Thadeu de Sousa Brandão, no Site Carta Potiguar
Cada vez mais, sejam nas redes sociais ou em espaços públicos privilegiados (shoppings ou espaços de lazer mais elitizados), escuto um vociferar raivoso de certas elites contra aquilo que elas denominam de “esmola social”: as várias políticas sociais implementadas nos últimos 16 anos e aprofundadas nos últimos 12 anos, principalmente o “Bolsa Família” e a política de empregabilidade e de valorização do salário mínimo e da massa salarial. Isso, com o crédito mais facilitado, possibilitou a ascensão de uma “nova classe trabalhadora” ou “classe C”, que passou a consumir produtos antes nunca dantes provados. Possuir um carro popular, uma casa própria, eletrodomésticos básicos, poder consumir mais no supermercado, andar de avião, pôr os filhos em uma escola privada. Claro que tudo isso não sendo feito ao mesmo tempo.
O capitalismo tupiniquim, dependente e
claudicante, tomou um certo fôlego. Conseguiu escapar mais ou menos
ileso da crise mundial de 2009. Segue andando ainda.
Qual o nó górdio da raiva das elites
tupiniquins? Inveja? Não. Envolve a sutil luta por reconhecimento
social. Em uma sociedade estratificada como o Brasil, um corpo
substancial de elementos que determinam um certo “comportamento
adequado”, são inculcadas e mantidas entre os estratos sociais
“inferiores”. Quando políticas estatais quebram ou solapam parcialmente
essa construção de “status negativo” o resultado é uma crise no sistema
de reconhecimento. Um propósito fundamental desses elementos é o de
impedir que os indivíduos de status inferior possam adquirir qualquer
sentido de auto-estima que pudesse vir desafiar a autoridade dos grupos
superiores. Do mesmo modo que as antigas normas militares, a etiqueta
das relações entre os grupos serve para traçar a linha entre o
permissível e o proibido, a um ponto bastante aquém do que é
realisticamente perigoso para os grupos dominantes.
Assim, o que ocorreu no Brasil foi essa
ruptura, perigosa no ponto de vista hierárquico, dessas noções de
“subalternidade”. “Como? Pobre agora anda de avião?”; “Minha empregada
tem TV de LCD?”; “O pedreiro tem carro zero?”; e assim por diante.
Sinais indeléveis da hierarquização não mais são monopolizados, levando a
uma ruptura nos padrões de legitimação. A grita vem desta perda de
noção simbólica de status, quando os grupos, antes absolutamente
marginalizados, agora podem possuir sinais de reconhecimento antes
impossíveis.
Estruturalmente, algo mudou? Não. Mas na
seara da luta por reconhecimento e na mudança do velho sistema
hierárquico tupiniquim, começamos a dar os primeiros passos.
_______________SOBRE O AUTOR:
Thadeu de Sousa Brandão é Sociólogo, Doutor em Ciências Sociais, Professor de Sociologia da UFERSA (Universidade Federal Rural do Semiárido) e Consultor de Segurança Pública da OAB/RN-Mossoró
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