sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Lazer x Poluição Ambiental

Resíduos - Urbana coleta 37 toneladas de lixo diariamente nas praias urbanas de Natal

De Sérgio Henrique Santos, especial para o Diário de Natal

Durante o verão, aumenta consideravelmente o volume de lixo nas praias da capital potiguar. Isso significa mais trabalho para os 54 garis da prefeitura que atuam na orla. Em todas as praias, a quantidade de resíduos coletados diariamente chega a 37 toneladas. A média da cidade como um todo é de 260 toneladas. Fora do veraneio, especialmente nos meses chuvosos, a média na orla cai para apenas quatro mil quilos. E em dias como hoje, feriado de Santos Reis, quando os meteorologistas prevêem temperaturas de até 30 graus, o fluxo de pessoas nas praias também aumenta. E quanto mais gente, mais lixo. E mais pessoas para deixar tudo limpo.

O maior problema é porque os resíduos gerados durante o lazer de verão prejudicam a imagem das praias, oferecem riscos à saúde dos frequentadores e, em casos mais graves, podem afetar até mesmo o turismo e a economia local. Sem contar com o perigo para os animais, que podem ficar presos ou ingerir resíduos. Para se ter uma ideiada quantidade, a coleta pós-Reveillon, na praia da Redinha, chegou a 100 toneladas. "Infelizmente as pessoas não levam sacolas para colocar lixo. É uma questão de cultura. Todas as praias têm depósitos para coletar lixo. Se cada um fizesse sua parte a situação seria diferente", diz Márcio Ataliba, gerente de operações da Companhia de Serviços Urbanos de Natal (Urbana).


O lixo das praias também traz prejuízos para os cofres públicos. Por dia, a Urbana paga às empresas que coletam o lixo na capital, uma média de R$ 3.800, tendo em vista o preço por tonelada, de R$ 101,31. A conta fica mais robusta no orçamento mensal: R$ 114 mil para limpeza das praias de Natal, dinheiro suficiente para construir ou reformar praças de pequeno porte, como a Santa Mônica, em Lagoa Nova. O dinheiro daria, ainda, para repor todas as pedras de uma praça grande e tradicional, como a Pedro Velho, em Petrópolis (Praça Cívica).

R$ 114 mil também é um dinheiro que poderia ser poupado se cada um fizesse sua parte. "Recursos que certamente seriam melhor aproveitados para fazer uma praça por mês e distribuir pela cidade toda. Isso daria mais qualidade de vida à população, inclusive com o combate ao sedentarismo", ressalta Cláudio Porpino, secretário de Serviços Urbanos (Semsur). Ou fazer iluminação, jardinagem e instalação de academia de ginástica em espaços de lazer como a Alameda Marilene Dantas, no prolongamento da Avenida Alexandrino de Alencar. "A Semsur gastou exatamente R$ 114 mil nessa obra".

Questão de consciência

Segundo Márcio Ataliba, da Urbana, coco e garrafas de vidro deixadas na praia são os fatores que mais contribuem para o aumento do peso do lixo coletado na orla urbana de Natal. "O pessoal também joga muito garrafas PET, plásticos, latinhas de cerveja, refrigerantes, copos descartáveis e comida", diz ele. O esquema de limpeza da prefeitura é dividido em três pontos: praia de Ponta Negra, da praia dos Artistas até a praia do Forte, e na Redinha. A Urbana também mantém 14 coletores, chamados Papa-lixos, para ajudar no recolhimento.

Os garis chegam cedo às praias. Em Ponta Negra, o turno de 20 garis se inicia às 4h da manhã e segue até às 20h. "Cinco horas da tarde Ponta Negra é lotada, e à noite tem muita gente que vai pra praia, muitos turistas estrangeiros que visitam Natal. Precisamos recolher esse lixo", diz Ataliba. No trecho entre a Praia dos Artistas e a Praia do Forte, passando pela Praia do Meio, o expediente dos 22 homens responsáveis pelo trecho inicia às 5h da manhã e prossegue até às 19h. Apenas naRedinha a coleta é feita somente pela manhã, das 5h às 13h. Nesse trecho trabalham 12 garis da prefeitura. "O fluxo é maior pela manhã", justifica o gerente.

Jedenilson Pinheiro Silva, tratorista que trabalha para a Urbana na Redinha, diz que na alta estação o trabalho é redobrado. "Queríamos que as pessoas nos ajudassem, colocando o lixo junto aos quiosques. Os banhistas e donos dos quiosques muitas vezes não se preocupam. Nós devemos nos preocupar com isso. A praia é que deve ser limpa", opinou. Ex-funcionário da Líder, uma das empresas que prestam o serviço pela prefeitura, Antônio Francisco da Silva percorria diariamente o trecho entre Areia Preta e o Forte. Hoje como banhista, ele observa a praia mais suja. "O pessoal joga muito lixo na praia. Acho que depois das demissões aumentou a quantidade de resíduos", observou ele.

A turista Neiva Maia, de Salvador, disse que quando vai à praia leva a sacolinha para juntar todos os resíduos. "Toda praia tem que ser limpa". Maria Zeleide, dona de casa natalense,diz que sempre traz sacolas de plástico para coletar os restos de consumo na praia. "Coco, refrigerante, biscoito. Coloco tudo na bolsa. Terminado o dia, levo para os depósitos", conta. Gabriela Aparecida, estudante paulistana que está de férias em Natal, fala que todas as pessoas deveriam ter mais consciência. "Se cada um ajudar um pouco, já faz diferença. Muita gente acha que jogar em qualquer lugar, por ser só uma pessoa, não faz diferença. É mentira. Mudar o mundo começa com cada um".

Comerciantes reclamam da coleta e ausência de banheiros

No trecho entre a praia do Meio, Forte e Redinha, os comerciantes reclamaram da ausência de garis durante a maior parte do dia. "Se vierem todo dia aqui, todo dia tem lixo", diz o ajudante Leonardo Nascimento. "Os garis saem antes de terminar o horário do expediente, deixam lixo sem coletar", acrescenta o comerciante conhecido como Foguinho, na Praia do Forte. "Aqui só está limpo porque eu limpei", afirmou Orlando Francisco da Silva, noutro trecho da orla, na Praia do Meio. "Além do lixo, há o problema da falta de banheiros químicos. Ai os banhistas usam o calçadão para urinar. O fedor do lixo fica pior ainda", informa o garçom João Santiago.

A prefeitura nega as informações dos comerciantes, alegando que os garis cumprem o horário estabelecido tanto pela Urbana quanto pelas empresas que prestam serviços coletando lixo. "Quem joga mais lixo é o transeunte. Os usuários jogam muito, e os comerciantes poderiam fazer mais, colocando o lixo na hora que a coleta passa, colaborando com o trabalho da Urbana", rebateMárcio Ataliba, gerente de operações da companhia.

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