domingo, 14 de outubro de 2018

ELEIÇÕES 2018 >> O RISCO QUE CORRE A DEMOCRACIA: Ninguém poderá dizer que não sabia



Aproxima-se o segundo turno de uma das eleições mais importantes para a historia do país. Nela, pela primeira vez, não vai estar em jogo apenas a escolha de um presidente da República, a escolha de um partido ou de um projeto para governar no país. Nela seremos chamados a decidir se queremos ou não continuar um país democrático, se queremos ou não que haja respeito às diferenças, às minorias, aos direitos fundamentais da pessoa humana. Podemos, dependendo do voto que dermos, ou se nos omitirmos, deixando de ir votar, votando branco ou nulo, estarmos indo votar para eleger alguém que despreza a democracia e, portanto, poderá acabar, inclusive, com futuras eleições. Como aconteceu com os alemães, em 1933, podemos ir às urnas para eleger um ditador e mergulhar, por vontade própria, o país numa ditadura.
Creio que muitos do que votaram domingo passado em Jair Bosonaro partilham de suas ideias: querem uma ditadura, querem matar ou extirpar da sociedade as minorias, quem pensa diferente ou vive diferente de si mesmo, desprezam negros, nordestinos, pobres, homossexuais, feministas, judeus, árabes, indígenas, transexuais. Querem fazer do uso da violência a forma de solução dos conflitos, das diferenças de maneiras de pensar. Que essas pessoas existem e que a eleição de Bolsonaro será uma espécie de licença para matar, violentar, agredir, humilhar aqueles considerados diferentes ou anormais, não tenho nenhuma dúvida. A simples vitória dele em primeiro turno já instalou no país um clima de violência, intimidação e medo. O que mais ouvimos, em todos os lugares, nesses últimos dias é: Bolsonaro vem aí! Com um nítido tom de ameaça. Aqueles que não partilham dessas ideias e votaram em Bolsonaro, se repetirem seu voto, agora no segundo turno, não poderão alegar que não têm ideia do que vai se passar no país em caso de vitória do candidato da extrema-direita.
Em declaração recente na televisão, o capitão disse não ter como controlar seus seguidores. Temos que lembrar, àqueles desmemoriados e que nunca leram história, que as hordas nazistas saíram matando os pretensos inimigos antes mesmo que seu ídolo, seu mito, Hitler, o fizesse ou autorizasse. Em declaração dada frente a uma câmara de televisão, o mito brasileiro disse que se vivesse na Alemanha, naquela época, teria se alistado nessas hordas nazistas. Tudo documentado, dito pelo próprio personagem. Aqui não se trata de fake news, de mentiras tantas vezes repetidas que viram verdades (tática também aprendida com Goebles, o mentor da propaganda nazista), como a do kit gay ou do livro distribuído nas escolas com desenhos de genitálias. Portanto, se quando eleito Bolsonaro não conter seus seguidores mais violentos e eles empreenderem um banho de sangue contra os mais vulneráveis, os eleitores do mito não poderão alegar que não sabiam.
Muitos eleitores tendem, inclusive, a minimizar e colocar no plano do humor ou da brincadeira suas constantes declarações incitando a violência. Primeiro, todo mundo sabe que não se deve brincar com fogo. Mesmo que fosse brincadeira, isso demonstraria ser ele um irresponsável, alguém despreparado para ocupar um cargo de liderança. Um líder deve ter responsabilidade, deve medir o que diz, pois pode desencadear reações coletivas que saiam de seu controle. Se ele sobe em um palanque, empunha uma arma e diz que ela é para metralhar a petralhada do Acre, ele está incentivando que seus partidários persigam e até matem os adversários políticos. Para mim é inimaginável ter na presidência da República, de um país da importância do Brasil, alguém que age irresponsavelmente, alguém que incita constantemente o ódio e a violência. Se ele publicamente lamentou porque a ditadura militar não matou trinta mil pessoas, como podemos duvidar que ele, uma vez no poder, não tente cumprir a meta? Se isso acontecer o sangue desses justos mancharão as mãos e consciências de quem nele votou, pois ele avisou, não podem dizer que não sabiam.
