quinta-feira, 24 de abril de 2014

Desvendando o semiárido >> UFRN participa de programa de pesquisa em biodiversidade no Semiárido, que trabalha para "dissecar" todas as características deste clima


Uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, em parceria com universidades federais de cinco estados nordestinos, está tentando aproximar das pessoas comuns o misterioso e ainda desconhecido mundo dos fungos. O Programa de Pesquisa em Biodiversidade do Semiárido (PPBio Semiárido), criado em 2004, tem como objetivo “dissecar” todas as características deste clima no país, e depois transmitir as novas descobertas e conhecimentos à sociedade brasileira. Inclusive as que dizem respeito aos bolores, cogumelos e afins.

Como o Brasil é o país de maior biodiversidade do planeta, era de se esperar que tivéssemos grandes coleções botânicas e zoológicas. Por motivos diversos, no entanto, essa correlação não existe. Mas a manutenção, ampliação e informatização dos acervos biológicos são indispensáveis para a disponibilização on-line dos dados sobre a biodiversidade, e é justamente isso que faz o PPBio. Agora não é mais preciso recorrer a sites de busca ou livros de Ciências e Biologia para conhecer e estudar os fungos, por exemplo: 1.461 espécies já foram cadastradas no banco de dados do programa. E os resultados de todas as expedições podem ser vistos no endereço www.uefs.br/ppbio.

Um dos coordenadores do projeto é o paulista Iuri Goulart Baseia, 45 anos, professor do Centro de Biociências da UFRN. Mestre em Biologia dos Fungos e doutor em Botânica, é ele o responsável por comandar pesquisadores de sete campus do Nordeste nas expedições em busca de fungos das mais variadas espécies pela Caatinga da região. “As pessoas costumam pensar que o Semiárido é pobre e não possui variedade de espécies animais, vegetais e de fungos. Mas elas estão enganadas, e o PPBio prova justamente isso”, afirmou.

Estudos do programa estimam que só nesse bioma brasileiro existam mais de 20 mil espécies diferentes. Além da equipe de Fungos, capitaneada por Baseia, ainda fazem parte do projeto as de Vertebrados, Invertebrados e Plantas. O processo de pesquisa é realizado por meio de viagens em seis áreas definidas como de “extrema importância biológica”, e espalhadas pelos estados do Ceará, Pernambuco, Paraíba, Piauí e Bahia, além do Rio Grande do Norte, é claro. “Fazemos cerca de seis expedições por ano, com uma média de sete dias em cada uma delas. Coletamos amostras e depois as trazemos para analisar aqui na universidade”, explica o professor.

Mas tudo isso tem um custo: cerca de R$ 10 mil por expedição. “É um pouco caro realizar essas pesquisas, porque elas envolvem bastante gente. E como somos financiados pelo poder público, é preciso empregar bem essa verba e fazer com que ela renda. Mas as descobertas são muito satisfatórias, e compensam o que foi investido”, diz Baseia.

Tomando por base os resultados da participação da UFRN no PPBio, percebe-se que cada real empregado no projeto é mesmo muito bem utilizado. Um dos “frutos” foi a colaboração no livro Guia dos Fungos Comuns do Semiárido Brasileiro. Com linguagem técnica e edição bilíngue, a publicação é destinada a estudantes e biólogos. Mas também são produzidas cartilhas explicativas, com linguajar mais acessível, para a distribuição em escolas públicas das cidades onde o programa realiza suas pesquisas e coletas.

Segundo Iuri, outro livro está sendo produzido por sua equipe, e deve ser lançado até o próximo mês de julho. “Estamos trabalhando nisso e temos o material praticamente pronto. Essas publicações são uma forma que temos de devolver à população o que foi investido no financiamento das nossas pesquisas, através do pagamento de impostos”, comentou.

Outra área muito importante no estudo dos fungos é a indústria farmacêutica. Quando os pesquisadores percebem que uma espécie tem potencial e ocorre em capacidade satisfatória para ser explorada, coletam uma amostra e a levam até o Departamento de Bioquímica da UFRN. As experiências feitas lá revelam se as substâncias presentes em determinado fungo têm ou não potencial farmacológico. Iuri Baseia, porém, lembra que esse não é o foco das pesquisas do PPBio Semiárido. “É claro que um remédio pode ser desenvolvido a partir de um dos nossos fungos. E seria ótimo se isso acontecesse. Mas é sempre bom ressaltar que o nosso objetivo é outro. Queremos, antes de qualquer outra coisa, conhecer cada vez mais o Semiárido”, destacou.

Programa tem abrangência nacional 

O Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) foi criado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação em 2004, como parte do Plano Plurianual do Governo Federal. De abrangência nacional, o projeto tem como objetivo central articular as competências regionais e nacional para que o conhecimento da biodiversidade brasileira seja ampliado e disseminado de forma planejada e coordenada. O programa está estruturado em três componentes principais: inventários, coleções e temáticos, e possui diversos núcleos regionais e projetos parceiros pelo país.

O PPBio iniciou suas atividades na região amazônica. Posteriormente, foi expandido para o Semiárido, com a colaboração da Universidade Estadual de Feira de Santana, na Bahia. Em 2010, a Mata Atlântica também foi abrangida pelo PPBio, através de um projeto piloto coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, em parceria com o Jardim Botânico e a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Por meio de ações da rede ComCerrado, o programa também passou a englobar, recentemente, o bioma Cerrado.

Perfil  

Iuri Goulart Baseia
Nascido em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, Iuri Goulart Baseia veio para o Nordeste ainda criança, aos 10 anos. O pai, físico, havia passado em um concurso para professor da Universidade Federal da Paraíba, e mudou-se com toda a família para João Pessoa. “Meu coração está aqui. Me considero muito mais nordestino”, garante.

Ele viveu na capital paraibana até se formar em Ciências Biológicas pela UFPB. Depois foi para o Recife, onde se tornou mestre em Biologia de Fungos na federal de Pernambuco. O doutorado, em Botânica, foi feito na USP, em São Paulo.

Iuri ainda voltou ao Recife e passou lá mais dois anos, até ser aprovado no concurso da UFRN, onde começou a lecionar em 2004. “Este mês eu completo 10 anos aqui na universidade. Já fui chefe do Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia, entre outros cargos. Mas acredito que minha maior alegria na instituição foi o Programa de Pós-Graduação em Sistemática e Evolução, que hoje já forma mestres e doutores. Antes isso era impossível em Natal”, falou.

Baseia também atua como coordenador do Programa de Pós-Graduação em Sistemática e Evolução e curador da Coleção de Fungos do Herbário UFRN. Ele ainda é bolsista de produtividade CNPq desde 2006 e possui experiência em botânica criptogâmica, com ênfase em biologia de fungos.

Números

2004 foi o ano da criação do Programa de Pesquisa em Biodiversidade pelo governo Federal.

5 são os estados do Nordeste envolvidos no PPBio Semiárido: Rio Grande do Norte, Pernambuco, Sergipe, Paraíba e Bahia.

6 é o número de expedições realizadas anualmente pelos pesquisadores do programa.

1.461 é o número de espécies de fungos já cadastradas no banco de dados do PPBio.

20.000 é o número estimado de espécies animais, vegetais e de fungos existentes no Semiárido brasileiro.

10.000 reais é o custo médio de cada expedição realizada pelo PPBio no sertão nordestino. 

Fonte: NOVO JORNAL

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