Programa de Saúde Auditiva é desenvolvido junto à Escola Municipal Juvenal Lamartine, em Natal
"A criança é prejudicada por
causa do ambiente auditivo muito hostil". A afirmação é da professora do
Departamento de Fonoaudiologia (DEPFONO) da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), Joseli Soares Brazorotto, e diz respeito aos
vários ambientes em que é exposta, particularmente, ao ambiente escolar.
Para tentar identificar problemas que
atingem as crianças em fase escolar o DEPFONO colocou em prática uma
pesquisa denominada Programa de Saúde Auditiva do Escolar: etapa de
identificação, diagnóstico e acompanhamento, coordenado pela professora
Sheila Andreoli Balen. Segundo ela, como não há um procedimento padrão a
ser aplicado em todo o Brasil, o projeto também objetiva criar um
protocolo eficaz e de fácil aplicação para tal finalidade.
Para tanto, a equipe desenvolveu e
está testando o Sistema de Triagem Auditiva em Crianças (SISTAC), um
programa desenvolvido para Ipad, que permite uma avaliação mais rápida e
com baixo custo. Em geral, os testes de audição são realizados por meio
de audiômetro, equipamento que pode custar até R$ 20 mil a unidade, o
que, segundo os pesquisadores, torna inviável disponibilizar para cada
escola ou grupo de pesquisa.
O professor Selan Rodrigues dos
Santos, do Departamento de Informática e Matemática Aplicada (DIMAP),
coordenador da equipe que desenvolveu o SISTAC, diz que pretende adaptar
a plataforma para que funcione em qualquer tablet e não só no Ipad.
Segundo explicou, se o programa mostrar que é tão eficaz quanto o
audiômetro, os custos serão reduzidos.
O aplicativo desenvolvido pela equipe
de pesquisadores, o SISTAC, permite uma avaliação audiológica nas
crianças da Escola Juvenal Lamartine de forma lúdica e interativa.
Durante o exame, o aplicativo em forma de vídeo conta a história de um
tatu chamado Bolota, sua família e seus amigos. Bolota precisa recolher
pedaços de sua armadura para poder andar no subsolo.
Antes de o tatu seguir seu destino, o
sistema emite pequenos sons, em diferentes frequências, para que a
criança identifique a presença ou ausência deles. Desta forma, todos os
comandos são ativados por ela, tornando o procedimento divertido e mais
parecido com um jogo, com uma brincadeira.
Os resultados obtidos no ano passado
mostram que das 70 crianças avaliadas na escola, 24,28% apresentaram
alterações auditivas. O percentual é quase o dobro da média dos estudos
nacionais, que é de 14%. Segundo a professora Sheila Andreoli, a maior
parte das alterações registradas são decorrentes de infecção no ouvido, o
que poderia ser tratada facilmente, se detectado de forma precoce.
A triagem é aplicada em crianças
assintomáticas e feita de forma a identificar as perdas leves ou
moderadas, pois são mais difíceis de detectar. Teoricamente, as severas e
profundas são identificadas mais rapidamente devido aos sintomas serem
mais visíveis - como falta de atenção e de resposta a estímulos básicos,
como responder quando chamado pelo nome.
Todos os alunos avaliados são
encaminhados para tratamento adequado com profissionais de
Fonoaudiologia e Otorrinolaringologia, de acordo com a necessidade
verificada.
Além da avaliação audiológica realizada
nas crianças, a equipe também analisa as condições ambientais e os
níveis de barulho presente dentro das salas de aula. A estrutura e
localização da escola podem contribuir para o aumento do nível de ruído
interno, interferindo na atenção e na aprendizagem, além de prejudicar a
audição dos alunos e a voz dos professores.
A professora Joseli Brazorotto explica
que todos os fatores ruidosos acarretam um efeito cascata que foge ao
controle. O ambiente desfavorável acusticamente leva o aluno ao stress e
a não prestar atenção, e leva o professor a falar mais alto para se
fazer escutar, o que pode gerar problemas com a voz.
Interdisciplinaridade
A diversidade de abordagens do projeto
Programa de Saúde Auditiva do Escolar implica num trabalho coletivo que
conta com o trabalho e colaboração de pesquisadores e alunos de diversas
áreas. A parceria para desenvolvimento das atividades envolve o
DEPFONO, DIMAP, Programa de Pós-Graduação em Sistema e Computação
(PPGSC), Instituto do Cérebro (ICe) e Departamento de Artes (DEART).
Tudo começa com a análise
sócioeconômica. Para compreender melhor a realidade das crianças e das
famílias que participam do projeto, a equipe aplica um questionário
junto aos pais, onde obtêm informações que vão desde a renda familiar
até a percepção ou não de que a criança apresenta dificuldades
auditivas. Os pais também preenchem uma ficha e assinam um termo de
consentimento, autorizando os filhos a fazerem os testes.
Após o consentimento dos pais, o
primeiro exame realizado nas crianças é a otoscopia. No projeto, a
responsável por realizar esse procedimento é a estudante do 8º período
de Medicina Acynelly Dafne da Silva Nunes. A função desse exame é
verificar o conduto auditivo, avaliando a integridade da membrana e
perviabilidade do canal auditivo. "Hoje, a gente viu uma criança com um
corpo estranho no ouvido. Isso não é coisa que geralmente chega no
hospital pra gente ver, porque isso é resolvido em outros níveis. Então é
sempre uma experiência nova", conclui a estudante.
Acynelly Nunes diz que a experiência de
participar do projeto é muito especial e gratificante, pois além de
contribuir com as pesquisas através do atendimento às crianças, ela pode
crescer em sua formação. "Hoje é muito importante essa questão da
interdisciplinaridade, das diferentes profissões saberem conviver entre
si e cada um respeitar o seu espaço e as suas competências.
Fonte: Jornal Metropolitano com Texto- Ingrid Dantas
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