Em todos os momentos ele demonstra ser autoritário e não ter apreço pelas instituições democráticas. Se sessenta e nove porcento dos brasileiros apoiam a democracia, como quase cinquenta porcento votam num candidato que nunca escondeu que não a respeita? Há vinte e cinco anos atrás, Bolsonaro já dizia ao jornal New York Times, que gostaria de ser um ditador. Nunca deixou de elogiar e defender a ditadura militar, nunca deixou de apoiar e justificar os crimes de tortura por ela cometidos. Seu ídolo é o coronel Brilhante Ustra, um torturador sádico que se comprazia em levar crianças para assistir a tortura de suas mães. E é esse o candidato que vai defender as famílias, segundo muitos de seus eleitores. Ele já disse publicamente que fecharia o Congresso Nacional. Quem pode duvidar que, na primeira derrota que tenha no Parlamento, não venha tentar realizar o prometido. Se a democracia for enterrada e vivermos mais anos de obscurantismo, repressão, censura e torturas, não venham dizer que não foram avisados. Quem tiver coragem de entrar na cabine de votação para dar um voto a Bolsonaro, não pode dizer que não aspirava a isso.
O fato de fugir do debate, de não querer se expor ao contraditório de ideias, mostra seu desapreço pelo jogo democrático. Seus eleitores estão dando um tiro no escuro (imagem ideal para o gesto de votar nele) pois não sabem quais as propostas do candidato. Ele fez de toda a campanha uma discussão moral e de valores para esconder dos eleitores suas verdadeiras intenções. Como você pode votar num candidato que não te disse o que pretende fazer com o salário, com o emprego, com a educação, com a previdência, com a saúde, com a política exterior? Nem mesmo na área de segurança pública, onde todos apostam que ele dará um jeito, ele apresentou qualquer proposta clara e consistente, para além de liberar as polícias para matar e distribuir maciçamente armas para a população. Alguém que tem um pingo de noção sabe que isso não é uma política de segurança, mas de aumento da violência, é uma política de extermínio e insegurança pública. Não é novidade, e seus eleitores sabem, Bolsonaro passou 27 anos na Câmara dos Deputados, recebendo dos contribuintes e nunca apresentou qualquer projeto de lei na área da segurança pública. Ele nunca administrou uma rua e agora querem entregar a administração do país a ele. Se ele for um fracasso administrativo, se ele levar a uma matança de pobres e pretos na periferia não venham dizer que não sabiam, sabem todos.
Ele nunca escondeu que é racista, homofóbico, misógino, truculento, mitômano. Que muitos eleitores dele o sufraguem justamente porque partilham desses valores é compreensível. O que não dá para compreender é mulheres votando em quem as despreza, é homossexuais e negros votando em quem os vai massacrar, é judeus e árabes votando em quem os considera párias. Que aqueles que possuem delírios de pertencer a uma raça superior votem em Bolsonaro dá para compreender, embora não dê para aceitar, pois não existem raças humanas, que dirá superiores ou inferiores. Mas como compreender nordestinos, nortistas, todos aqueles considerados de “raça inferior” votando em Bolsonaro? Autoestima baixa, desejo de morte, masoquismo, autopunição?
Mais estranho são aqueles que se dizem cristãos votando em quem professa valores totalmente avessos aqueles defendidos por Cristo. Nas igrejas evangélicas se espalham a mentira e a falácia para justificar esses votos. Chegam a dizer que o mito está ungido e predestinado a salvar o Brasil da corrupção e da barbárie comunista. Ele foi vítima da própria violência que prega e, no entanto, a facada foi usada para se espalhar que ele foi salvo por ter uma missão divina a cumprir. Ele, afinal é o Messias até no nome. Esse tipo de empulhação serve para encobrir tudo o que as pessoas sabem e fingem que não sabem para continuar justificando um voto tão desqualificado.
As pessoas sabem que ele usou verbas da Câmara para fazer suas viagens de pré-campanha, que usou auxílio moradia indevidamente e quando perguntado sobre isso disse que usou o dinheiro para “comer mulheres”. As pessoas sabem que ele fez parte do PP, que foi um dos partidos mais delatados na Lava Jato, mas todos continuam dizendo que ele vai combater a corrupção, quando tem de seu lado inúmeros corruptos denunciados e é financiado por várias empresas envolvidas em casos de corrupção. Ele não é a nação contra a corrupção, pelo contrário, pode atirar o país num regime autoritário e sem transparência onde a corrupção poderá grassar, como ocorreu durante a ditadura militar, que ele endeusa.

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