Ensinos técnico e superior avançam no interior, cobrem vazios históricos e se aproximam das demandas locais
Fonte: Jornal Diário de Natal
A história do jovem que deixa o interior para estudar na capital é quase uma regra em qualquer parte do país. Família, amigos e a terra de origem ficam para trás sob a perspectiva de que essa decisão é a única forma de crescer na vida. De fato, as oportunidades de se qualificar - pelo menos a maioria delas - estão concentradas nos centros urbanos mais desenvolvidos. No Rio Grande do Norte, 70% das matrículas em cursos presenciais do ensino superior foram feitas em Natal, enquanto os outros 30% se espalharam por 166 municípios do interior, segundo dados do Censo da Educação Superior 2010.
Os índices mostram o resultado de um histórico crescimento desigual e a criação de vazios socioeconômicos, porém, ao mesmo tempo, apresenta avanços reais quanto à democratização do ensino superior pelo estado. Essa interiorização é fruto tanto do desenvolvimento de alguns municípios que atraíram naturalmente entidades privadas pela demanda de estudantes, quanto pelos esforços de instituições públicas no sentido de avançarem RN adentro. Apesar de representarem apenas 30% do total de matrículas, foram 26.107 alunos matriculados no interior em 2010, mais que o dobro do registrado em 2000. Quando se observa a quantidade de concluintes, o número aumentou quase cinco vezes no período - de 898 para 4.227.
No ano passado novas instituições foram abertas pelo interior, aumentando ainda mais a oferta, e em 2012 a consolidação desse processo ganha novas nuances. Está em fase de discussão e elaboração um projeto de crescimento articulado que norteará a expansão das instituições públicas de ensino superior no RN. Encabeçado pela Universidade Federal (UFRN), o plano envolve ainda o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRN), a Universidade Estadual (UERN), e a Universidade Federal do Semi-Árido (Ufersa).
"A ideia é ter um documento escrito com os projetos de desenvolvimento de cada uma das instituições", conta o pró-reitor de Planejamento da UFRN, João Emanuel Evangelista. A reitora Ângela Maria Paiva Cruz explica que o projeto objetiva o aproveitamento das diferentes potencialidades das universidades e do instituto, otimizando recursos e evitando a superposição. "Não podemos estar nos dando ao luxo de duas instituições oferecerem os mesmos cursos. O desafio é expandir primeiro onde estamos presentes. Outra demanda é expandir para regiões que não chegamos, mas que possamos chegar sem superpor a oferta de IFRN, Ufersa ou UERN", afirma.
Em diagnóstico apresentado por Emanuel Evangelista e pelo pró-reitor adjunto de Planejamento, Jorge Dantas de Melo, ficam claros os vazios educacionais na formação superior. "Se você pega o RN é surpreendente como os governos estaduais não atentaram ainda para a necessidade de ter um plano de desenvolvimento para o estado no lugar que elas nascem", ressalta Evangelista, que relaciona a intensa migração de pessoas como um dos fatores para a piora na qualidade de vida de capitais como Natal.
João Emanuel Evangelista enxerga que a manutenção das pessoas em seuslocais de origem pode ser otimizada com a oferta de oportunidades aos habitantes locais, perspectiva na qual o ensino superior detém um papel importante. Além de minimizar a migração maciça, a presença das instituições no interior do RN abre uma porta para jovens e adultos que por uma diversidade de motivos, como financeiros e familiares, não podiam deixar suas cidades para estudar na capital. Ainda que aos poucos, alguns vão desmistificando a história interiorana de que é preciso sair de casa para vencer na vida.
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