terça-feira, 20 de agosto de 2013

Diálogos sobre a diversidade

Para o professor de antropologia Luiz Assunção, as obras trazem discussões que objetivam desconstruir o preconceito que existe

País-continente caracterizado pela diversidade cultural, o Brasil é uma grande salada étnica que liquidifica o conjunto de símbolos indígenas com as tradições africanas e os costumes do homem branco europeu. Mesmo após cinco séculos, os ingredientes dessa mistura – vista no exterior como algo exótico – ainda é uma incógnita para a maioria dos tupiniquins, um desconhecimento da própria origem que aflora sob a forma de intolerância e preconceito. Para iluminar os caminhos que revelam a essência desse Brasil tropical, dois livros reúnem uma série de estudos e pesquisas que dialogam com a  temática: “Um Barco: experiências etnográficas e diálogos com as culturas populares” e “Da minha folha: múltiplos olhares sobre as religiões afro-brasileiras”.

Para o professor de antropologia Luiz Assunção, as obras trazem discussões que objetivam desconstruir o preconceito que existe

Os títulos, ambos organizados pelo professor Luiz Assunção, do Departamento de Antropologia da UFRN, serão lançados nesta terça-feira, às 18h, na livraria Cooperativa Cultural, Centro de Convivência da Universidade Federal. Apesar do teor acadêmico do conteúdo, os textos são trabalhados para chegar de forma acessível ao grande público. “São discussões necessárias para desconstruir o preconceito que existe”, adiantou.
Assunção coordena o Grupo de Estudos sobre Culturas Populares, criado há mais de uma década na UFRN, cujos alunos e ex-alunos da base de pesquisa assinam coletivamente “Um Barco...”: “Esse livro reúne os trabalhos mais significativos desenvolvidos nesses treze anos de pesquisas. Os temas são diversos e vão desde a reflexão sobre o fazer teatral presenta no Fandango de Canguaretama até uma análise do conflito que há entre a igreja e os administradores leigos do santuário católico ‘As Covinhas’ em Rodolfo Fernandes. O campo é aberto”, avisa.

Além dos estudos sobre assuntos localizados dentro dos limites geográficos do Rio Grande do Norte, “Um Barco...” também inclui pesquisas sobre temas vindos na bagagem de alunos de Pernambuco, Paraíba, Piauí, Bahia e Ceará que também participam do Grupo de Estudos sobre Culturas Populares coordenado por Luiz Assunção.

Visibilidade afro

Já o livro “Da minha folha: múltiplos olhares sobre as religiões afro-brasileiras” é fruto de cinco anos de trabalho de Luiz Assunção junto a Faculdade de Teologia Umbandista de São Paulo. A compilação de estudos é dedicada, como bem sugere o título, à religião afro, e apresenta a pluralidade desse campo religioso e traz discussões tanto de teólogos como de pesquisadores. “Em geral grande parte das pessoas desconhecem a cultura e as práticas culturais de toda uma população que enfrenta o preconceito por, muitas vezes, defender e preservar costumes e tradições que fizeram e fazem parte da construção do que somos hoje enquanto nação. Gente que enfrenta a falta de oportunidades de trabalho e até a dificuldade de moradia”, destacou o professor.

Para ele, a “não visibilidade” das manifestações afro-brasileiras, a intolerância das instituições e a falta de interesse dos meios de comunicação em esclarecer certos aspectos contribuem para aumentar um preconceito que enfraquece todo um conjunto secular de conhecimento.

Mãe Nem

Como exemplo de auto-exclusão, ocasionado pela intolerância religiosa, algo que beira o inexplicável em um país plural como Brasil, Luiz Assunção lembra que a zona Norte de Natal concentra cerca da metade dos terreiros e centros de Umbanda e Candomblé – movimento ocasionado pela ‘expulsão’ que inviabilizou a continuidade das atividades em outros bairros. “Foram sendo empurrados para a periferia, e hoje também sofrem pressão por lá”.

Ele explicou que em Natal há um predomínio da linhagem Queto, vinda da Bahia, hoje hegemônica sobre a linha Nagô pernambucana: “Não que isso seja bom ou ruim, longe disso, não estamos aqui tratando de comparar uma linhagem com a outra, afinal as duas são fontes para nossas pesquisas. O que buscamos é entender a dinâmica desses movimentos e uma das explicações está no impulso da mídia vinda da Bahia”.

Dentro dessa temática, Luiz Assunção comemora a recente homenagem à Mãe Nem, de 78 anos, entre as pioneiras do Candomblé Nagô em Natal, contemplada com a medalha Deífilo Gurgel do Mérito Cultural oferecida pela Fundação José Augusto. “É importante esse tipo de reconhecimento, independente da linha (se Nagô ou Queto), para a valorização de toda uma população que luta pela manutenção de suas/nossas origens”.

Serviço: Lançamento dos livros “Um Barco: experiências etnográficas e diálogos com as culturas populares” (EDUFRN, R$ 20) e “Da minha folha: múltiplos olhares sobre as religiões afro-brasileiras” (Arché, R$ 30), organizados pelo professor Luiz Assunção. Hoje, às 18h, na livraria Cooperativa Cultural da UFRN.

Fonte: Jornal Tribuna do Norte

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