilheiros comandados por Che. Morreu como mártir, “um homem que, na morte, pareceu transcender a ideologia que o fez famoso, e tornar-se uma figura admirada por amigos e inimigos”, de acordo com Anderson.

9. Arte | Leonardo Da Vinci


A expressão Homem da Renascença representa alguém capaz de ser muito competente em atividades distintas. Mas o fato é que a maioria dos homens da Renascença era, como hoje, especialista em seu ofício. Cristóvão Colombo não pintava. Maquiavel não desenhava engenhos de guerra. Michelangelo não inventava máquinas voadoras – ainda que esse fosse quem chegasse mais perto, atuando como arquiteto e escultor.
O Homem da Renascença era um só. Leonardo da Vinci entra nesta lista como o mais votado na categoria arte, mas também foi um finalista nas categorias invenção e engenharia. Era alguém que ora poderia estar pintando A Última Ceia, depois projetar tanques de guerra e máquinas voadoras, mais tarde se dedicar a estudos de anatomia humana, e ainda voltar-se para a escultura, antes de se dedicar outra vez à pintura.
Por mais visionário que fosse, a maioria de seus projetos acabou ficando no papel. Foi como artista que ele acabou eternizado. “Leonardo é para a Renascença o que Marcel Duchamp é para a arte contemporânea. O artista que cria o momento, que encarna sua época”, afirma o artista plástico Alexis Iglesias, diretor da Escola Livre de Arte Havana.
A palavra Renascença foi cunhada pelo pintor Giorgio Vasari em 1550, em seu livro Vida dos Artistas. Significava o renascimento da técnica perdida da Antiguidade, mas também do interesse no ser humano e em estudar e copiar a natureza. Para Vasari, Leonardo marca o início da Alta Renascença, o período de auge do movimento. Quando começou a pintar, aos 14 anos, na oficina de seu mestre, Verrocchio, as grandes novidades eram a perspectiva e o trabalho de sombras e volumes.
Mas tudo ainda tinha uma certa cara medieval, um tanto sombria, pesada e solene, com temas quase exclusivamente religiosos. Isso é visível mesmo nos primeiros quadros de Da Vinci. É a evolução da sua pintura (diga-se, uma produção relativamente pequena) que mostra o exato momento dessa passagem.
Baseado em seus estudos de anatomia humana, de observações da natureza e experiências com luz, Da Vinci criou imagens cada vez mais realistas, atento aos detalhes de como funcionavam músculos, tendões e posturas corporais, mas também foi capaz de infundi-las de vida, de expressão. De uma outra atitude que não era mais a de ansiar pelo Paraíso enquanto se aguentava a vida terrena. De objetos de recordação religiosa, os quadros se tornaram uma janela para a vida. A própria composição dos quadros de Leonardo, quase sempre triangular, era uma manifestação de harmonia, uma razão redescoberta, que podia compreender a natureza.

10. Engenharia | James Watt


Foi a maior de todas as revoluções – e, possivelmente, a mais contestada. A não ser que você esteja lendo a revista numa cabana feita de palha de coco em uma praia deserta, é provável que absolutamente nenhum objeto à sua volta existisse sem ela. Ok, você está na praia deserta? Sem ela, não teria esta revista em mãos. A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra com a criação do primeiro motor a vapor prático, por James Watt, mudou o mundo como nenhuma outra.
Pela primeira vez, a humanidade se viu livre do suor da própria testa, e capaz de empregar uma força muito maior que antes. Também implicava um novo tipo de liberdade. “O homem estava livre dos ventos e dos animais como meios de transporte”, diz Guto Lacaz, que votou em Watt para a lista de inventores.
Mas Watt não era um inventor – ao menos não com sua principal contribuição. Ele simplesmente aperfeiçoou um motor a vapor criado mais de seis décadas antes por Thomas Newcomen, que havia encontrado algum uso limitado na indústria carvoeira, operando bombas que drenavam as minas. O aperfeiçoamento foi, aparentemente, mínimo. Watt adicionou uma câmara separada de condensação, de forma que o vapor não tivesse de se condensar no pistão, o que fazia com que se esfriasse, desperdiçando energia. O antigo movimento de pêndulo foi transformado em rotatório.
Essas modestas melhorias fizeram com que os motores gastassem 75% menos combustível, e pudessem ser usados em outras aplicações. “Um fato marcante foi a introdução, em 1782, do motor a vapor na indústria da tecelagem”, afirma Maria Teresa Gomes Barbosa, da Universidade Federal de Juiz de Fora. Nessa indústria, eles encontram outra máquina avançada, o tear mecânico de Jacquard, criando a primeira parceria entre o poder do vapor e a sofisticação de equipamentos complexos.
Máquinas são invenções antigas. Existem desde a Antiguidade, quando os gregos criaram as engrenagens, no século 4 a.C. Mas, por toda a História, a Era da Máquina nunca começou porque elas dependiam ou da força humana direta, que puxava cordas e manivelas, ou da ação de rios, vento ou força animal. Nunca ocuparam papel central na economia.
O motor de Watt, e todos os tipos de motores que surgiram depois, permitiram que máquinas pudessem ser criadas e movidas, e as indústrias conseguissem se instalar em qualquer lugar. Milhões migraram dos campos para as cidades – e o valor dos produtos, antes feitos por artesãos, um a um, também despencou.

