O
impacto dos pesticidas sobre os ecossistemas já é estudado há muito
tempo, e não são raros os trabalhos científicos que alertam que alguns
tipos de químicos são prejudiciais para a saúde humana e animal. Porém,
nunca antes um grupo de pesquisadores transmitiu tão forte a mensagem de
que o uso de pesticidas está colocando em risco a produção agrícola ao
acabar com espécies essenciais para a produção de alimentos. “A
evidência é clara.
Estamos
testemunhando uma ameaça à produtividade de nossa agricultura e ao meio
ambiente equivalente à que foi provocada pelos organofosfatos (DDT).
Muito longe de proteger a produção de alimentos, o uso de neocotinoides e
do fipronil está ameaçando a própria estrutura que mantém a
agricultura, matando polinizadores e outras espécies essenciais”,
afirmou Jean-Marc Bonmatin, do Centro Nacional para Pesquisas
Científicas da França, um dos autores da análise. Bonmatin e outros 28
pesquisadores de diversas partes do mundo avaliaram mais de 800 estudos
publicados nas últimas duas décadas para buscar entender qual é a visão
da comunidade científica sobre o uso de alguns dos pesticidas mais
populares mundialmente.
O
que observaram é que existem poucas dúvidas de que os neocotinoides e o
fipronil são prejudiciais para uma vasta quantidade de espécies, entre
elas abelhas, borboletas, alguns tipos de minhocas e pássaros.
Entre
os problemas que esses pesticidas causam nos animais estão: perda do
olfato e de memória; redução da fecundidade; alteração no padrão
alimentar e no senso de direção. Nas abelhas, ainda provocam
dificuldades de voo e aumentam a vulnerabilidade a doenças. “Quando os
primeiros estudos apareceram sobre o tema, houve uma forte reação da
indústria química e dos próprios agricultores. Assim, o assunto ficou
esquecido por muito tempo. Hoje estamos vendo uma situação semelhante
aos anos 1950, quando utilizávamos químicos na agricultura que eram
terrivelmente nocivos”, reforçou Dave Goulson, da Universidade de
Sussex.
A
estimativa mais recente aponta que os agricultores gastam anualmente
mais de US$ 2,6 bilhões em neocotinoides. Para piorar, segundo os
pesquisadores, as doses utilizadas desses pesticidas e a sua potência
têm sido aumentadas com o passar dos anos, já que as pestes ficam cada
vez mais resistentes.
“É
semelhante ao que vemos quando um ser humano abusa dos antibióticos
para evitar ficar doente: quanto mais se usa, mais resistentes as
bactérias ficam. É uma loucura o que estamos fazendo, utilizando esses
pesticidas como profiláticos”, disse Goulson.
Fonte: Instituto Carbono Brasil
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