O poder de nomear o mundo e (re) contar a história talvez seja um dos mais significativos da esfera social da política. Esta possibilidade, quando efetivada, não permite apenas enfatizar os supostos grandes feitos produzidos por figuras do passado, mas criar um contexto de perpetuação de relações de poder. Torna possível que a dominação se naturalize e se legitime.
Batizar o aeroporto de São Gonçalo do Amarante com o nome do ex-governador Aluízio Alves, como vem pressionando seus familiares e a própria governadora, implica em consagrar o político e a história oficial que se impõe como a auto-realização dos grandes heróis e lideranças em detrimento do povo e de suas movimentações em busca da construção de uma sociedade melhor.
Batizar o aeroporto de São Gonçalo do Amarante com o nome do ex-governador Aluízio Alves, como vem pressionando seus familiares e a própria governadora, implica em consagrar o político e a história oficial que se impõe como a auto-realização dos grandes heróis e lideranças em detrimento do povo e de suas movimentações em busca da construção de uma sociedade melhor.
Com tantos educadores, folcloristas, sindicalistas, referências da própria São Gonçalo e pessoas que lutaram a favor do povo, sem dele se aproveitar, seria uma injustiça muito grande, mais uma vez, usar um equipamento público para celebrar a vitória daqueles poucos que exerceram e continuam a desempenhar relações de mando sobre muitos.
Quem anda por Mossoró pode se impressionar com a quantidade de ruas e equipamentos públicos que levam o nome dos Rosados. As avenidas daquela cidade representam a afirmação de uma família que domina aquela região há quase um século. É o urbano, através dos seus espaços inscritos, impondo uma visão de mundo que fecha as possibilidades do importante exercício de contestação da inacreditável concentração de poder que torna o mercado político daquela cidade absurdamente escasso – dois grupos da mesma família se revezam no controle dos cargos estatais.
O ato de emprestar a denominação de uma determinada liderança para um local público não tem apenas conseqüências sobre o passado, mas, sobretudo, se estabelece como recurso para a perpetuação do domínio de um grupo sobre o futuro de uma sociedade.
Além disso, esqueceram de perguntar para os Norte Riograndenses se é isso que eles querem. Não há legitimidade popular, um anseio que parta das pessoas (não me refiro a Jaime Calado, que é “um” cidadão apenas) com esse direcionamento.
Atribuir o nome de Aluízio Alves ao aeroporto possibilita que a dominação que os Alves exercem se perpetue e, com ela, a noção de que são eles e não os norte-riograndenses que produzem a história, que tornaram possível o RN. E, se o RN resulta da benevolência de uma família, então, teremos de ficar sempre a mercê do comando oligárquico alheio.
O que Aluizio Alves fez que mereça tamanha honraria? Sua emergência representou um avanço político, já que lutou contra o ruralismo mais atrasado. No entanto, há outros agentes que vieram do povo e que nunca saíram dele, que dedicaram suas vidas para a perpetuação do bom e do justo.
Fonte: site Carta Potiguar
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