Os eleitores:
RELIGIÃO
Frei Betto: religioso e escritor, um dos expoentes da Teologia da Libertação
José Ulisses leva: padre, doutor em História Eclesiástica, professor da PUC-SP
Sérgio Figueiredo Ferretti: antropólogo, estudioso da religião, ligado à Universidade Federal do Maranhão
Wellington Teodoro da Silva: professor de Ciências da Religião pela PUC-MG, presidente da Associação Brasileira de História das Religiões
Patrícia Simone do Prado: mestre em Ciência da Religião pela PUC-MG
Justin McDaniel: chefe do Departamento de Estudos Religiosos da Universidade da Pensilvânia (EUA)
Jorge Cláudio Ribeiro Jr.: professor do Departamento de Teologia da PUC-SP

INVENÇÃO
Luiz Rocha: engenheiro de computação, criador do site inventeaqui.com.br
Wagner Fafá: economista, presidente do Instituto Brasileiro de Inovação, que organiza o Salão do Inventor Brasileiro
Carlos Mazzei: especialista em Marketing, presidente da Associação Nacional dos Inventores
Guto lacaz: designer e artista plástico multimídia
Lester Faria: engenheiro aeronáutico, chefe do Laboratório de Guerra Eletrônica do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA)

MEDICINA
Sanjoy Bhattacharya: diretor do Centro para as Histórias Globais da Saúde, Universidade de York, Reino Unido
Alexander Medcalf: historiador da medicina, Universidade de York, Reino Unido
André Mota: coordenador do Museu da Faculdade de Medicina, USP
Gustavo Tarelow: historiador, pesquisador do Museu da Faculdade de Medicina, USP
Everton Reis Quevedo: historiador, diretor técnico do Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul

FILOSOFIA
William Child: professor de Filosofia na Universidade de Oxford, Reino Unido
André Porto: professor de Filosofia na Universidade Federal de Goiás
Helton Machado Adverse: do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais
Rachel Gazolla de Andrade: professora de Filosofia da PUC-SP e Faculdade de Filosofia São Bento
Katia Genel: professora de Filosofia da Universidade de Paris 1, Sorbonne
Denis Coitinho: professor de Filosofia da Unisinos
Adriano Naves de Brito: professor de Filosofia da Unisinos

MILITAR
Carlos Roberto Carvalho Daróz: historiador militar, professor do Colégio Militar do Recife
Manuel Rolph Cabeceiras: coordenador do Grupo de Estudos de História Militar da Universidade Federal Fluminense
Francisco Eduardo Alves de Almeida: professor da Escola de Guerra Naval, membro do Instituto Geográfico e Histórico Militar Brasileiro
Ricardo Pereira Cabral: professor da Escola de Guerra Naval
César Machado Domingues: professor da Universidade Estácio de Sá, editor da Revista Brasileira de História Militar
Coronel Luiz Carlos Carneiro de Paula: historiador militar, secretário do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil
Marcos Ribeiro Correa: oficial aposentado, historiador militar, membro do Instituto Geográfico e Histórico Militar Brasileiro
Manuel Cambeses Jr.: membro emérito do Instituto Geográfico e Histórico Militar Brasileiro

COMPORTAMENTO
Archie Brown: professor emérito de Política, Universidade de Oxford, Reino Unido
Pedro Paulo Funari: arqueólogo e historiador, livre-docente da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Andrea Casa Nova Maia: historiadora, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Lincoln Ferreira Secco: historiador, professor da Universidade de São Paulo (USP)
Mary del Priore: historiadora, colaboradora de AVENTURAS NA HISTÓRIA, autora de História do Amor no Brasil e diversos outros

CIÊNCIA
José Luiz Goldfarb: vice-coordenador da pós-graduação em História da Ciência, PUC-SP
Lester Faria: engenheiro aeroespacial, professor do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA)
Phillip A. Sharp: biólogo molecular, professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT), EUA
Steven Pinker: psicólogo evolutivo canadense, professor do MIT
Marcos Veríssimo: físico molecular, professor da Universidade Federal Fluminense

POLÍTICA
Archie Brown: professor emérito de Política, Universidade Oxford, Reino Unido
Pedro Paulo Funari: arqueólogo e historiador, livre-docente da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Andrea Casa Nova Maia: historiadora, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Lincoln Ferreira Secco: historiador, professor da Universidade de São Paulo (USP)
Mary del Priore: historiadora, colaboradora de AVENTURAS NA HISTÓRIA, autora de História do Amor no Brasil e diversos outros
Leandro Narloch: jornalista e escritor, autor da série Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, ex-editor de AVENTURAS NA HISTÓRIA

ARTE
Dercy Aparecido Pereira: coordenador do curso de Artes Visuais do Centro Universitário Belas Artes, São Paulo
Alexis Iglesias: artista plástico cubano, formado na Universidade de Havana, diretor da Escola Livre de Arte Havana
Paulo Antônio de Menezes Pereira da Silveira: historiador da arte, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Luiz Octávio Rocha: professor da pós-graduação do Centro Universitário Belas Artes, São Paulo
Peter Childs: professor de design no Imperial College of London, Reino Unido

ENGENHARIA
Maria Teresa Gomes Barbosa: professora do curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de Juiz de Fora
Marcelo Hazin: professor de Engenharia de Produção da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Suzana França Dantas Daher: professora de Engenharia de Produção da UFPE
Adiel T. Almeida Filho: professor de Engenharia de Produção, UFPE
Frederico Barbieri: engenheiro automotivo, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), São Paulo
Leônidas Sadoval Júnior: matemático e físico, professor do Insper
Fábio Orfali: matemático e engenheiro químico, professor do Insper
Irineu Gustavo NogueirA Gianesi: engenheiro de produção, diretor de Novos Projetos Acadêmicos do Insper.

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