quinta-feira, 18 de agosto de 2016

UMA QUESTÃO DE RECONHECIMENTO >> Marinho Chagas: O patrono do futebol potiguar

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O galego é doido. Foi Pelé quem disse. Eu já digo que não tem ninguém melhor do que Marinho Chagas para ser eternizado como o patrono do futebol potiguar. Se vivo fosse, o bruxo ia fechar o cenho discordando dessa formalidade, dessa caretice de patrono de coisa alguma. Mas se trata de uma questão de merecimento. Se Natal foi capaz de gerar uma magnífica árvore de sementes aladas chamada Francisco das Chagas Marinho é mais do que justo reconhecer o valor do filho ilustre. No Brasil, nos Estados Unidos, na Europa, na China e até na Conchichina, o galego espalhou as sementes da paixão pelo feitiço do futebol-arte. 
O mais admirável na história do menino Chiquinho é a sua glória e a sua tragédia. Foi imperdoável ele ter subido tão cedo para o céu, aos sessenta e dois anos. Ele cometeu outras coisas imperdoáveis. Uma delas, Pelé não esquece: o galego deu um belo de um chapéu na sua Majestade. Marinho era assim. O Deus lá das alturas lhe muniu de vasta cabeleira loira justamente para ficar esquisito se ele usasse fraque e cartola. Chiquinho foi um arqueiro abençoado, um genial atirador de facas, um caçador de incrível pontaria, um passageiro clandestino que se desmarca com facilidade, um furacão de ânimo para tocar a bola como Nelson Freire toca as teclas do piano, um corredor astuto da avenida Marinho Chagas, o pai de treze filhos, um viking libertário, o natalense precoce glorificado como o melhor lateral esquerdo do mundo na Copa de 1974 aos vinte e dois anos de idade. Admiro Marinho porque ele ficou longe da lama. Chiquinho não queria saber de máscara. Jogava limpo, viril, maldoso jamais. Tentando ver o futebol de hoje pela ótica do nosso patrono, a gente corre o risco de desligar rádio, tevê e assinatura de jornal. 
O galego não tinha estômago para firulas como a fitinha 100% Jesus. Cacilda! 100% Sonegação com o vexame de ser acusado de “ladrón” em terras de Espanha. Nosso lateral esquerdo não gostava de histórias atravessadas e de desculpas esfarrapadas tipo “eu não sabia de nada”. O jogo dele era outro. Gostava de pular para cabecear a música, por exemplo. Marinho adorava cantar, gravou dois sucessos: “Eu sou assim” e “Vingança”. Foi um gol de placa: vendeu cem mil cópias e todo o dinheiro que arrecadou doou para as crianças carentes do Rio de Janeiro. O Rio o adorava, falta agora Natal entrar no jogo. Um pouquinho mais de paciência e aposto que loguinho Natal vai dar o exemplo. Vai escantear a hipocrisia e assumir que o seu maior craque teve problemas com a bebida, aliás, a mesma bebida que investe milhões de dólares patrocinando o futebol. Você já imaginou que grande trabalho não poderia fazer uma Fundação de nome Marinho Chagas em termos de tratamento e recuperação de jovens que abraçaram o crak do Mal? Declaro que vou sair por aí espalhando faixas com os dizeres “Marinho Chagas, patrono do futebol potiguar”. Vou deixar uma na Praça da Árvore do Mirassol onde mora a sua escultura de sete metros, obra do artista plástico Guaraci Gabriel, toda em ferro. 
Também vou fixar uma placa no endereço Rua Benjamin Constant, casa número 920, no Alecrim, onde o camisa 6 nasceu no dia oito de fevereiro de cinquenta e dois. É o caso de passar por lá, pois se sobrou algum vestígio dos campos da Saladeira e do Sete Bocas, ficaria bonito entronar o bordão “Marinho Chagas, patrono do futebol potiguar” nos cenários onde criou jogadas de entortar o Messi e o Maradona juntos. E tem mais: ninguém foi mais natalense do que o bruxo loiro. Aqui foi onde tudo começou, depois ele se consagrou lá fora com direito a uma passada pelo jet internacional donde beliscou umas beijocas na Princesa do Reinado de Mônaco, uma tal de Grace Kelly, depois rodou, rodou e um dia voltou para Natal, saudoso de uma prainha boa. O viking, no capítulo revelações amorosas sempre foi muito discreto, porém, certa vez, deixou escapar que teve muito carinho pelas chacretes Fátima Boa Viagem e Regina Polivalente. 
A cidade foi legal com o Chiquinho? Ou lhe virou as costas? Juro, o futuro do nosso futebol, o futuro dos milhares de jovens que amam esse esporte é bem mais importante do que chulas picuinhas. Nosso maior craque, a sua maneira, foi um protagonista da paz. Irreverências à parte, pilequinhos à parte, foi capaz de vestir as duas camisas da histórica e clássica rivalidade potiguar: ele foi da frasqueira no começo da carreira e lavadeira no finzinho dela. Marinho é assim. Vale pelo que fez. Fala pelos seus atos. Palavras, bocas e caretas são mera ventania. Seu futebol-arte ficará para sempre. O galego mora no coração do povo nordestino. São bobos aqueles que pensam que Marinho Chagas é uma sombra sem voz.
Artigo escrito por Marcius Cortez

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